Sora: OpenAI lança nova versão que “ignora” direitos autorais

Fontes internas alegam que startup vai passar a trabalhar com novo "conceito" para utilizar obras protegidas
Rodrigo Mozelli29/09/2025 18h54
OpenAI Sora - modelo de texto para vídeo de inteligência artificial generativa
Editor de vídeos segue como alvo de polêmicas (Imagem: FilipArtLab/Shutterstock)
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A OpenAI se prepara para lançar uma nova versão do gerador de vídeos Sora, que poderá utilizar material protegido por direitos autorais, a menos que os detentores dessas obras solicitem sua exclusão do sistema.

A informação foi revelada por pessoas familiarizadas com o assunto de forma exclusiva ao The Wall Street Journal e marca mais um capítulo na disputa entre empresas de inteligência artificial (IA) e a indústria do entretenimento.

De acordo com as fontes, a startup começou a notificar agências de talentos e estúdios na última semana sobre o funcionamento do produto e o processo de “opt-out“. Isso significa que produtores, artistas e empresas deverão pedir explicitamente que suas criações não sejam incluídas nos vídeos gerados pela ferramenta.

Jason Kwon, diretor de estratégia da OpenAI, afirmou que a política da empresa é tratar “semelhança e direitos autorais de forma distinta”. Assim, enquanto personagens protegidos por copyright estarão sujeitos ao opt-out, figuras públicas reconhecíveis não poderão ser usadas sem autorização prévia.

Logo do OpenAI Sora
Startup defende que estúdios que não queiram que suas criações sejam utilizadas no Sora solicitem a retirada do conteúdo de forma oficial (Imagem: Divulgação/OpenAI)

Pessoas ligadas à companhia também disseram que o novo sistema terá restrições semelhantes às do gerador de imagens lançado em abril, que popularizou memes no estilo do estúdio japonês Studio Ghibli.

Sora e estúdios

  • Alguns estúdios já firmaram acordos com a OpenAI para impedir o uso de seus personagens em criações da empresa;
  • Varun Shetty, vice-presidente de parcerias de mídia da companhia, declarou: “Se houver pessoas que não queiram fazer parte desse ecossistema, podemos trabalhar com elas”, destacando a existência de mecanismos para reportar violações;
  • O Sora foi lançado inicialmente em dezembro de 2024, permitindo a criação de clipes em alta definição a partir de comandos de texto;
  • A atualização do produto chega em momento considerado politicamente delicado para a empresa, que aguarda sinal verde dos procuradores-gerais da Califórnia (EUA) e de Delaware (EUA) para converter sua estrutura em uma companhia de perfil mais próximo ao tradicional modelo com fins lucrativos;
  • Caso não consiga concluir a mudança até o fim do ano, investidores poderão reaver parte dos valores prometidos, segundo revelou anteriormente o Journal.

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Logo da OpenAI em um smartphone que está em cima do teclado de um notebook
Apesar da tensão, alguns estúdios têm acordo firmado com a OpenAI (Imagem: Ascannio/Shutterstock)

Tensão entre indústrias

A relação de Hollywood com empresas de IA tem sido tensa. Criadores pressionam por consentimento e compensação quando suas obras são utilizadas no treinamento de modelos e na geração de novos conteúdos. Dan Neely, CEO da plataforma de licenciamento e proteção Vermillio, comentou: “Para muitos no setor de IA, esse movimento valida medos antigos e ressalta por que precisamos de limites claros.”

No último ano, a OpenAI e o Google pediram ao governo dos Estados Unidos que declarasse o uso de material protegido como “uso justo” para treinar sistemas de IA, o que gerou forte reação em Hollywood.

Mais de 400 atores, diretores, músicos e outros profissionais assinaram uma carta aberta criticando a proposta, argumentando que a liderança dos EUA na tecnologia não deveria ocorrer às custas da indústria criativa.

Donald Trump, atual presidente, por sua vez, afirmou que, assim como uma pessoa pode aprender ao ler um artigo sem infringir direitos, os sistemas de IA também deveriam ter acesso a esse “pool de conhecimento” sem necessidade de negociações contratuais complexas.

Recentemente, juízes deram ganho de causa parcial à Meta e à Anthropic em processos semelhantes, entendendo que o uso de obras protegidas para treinamento de modelos constitui “uso justo” quando o resultado é substancialmente transformado.

Silhuetas de cabeças humanas com logotipos da OpenAI, do ChatGPT e do Google
Startup e Google querem que o governo dos EUA declare o uso de conteúdos protegidos como “uso justo” para treinamento de IAs (Imagem: JRdes/Shutterstock)

Ainda assim, empresas, como Disney e Universal, da Comcast, moveram ações contra a Midjourney em junho, acusando-a de usar seus conteúdos ilegalmente. A startup defende na Justiça que seu uso também está amparado pelo conceito de “uso justo”.

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.