Buraco negro mais brilhante do universo “cospe” gás em alta velocidade

Cientistas observaram buraco negro a 12 bilhões de anos-luz que expulsa gás a 10 mil km/s, desafiando teorias da formação dos supermassivos
Ana Luiza Figueiredo28/09/2025 10h55
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Esta ilustração artística mostra o quasar recordista J059-4351, o núcleo brilhante de uma galáxia distante alimentado por um buraco negro supermassivo (Imagem: ESO/M. Kornmesser)
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Um buraco negro localizado a mais de 12 bilhões de anos-luz da Terra surpreendeu astrônomos ao apresentar um comportamento inédito. Conhecido como J0529, o objeto cósmico não apenas devora matéria, mas também a ejeta com força impressionante, desafiando o que se sabia sobre a física desses fenômenos.

A descoberta foi feita pela equipe do professor associado Christian Wolf, da Universidade Nacional da Austrália (ANU), em 2024. Agora, com o uso de equipamentos ópticos avançados do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile, os cientistas puderam analisar o buraco negro em detalhes e constatar que sua intensidade é única no universo conhecido.

Esta imagem mostra a região do céu onde está situado o quasar recordista J0529-4351 (Imagem: ESO/Digitized Sky Survey 2/Dark Energy Survey)

Menor do que se imaginava, mas muito mais ativo

Apesar de ser descrito como o objeto mais luminoso já observado, o buraco negro no centro do quasar J0529 possui massa equivalente a “apenas” um bilhão de sóis. Isso é dez vezes menor do que as estimativas anteriores indicavam.

Segundo Wolf, a discrepância ocorre porque o buraco negro não está apenas absorvendo matéria, mas também expelindo gás em velocidades que chegam a 10 mil quilômetros por segundo — rápidas o bastante para dar uma volta na Terra em menos de cinco minutos. “O intenso brilho está soprando o gás para longe. Este é o objeto mais brilhante do universo que conhecemos”, explicou o pesquisador.

Impacto na origem dos buracos negros supermassivos

Esse comportamento pode ajudar a explicar a origem dos buracos negros supermassivos. Antes, muitos cientistas acreditavam que eles não poderiam se formar apenas a partir do colapso de estrelas. No entanto, o novo estudo sugere que essas estruturas gigantes podem, sim, ter nascido dos restos de astros nos estágios iniciais do universo.

“Enquanto a taxa de crescimento ainda parece rápida demais para ser explicada facilmente, a reavaliação desse objeto e de outros semelhantes aponta para uma solução: os buracos negros supermassivos podem ter surgido do colapso estelar nas primeiras fases do cosmos”, afirmou Wolf.

Ilustração de buraco negro cercado por jato de plasma
Comportamento do J0529 pode ajudar a explicar a origem de buracos negros supermassivos (Imagem: Valentina Kalashnikova/Shutterstock)

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Tecnologia abre caminho para novas descobertas

A pesquisa também foi possível graças ao avanço de técnicas como a interferometria, que combina a luz de múltiplos telescópios para gerar imagens de altíssima resolução. O professor Michael Ireland, também da ANU, destacou que esse método deve revolucionar outros campos de estudo astronômico.

“Minha área de pesquisa é o nascimento de planetas ao redor de estrelas jovens, e a nova tecnologia do ESO trará mudanças profundas. No futuro próximo, nossa própria história de criação ficará ainda mais clara”, disse Ireland.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.

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