Tudo indica que exposição do míssil balístico intercontinental (ICBM) chinês Dongfeng-61 (DF-61) pode ter impactado a política de defesa dos Estados Unidos. Após uma parada militar ocorrida na China em setembro, Washington reacendeu o debate sobre a modernização de sua antiga força nuclear terrestre. Alguns especialistas defendem ICBMs móveis, enquanto outros argumentam a favor de novos silos de lançamento fixo.
As forças armadas chinesas exibiram o DF-1 durante a comemoração dos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. O evento simboliza a expansão militar estratégica do governo chinês e sua busca por sistemas de longo alcance.
Nos EUA, o Pentágono enfrenta dificuldades financeiras para seguir com o programa Sentinel: o substituto planejado pela Força Aérea para os mísseis Minuteman III da época da Guerra Fria. Em um comunicado de setembro, o Escritório de Responsabilidade Governamental (GAO, na sigla em inglês) anunciou estar com problemas na transição. O Departamento de Defesa reconheceu também pressões significativas de cronograma e custos.
Especialistas apresentam alternativas móveis para o programa de mísseis
O impasse chamou a atenção de think tanks, ou “laboratórios de ideias” em português. Essas organizações realizam pesquisas e análises sobre políticas públicas e, a partir delas, formulam recomendações baseadas em evidências. Também são normalmente alinhadas a um espectro político em seus conselhos.
Na última segunda-feira (1), a The Heritage Foundation, um think tank de Washington, apresentou seu parecer sobre o caso em um comunicado. O grupo argumentou que há um risco em depender apenas de silos para lançar os misseis, e que lançadores móveis em veículos terrestres seriam uma opção para o Sentinel.
“O relatório do GAO deixa claro que confiar inteiramente no plano atual para ICBMs baseados em silos pode representar graves riscos”, escreveram os analistas. O grupo acredita que uma força mista, com lançadores móveis e fixos, poderia dificultar ataques adversários e diminuir os custos do programa.
Um fator destacado pelos especialistas é a decisão da Força Aérea de que o Sentinel precisará de novos silos. Anteriormente, o plano era reutilizar a infraestrutura do Minuteman, que se mostrou defasada.

Os oficiais anunciaram que essa decisão aumentou em 81% o valor do programa, estimado inicialmente em US$ 78 bilhões (cerca de R$ 416 bilhões). A maioria do custo é para a construção e modernização das instalações de lançamento.
Os analistas acreditam que optar pelos sistemas móveis evitaria a necessidade de construir novos silos, além de tornar os misseis terrestres dos EUA mais difíceis de atingir.
“Ao instalar o Sentinel em lançadores móveis, puxados por caminhões pesados em comboios militares que operam em áreas escassamente povoadas dos EUA, a próxima geração de ICBMs poderia ser implantada de forma mais rápida e barata”, escreveram os profissionais da Heritage Foundation.
O Pentágono pretende manter o projeto de silos
Outros especialistas do think tank apresentaram contra-argumentos. Segundo eles, os sistemas móveis têm desafios como garantir bases seguras, manter a comunicação e o controle e proteger os lançadores de ataques. Esse grupo argumentou que o braço marítimo do programa nuclear, com mísseis balísticos lançados por submarinos, já oferece um serviço móvel.
A Força Aérea informou que o Sentinel pretende sustentar ICBMs até a década de 2070. Para isso, a modernização da infraestrutura de lançamento é necessária.
O Pentágono havia apresentado silos fixos como a maneira mais direta de garantir lançamentos terrestres seguros. Agora, as instituições debatem os custos e a velocidade de aplicação do programa contra a seguridade das operações e a estratégia de longo prazo.