O governo do Reino Unido voltou a pressionar a Apple para acessar dados criptografados do iCloud, revelou o Financial Times nesta quarta-feira (1º). Em setembro, o Ministério do Interior britânico emitiu uma nova ordem secreta na qual exigia que a empresa criasse um mecanismo para autoridades acessarem backups de cidadãos do país.
Em fevereiro, Londres havia feito uma primeira investida que acabou em recuo após pressão dos Estados Unidos. Agora, a ofensiva retorna em moldes diferentes. E o movimento reacende o embate entre privacidade digital e segurança nacional.
Reino Unido pressiona Apple com nova ordem secreta
O novo pedido foi feito pelo Ministério do Interior em setembro, por meio de uma ordem legal chamada technical capability notice (notificação técnica que obriga empresas a permitir acesso a dados).
Em resposta, a empresa afirmou estar “gravemente desapontada” por não poder oferecer no Reino Unido o recurso Advanced Data Protection (ADP). Ele garante criptografia de ponta a ponta e impede até mesmo a própria Apple de acessar os dados.
A primeira ofensiva de Londres, em fevereiro de 2025
Em fevereiro de 2025, o governo britânico emitiu uma ordem inédita que exigia da Apple acesso global a backups criptografados do iCloud.

A medida não se limitava a cidadãos britânicos: poderia atingir qualquer usuário da empresa no mundo, independentemente de sua localização.Como resposta, a Apple foi obrigada a suspender o ADP no Reino Unido.
A decisão gerou forte reação de especialistas. Na época, eles alertaram para um possível efeito cascata, no qual outros países – China e Estados Unidos, por exemplo – exigiriam acesso semelhante.
A vitória da Apple em agosto
Meses depois, a disputa tomou outro rumo com a intervenção dos EUA. Após negociações discretas em Washington, o governo britânico recuou da primeira ordem contra a Apple.
O anúncio foi feito pela diretora de inteligência nacional dos EUA, Tulsi Gabbard. Ela destacou que a medida garantia a preservação de direitos constitucionais e liberdades civis de cidadãos americanos.
O recuo foi interpretado como uma vitória da Apple. A empresa manteve sua postura de rejeitar a criação de “portas dos fundos” em seus sistemas. Isso reforçou sua imagem de defensora da privacidade em meio à pressão de governos.
O retorno da disputa
Porém, a trégua durou pouco. Em setembro, o Ministério do Interior britânico voltou à carga com uma nova ordem secreta, desta vez focada especificamente nos usuários do Reino Unido.

O pedido reacende a pressão sobre a Apple para que desenvolva um sistema que permita às autoridades acessar dados protegidos por criptografia de ponta a ponta.
As autoridades britânicas defendem que o acesso a dados criptografados é essencial para investigações de crimes graves, como terrorismo e exploração infantil.
A empresa, por sua vez, reafirma que nunca criará backdoors em seus serviços. E já contesta judicialmente a legalidade da medida.
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O que está em jogo
Para especialistas em segurança digital e ativistas de privacidade, a criação de um backdoor representa um risco global: uma vez aberta, a brecha poderia ser explorada não só por governos, mas também por agentes mal-intencionados.
Nesse embate, a Apple se vê pressionada a escolher entre manter sua política de proteger a privacidade dos usuários ou atender a uma exigência governamental que poderia minar a confiança na criptografia no mundo todo.
Seja como for, a nova ofensiva mostra que a batalha entre governos e big techs pelo acesso a dados criptografados está longe de ser resolvida.