Chineses reagem à criação do visto K em resposta aos EUA

Programa facilita entrada de estrangeiros formados nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática mesmo sem oferta de emprego
Por Bruna Barone, editado por Rodrigo Mozelli 01/10/2025 00h30
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Revelado em agosto, visto K começa a vigorar nesta quarta-feira (1) (Imagem: anilbolukbas/iStock)
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A criação de um visto na China para atrair jovens estrangeiros formados nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês) divide opiniões. O novo programa foi revelado em agosto e será lançado oficialmente nesta quarta-feira (1) como uma resposta de Pequim às taxas impostas pelos EUA a aplicantes do visto H-1B.

Na prática, o novo visto chinês simplifica os processos de imigração, desde questões relacionadas à residência até emprego, mesmo que o candidato não tenha uma oferta de trabalho. A elegibilidade dependerá de idade, formação educacional ou experiência profissional, mas os detalhes ainda não foram divulgados.

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Google, Meta, Microsoft e Apple estão entre as empresas que mais contratam trabalhadores com o H-1B (Imagem: Manjurul/iStock)

O protocolo segue um caminho oposto à política protecionista de Washington, que limita a emissão de vistos anuais a 85 mil por meio de um sistema de loteria. Recentemente, o presidente Donald Trump assinou uma ordem para aplicar taxas mínimas de US$ 100 mil (cerca de R$ 532 mil) para novas solicitações, com custos arcados pelo empregador.

Visto K: resistência interna

Na China, mídias sociais foram inundadas por fóruns de discussão sobre o visto K, como mostrou uma reportagem do South China Morning Post. Alguns avaliam que a política favorece injustamente graduados no exterior; outros acreditam que o programa vai criar uma cadeia de fornecimento de agências de visto para facilitar a entrada de estrangeiros.

“Por que os jovens chineses com diplomas de bacharelado têm dificuldade para encontrar bons empregos e são forçados a fazer mestrados, enquanto os estrangeiros com diplomas de bacharelado são considerados ‘talentos tecnológicos‘?”, questionou um usuário do Weibo. “Quanta mão de obra e recursos serão necessários para analisar minuciosamente cada solicitação e garantir que ela seja verdadeira?”, ponderou outro.

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Candidato terá acesso a benefícios mesmo sem oferta de trabalho (Imagem: Ivan-balvan/iStock)

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O que dizem os especialistas

  • A reação demonstra a falta de transparência do governo chinês na elaboração de políticas públicas, disse Alfred Wu, professor associado da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew da Universidade Nacional de Cingapura, em entrevista ao jornal;
  • “As pessoas não têm ideia do que realmente aconteceu. Se o governo puder tornar as políticas muito mais transparentes e, também, divulgar todos os tipos de estatísticas, as pessoas podem ficar menos preocupadas”;
  • Ao mesmo tempo, a introdução do novo visto está alinhada com esforços recentes de Pequim para promover zonas de livre de comércio como parte de um plano de recuperação pós-pandemia no intercâmbio cultural, diz Josef Gregory Mahoney, professor de relações internacionais na East China Normal University em Xangai, à reportagem;
  • Analistas de negócios acreditam que governos locais podem criar benefícios adicionais para tornar o processo ainda mais flexível, como subsídios para startups, moradia subsidiada ou acesso a polos de inovação;
  • Shenzhen, conhecida por trabalhos em hardware, e Hangzhou, por comércio eletrônico e inteligência artificial (IA), devem ser as cidades mais favorecidas pelo novo programa, na avaliação da consultoria asiática Dezan Shira & Associates.

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Conhecida por abrigar empresas de hardware, Shenzen pode se beneficiar do novo processo (Imagem: EyeEm Mobile GmbH/iStock)

É uma mudança necessária à medida que países em todo o mundo competem para atrair profissionais qualificados, avalia Zhou Xinyu, professor especializado em diplomacia pública da Universidade Renmin da China.

“Não fazer isso enfraquecerá a competitividade tecnológica da China e impedirá que suas instituições de pesquisa e empresas aproveitem totalmente seu potencial tecnológico. Gerenciar o impacto na força de trabalho local é uma tarefa conjunta do governo e dos empregadores.”

Bruna Barone
Colaboração para o Olhar Digital

Bruna Barone é formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como editora, repórter e apresentadora na Rádio BandNews FM por 10 anos. Atualmente, é colaboradora no Olhar Digital.

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.