Uma imagem profunda do cometa interestelar 3I/ATLAS capturada pelo Espectrógrafo Multiobjeto Gemini (GMOS) no Telescópio Gemini Sul. Crédito: Observatório Internacional Gemini/NOIRLab/NSF/AURA. Processamento de imagens Shadow the Scientist: J. Miller e M. Rodriguez (Observatório Internacional Gemini/NSF NOIRLab), TA Rector (Universidade do Alasca Anchorage/NSF NOIRLab), M. Zamani (NSF NOIRLab)
Um artigo disponível no repositório de pré-impressão arXiv, onde aguarda revisão de pares para validação e publicação, traz as primeiras observações polarimétricas do cometa 3I/ATLAS. Os dados revelam um comportamento inesperado, nunca visto em outros cometas, sejam eles nativos do Sistema Solar ou vindos de fora.
Esse objeto foi detectado em 1º de julho, viajando pelo Sistema Solar a uma velocidade quase duas vezes maior do que os “forasteiros” anteriores, o asteroide ‘Oumuamua e o cometa Borisov. Confirmado como um cometa interestelar logo no dia seguinte, ele chamou atenção por exibir uma coma (ou “cabeleira”) esverdeada, rica em poeira, e por ser muito maior do que os antecessores. Estimativas indicam um núcleo rochoso de 5,6 km de diâmetro e uma massa acima de 33 bilhões de toneladas.
Astrônomos acompanharam o 3I/ATLAS enquanto ele se aproximava do Sol, liberando gases como qualquer outro cometa. No entanto, após uma possível colisão com partículas de uma ejeção de massa coronal, ainda não confirmada, ele desapareceu da vista dos telescópios. Só deverá ser observado novamente no final deste ano, o que torna cada dado coletado até agora extremamente valioso para a ciência.
Além das imagens e análises espectroscópicas que revelaram sua coloração verde e composição química, os pesquisadores recorreram à polarimetria. Essa técnica estuda como a luz, ao ser espalhada por partículas, se organiza em diferentes direções. O processo pode fornecer informações sobre o tamanho, a forma e a orientação dos grãos de poeira que circundam um cometa.
Em termos simples, a luz solar é uma onda composta por campos elétricos e magnéticos que oscilam em direções específicas. Quando essa luz é refletida ou espalhada por partículas, ela pode se polarizar de forma linear, em uma única direção, ou circular, girando em espiral. O grau e o tipo de polarização ajudam a revelar detalhes invisíveis a olho nu sobre os corpos celestes.
No caso do 3I/ATLAS, o que chamou a atenção foi que ele não se encaixa em nenhuma das duas categorias conhecidas de cometas: os de alta e os de baixa polarização. O Hale-Bopp também já havia sido considerado um cometa “fora da curva”, mas por apresentar valores extremamente altos dentro de um padrão já conhecido. Já o visitante interestelar não é apenas um caso extremo. Seu comportamento é inédito, com um tipo de polarização nunca observado antes. Em outras palavras, se Hale-Bopp foi uma exceção às regras, o 3I/ATLAS parece estar criando uma regra nova.
Os cientistas descobriram que esse corpo celeste apresenta um “ramo de polarização negativa” extremamente profundo e estreito. Em outras palavras, a forma como a luz se organiza ao interagir com sua poeira é totalmente distinta da dos cometas já estudados.
Diante disso, os pesquisadores sugerem que o 3I/ATLAS talvez se pareça mais com objetos transnetunianos, que orbitam além de Netuno, ou com centauros, corpos gelados que circulam entre Júpiter e Netuno. Esses objetos distantes compartilham algumas características de cor, inclinação espectral e até indícios de água congelada, o que reforça a semelhança.
Leia mais:
Em um comunicado, os cientistas destacam que os resultados são provisórios, já que faltam dados em ângulos específicos de observação. Novas análises, quando o cometa voltar a ser visível, poderão confirmar se ele realmente pertence a uma categoria inédita ou se apenas apresenta características extremas de fenômenos já conhecidos.
As imagens já feitas mostram a presença de uma coma difusa – a nuvem de poeira e gás que envolve o núcleo –, mas sem detalhes polarimétricos claros em sua estrutura. Mesmo assim, os dados reunidos indicam que o 3I/ATLAS pode representar um novo tipo de cometa interestelar, expandindo o catálogo de corpos que já cruzaram nosso Sistema Solar.
Seja qual for sua natureza, ele reforça como cada visitante interestelar é único. Depois de ‘Oumuamua e Borisov, este terceiro objeto confirma que há uma diversidade impressionante nos corpos que vagam entre as estrelas. E cada aparição traz novas pistas sobre a formação e a evolução dos sistemas planetários, incluindo o nosso.
Esta post foi modificado pela última vez em 1 de outubro de 2025 19:31