Rios do Ártico estão ficando alaranjados – e o motivo está no gelo

Estudo sueco mostra que o gelo dissolve ferro mais que a água, explicando rios alaranjados e impactos ambientais no Ártico
Por Valdir Antonelli, editado por Layse Ventura 01/10/2025 07h40
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Riacho alaranjado no Ártico, devido à alta concentração de ferro liberado de depósitos congelados. Imagem: Josh Koch/U.S. Geological Survey
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Estudo da Universidade de Umeå, na Suécia, demonstrou que o gelo consegue dissolver minerais de ferro com maior eficácia que a água líquida. A descoberta derruba a crença de que, quando depósitos minerais ricos em ferro ficavam presos no gelo, o ferro permanecia no local.

Isso também ajuda a entender por que rios no Ártico estão se tornando alaranjados devido ao degelo causado pelo aumento da temperatura global. Esses rios ficam com essa coloração devido à alta concentração de ferro liberado de depósitos congelados, o que os torna mais ácidos e com menos oxigênio que outros veios d’água.

Oceano ártico
Segundo o estudo, o congelamento cria bolsas microscópicas de água líquida entre os cristais de gelo, que agem como reatores químicos que ajudam a dissolver o ferro na água. Imagem: juan68/Shutterstock

Gelo está ajudando a liberar mais ferro que o degelo em si

No estudo, explica o New Atlas, o gelo está funcionando como um fator mais importante que o próprio derretimento do permafrost para liberar o ferro armazenado. Os pesquisadores descobriram que o gelo a -10 °C libera mais ferro do que a água líquida a 4 °C.

O congelamento cria bolsas microscópicas de água líquida entre os cristais de gelo, que agem como reatores químicos.

Jean-François Boily, professor da Universidade de Umeå e coautor do estudo, ao New Atlas.

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Cada ciclo de congelamento e descongelamento libera ainda mais ferro na natureza, afetando a qualidade da água e os ecossistemas ao redor. Imagem: Risto Raunio/Shutterstock

Ele explica que, mesmo em temperaturas ainda mais baixas, o gelo reage com os minerais de ferro, dissolvendo-o.

Estudo utilizou um mineral de óxido de ferro chamado goethita

Para entender como funciona o processo, os pesquisadores analisaram a goethita, mineral de óxido de ferro encontrado misturado em solos e sedimentos. Descobriram também que os ciclos de congelamento e descongelamento são ainda mais eficientes para a liberação do ferro, além de perceberem que a água doce e salobra é mais eficaz que a água salgada.

Pesquisadores agora pretendem entender como o impacto da liberação de ferro em ambientes naturais. Imagem: Rixipix/iStock

Cada ciclo de ferro libera ferro do solo e do permafrost para a água, afetando a qualidade da água e os ecossistemas em vastas áreas.

Angelo Pio Sebaaly, doutorando da Universidade de Umeå e coautor do estudo, ao New Atlas.

E, à medida que as temperaturas aumentam, esses ciclos se tornam ainda mais frequentes, explica Sebaaly.

Próximos passos:

  • Investigar o efeito do gelo na dissolução do ferro em diferentes ambientes.
  • Ampliar a compreensão científica sobre como o ferro se comporta fora de contextos ácidos, além das áreas próximas a minas.
  • Avaliar o impacto ambiental desses processos na vida selvagem, especialmente em ecossistemas afetados pelos chamados “rios laranja”.
  • Fornecer subsídios para estratégias de combate aos efeitos da poluição causada pela liberação de ferro em ambientes naturais.

O estudo comprovou que o gelo não é um meio passivo de armazenamento, mas sim um agente ativo, demonstrando como o degelo causado pelo aquecimento global tem impactos significativos no ciclo natural dos elementos.

Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.