As guerras vão muito além das mortes e destruição. São inúmeros os casos de conflitos militares que chegaram ao fim, mas que deixaram como legado quantidades expressivas de bombas não detonadas, gerando danos importantes ao meio ambiente.
Desde o início da invasão da Rússia, em 2022, a Ucrânia se tornou o país mais contaminado por minas terrestres do mundo. Até janeiro do ano passado, estimativas apontavam que eram cerca de 25 mil quilômetros quadrados de terras agrícolas com algum tipo de material explosivo.

Prejuízos para a qualidade do solo
- Em artigo publicado no The Conversation, Sarah Njeri, da Universidade de Londres, e Christina Greene, da Universidade do Arizona, explicam que o custo humano dos resíduos explosivos de guerra é bastante visível.
- Em abril de 2024, por exemplo, o governo ucraniano informou que minas terrestres e outras munições não detonadas foram responsáveis por mais de mil mortes de civis desde o início da invasão russa.
- No entanto, os danos causados à terra são menos aparente.
- Pesquisas no Camboja, que foi bombardeado extensivamente pelos militares dos EUA durante a guerra do Vietnã, entre 1955 e 1975, sugerem que munições não detonadas continuam a prejudicar a produtividade agrícola até hoje.
- Devido aos ricos de explosões, muitos agricultores cambojanos evitam usar tratores e outras técnicas agrícolas que possam aumentar a produção.
- Estudos também mostram que os restos explosivos de guerra afetam a qualidade do solo.
- Bombas não detonadas e minas terrestres podem vazar metais pesados e resíduos tóxicos no solo, poluindo a terra e a água.
- Em casos raros, contaminantes de uma mina terrestre foram detectados a até 6 km de distância do local da explosão inicial.
- Os métodos de limpeza de munições não detonadas também podem contribuir para a degradação da terra.
- Equipamentos pesados de desminagem podem danificar o solo fértil e contribuir para a erosão.
- Além disso, alguns métodos de descarte, como detonações controladas, também podem liberar contaminantes no solo.
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Efeitos das mudanças climáticas
Por outro lado, o problema é acentuado pelas mudanças climáticas, que estão levando à degradação mais acelerada do solo. O aumento das temperaturas e da aridez, bem como a intensificação de fenômenos meteorológicos extremos reduzem a fertilidade dos solos e provocam desertificação. Um cenário que agrava o impacto de minas e bombas não detonadas na terra.
As altas temperaturas das ondas de calor também podem causar a explosão de munições abandonadas. Seis locais de munição diferentes explodiram em todo o Iraque durante os verões escaldantes em 2018 e 2019, quando as temperaturas chegavam regularmente a 45°C. As ondas de calor foram responsabilizadas por uma explosão semelhante de depósito de armas na Jordânia em 2020.
Artigo publicado no The Conversation

Ao mesmo tempo, a presença de resíduos explosivos no ambiente pode dificultar as respostas aos eventos climáticos. No leste da Ucrânia, por exemplo, a forte contaminação das florestas com minas terrestres e armadilhas impediu que as equipes de bombeiros respondessem efetivamente aos incêndios florestais em 2020. Os incêndios danificaram casas e mataram sete pessoas.
Os resíduos explosivos de guerra têm um impacto duradouro, não apenas na vida humana, mas também no meio ambiente. A mudança climática está apenas tornando a ameaça mais imprevisível e difícil de enfrentar. É mais importante do que nunca que as medidas para restaurar terras, combater as mudanças climáticas e gerenciar o impacto de conflitos armados – incluindo resíduos explosivos de guerra – sejam abordadas em conjunto, e não isoladamente.
Artigo publicado no The Conversation