10 mitos sobre a gravidez que você ainda acredita

Veja quais os mitos mais comuns sobre a gravidez e quais hábitos tornam a gestação mais segura para o bebê e para a mamãe
Por Renata Mendes Gonçalves, editado por Wagner Edwards 06/10/2025 06h20
Imagem mostra Grupo de amigas grávidas em estúdio contra um fundo branco
Trocar experiências é bom, mas acreditar em mitos não, as futuras mamães merecem informações baseadas em evidências para uma gestação mais tranquila e consciente (Imagem: PeopleImages / Shutterstock.com)
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Os mitos sobre a gravidez, transmitidos por gerações, criam sombras e inseguranças desnecessárias numa fase que deveria ser de confiança no corpo feminino. Essas crenças, que vão desde a forma da barriga que supostamente indica o sexo do bebê até restrições alimentares infundadas, persistem como verdades absolutas durante a gestação.

Ainda bem que a ciência atual desmistifica essas lendas, revelando a resiliência e inteligência do organismo feminino. Ao invés de meras histórias, é bom compreender biologicamente os mitos mais comuns e demonstrar como o corpo da mulher é mais capaz do que se imagina.

10 mitos sobre a gravidez que você ainda acredita

A gravidez é um período de transformações profundas, cercado por uma aura de “sabedoria popular” que, muitas vezes, gera mais ansiedade do que clareza.

Muitas dessas crenças, repassadas por gerações, não resistem ao crivo da ciência moderna. Com base em evidências científicas e explicações fisiológicas detalhadas, desvendamos 10 dos mitos mais persistentes sobre a gestação.

 1. “Grávida não pode tomar vacina”

Imagem mostra grávida tomando vacina
O ideal é ter o calendário vacinal completo antes da gravidez e sempre consultar o obstetra antes de se vacinar para avaliar e indicar as vacinas adequadas (Imagem: CDC / Unsplash)

Este é um dos mitos mais perigosos. De acordo com a SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), vacinas inativadas (especialmente a da gripe, da difteria, tétano e coqueluche) são não apenas seguras, mas altamente recomendadas durante a gravidez.

O sistema imunológico da gestante é perfeitamente capaz de gerar uma resposta robusta aos antígenos vacinais. O verdadeiro milagre acontece a seguir: os anticorpos do tipo IgG, produzidos pela mãe, atravessam ativamente a placenta através de receptores específicos (FcRn) e transferem imunidade para o bebê. Isso protege o recém-nascido nos primeiros meses de vida, quando seu sistema imunológico ainda é imaturo.

A vacina contra a coqueluche (dTpa), por exemplo, administrada no terceiro trimestre, tem como objetivo principal proteger o bebê até que ele possa receber sua própria vacina. O corpo não rejeita a vacina, ele a usa para construir uma ponte de proteção para duas vidas.

No entanto, a menos que o benefício supere o risco (como em casos de surtos), grávidas não devem ser vacinadas com vírus ou bactérias vivos e atenuados. Isso inclui as vacinas contra sarampo, caxumba, rubéola (tríplice viral) e febre amarela. Para mais informações sobre vacinação, consulte o site do Ministério da Saúde.

2. “Gestante não pode ter relações sexuais”

Imagem mostra momento de intimidade entre casal, com homem beijando a testa da mulher grávida e com as mãos na barriga dela
O sexo durante a gravidez ajuda a manter a conexão física e emocional, alivia o estresse, melhora o bem-estar e aumenta a intimidade (Imagem: NDAB Creativity / Shutterstock.com)

Em uma gestação normal e de baixo risco, a atividade sexual é segura e não alcança nem machuca o bebê. Inclusive, pode trazer benefícios ao casal porque reforçam os laços físicos e emocionais do casal.

A biologia explica que o feto está extraordinariamente bem protegido por um sistema de amortecimento de múltiplas camadas. Ele flutua no líquido amniótico, que age como um amortecedor de impactos.

Esse líquido está contido no saco amniótico, uma membrana resistente e flexível. A entrada para este “santuário” é guardada pelo colo do útero, que permanece firme, fechado e selado por uma rolha de muco espessa (o tampão mucoso). 

Além disso, potentes músculos uterinos envolvem todo o ambiente. O pênis não tem proximidade física com o feto durante a relação. As contrações uterinas do orgasmo são diferentes das contrações de trabalho de parto e não são capazes de desencadeá-lo prematuramente em gestações sem complicações.

E quando o sexo pode ser contraindicado? Segundo a FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), a atividade sexual pode ser restrita em casos de complicações médicas, como sangramentos, placenta prévia, risco de parto prematuro ou rompimento da bolsa. Nestas situações, o médico poderá contraindicá-la.

3. “É perigoso dormir de barriga para cima no final da gravidez”

Foto de grávida deitada de barriga para cima na cama
A posição de barriga para cima pressiona a veia cava inferior, que transporta sangue dos membros inferiores para o coração (Imagem: Lifehdfilm / Shutterstock.com)

Aqui temos um mito com fundamento científico. A ideia não é um simples “faz mal”, mas sim uma questão de otimização do fluxo sanguíneo. O risco existe, mas é específico e evitável, longe de ser um perigo iminente e constante como o mito sugere.

A partir do segundo trimestre, especialmente após as 24 semanas, o útero em crescimento pode, de fato, comprimir a veia cava inferior, o principal vaso que retorna o sangue das partes inferiores do corpo ao coração.

Essa compressão pode reduzir o débito cardíaco (o volume de sangue que o coração bombeia por minuto), levando à Síndrome da Hipotensão Supina. Isso pode causar tonturas e mal-estar na mãe e, em teoria, reduzir o fluxo sanguíneo útero-placentário.

Sendo assim, o contexto transforma o mito em verdade relativa. Se a veia cava estiver sendo significativamente comprimida, o corpo da mulher quase sempre acorda ou se mexe durante o sono para mudar de posição. É um mecanismo de proteção automático.

O problema não é “dormir de barriga para cima”, mas permanecer nessa posição por longos períodos sem se mexer. Virar de lado, mesmo que parcialmente, já alivia a pressão. Portanto, é uma recomendação e não uma proibição.

A orientação das entidades médicas é para que a gestante prefira dormir de lado (especialmente o esquerdo), pois esta é a posição ideal para a circulação. No entanto, se ela acordar de barriga para cima, não precisa entrar em pânico, basta rolar para o lado e seguir dormindo.

 4. “Grávida não pode beber café”

Imagem mostra corpo de grávida deitada na cama com um donut em cima da barriga e segurando uma xícara de café
A recomendação não é de abstinência de café, mas de consumo consciente e moderado (Imagem: Fallon Michael / Unsplash)

Nesse caso, é um mito com ressalvas: o recomendável não é a proibição total, apenas fazer um consumo moderado.

A cafeína é uma molécula pequena que cruza a placenta livremente através de transportadores de membrana. O problema está na farmacocinética, entenda: o feto e a placenta têm uma capacidade muito limitada de metabolizar a cafeína, pois o sistema enzimático (citocromo P450) ainda é imaturo. Isso significa que a cafeína permanece no organismo do bebê por muito mais tempo do que no corpo da mãe.

De acordo com The American College of Obstetricians and Gynecologists, o consumo excessivo (geralmente definido como acima de 200-300 mg por dia) tem sido associado a um maior risco de restrição de crescimento fetal e baixo peso ao nascer.

No entanto, uma ou duas xícaras pequenas de café por dia, mantendo-se dentro do limite seguro, são consideradas aceitáveis. O corpo da mãe processa quantidades modestas sem prejudicar o bebê.

 5. “É normal ter sangramento na gravidez”

Uma mulher grávida segura um absorvente higiênico nas mãos
Embora algumas mulheres tenham sangramento leve sem complicações, qualquer perda de sangue requer avaliação médica imediata (Imagem: Zhuravlev Andrey / Shutterstock.com)

Esse é um mito perigoso. Qualquer sangramento durante a gestação deve ser investigado e nunca considerado “normal”. O útero grávido é um ambiente de intensa vascularização para sustentar a placenta e o feto. Sangramentos em diferentes fases sinalizam problemas distintos:

  • Primeiro trimestre: pode indicar ameaça de aborto (quando o corpo sinaliza uma possível interrupção) ou uma perigosa gravidez ectópica (quando o embrião se implanta fora do útero, uma emergência médica);
  • Segundo e terceiro trimestres: pode estar relacionado a placenta prévia (quando a placenta cobre o colo do útero) ou descolamento prematuro de placenta (quando a placenta se separa da parede uterina), ambas condições graves que comprometem o aporte de oxigênio e nutrientes para o bebê. Um pequeno sangramento após a relação sexual pode ocorrer por trauma no colo do útero, muito vascularizado, mas mesmo assim deve ser comunicado ao médico.
    (Fonte: Journal of Midwifery & Women’s Health – Abordagem do sangramento no 1º trimestre)

6. “Grávida não pode pintar o cabelo”

Grávida em lavatório de salão de cabeleireiro
Deve-se preferir produtos sem amônia, formol ou outros metais pesados, que são considerados prejudiciais (Imagem: Poppy Pix / Shutterstock.com)

O risco de as químicas das tinturas causarem malformações no feto é considerado extremamente baixo, conforme artigo publicado pela National Health Service (NHS), do Reino Unido. A pele do couro cabeludo é uma barreira eficiente contra a absorção de substâncias.

As moléculas dos corantes modernos são relativamente grandes, e a quantidade que de fato é absorvida e atinge a corrente sanguínea é mínima, sendo rapidamente metabolizada e excretada pelo fígado e rins da mãe.

Para colocar em perspectiva, a dose sistêmica é insignificante quando comparada à exposição ambiental do dia a dia. Estudos epidemiológicos amplos não conseguiram estabelecer uma ligação consistente entre o uso de tinturas para cabelo durante a gravidez e defeitos congênitos.

Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), para maior tranquilidade, recomenda-se esperar até após o primeiro trimestre (período crítico da organogênese) e garantir uma boa ventilação no local.

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7. “Azia significa que o bebê vai nascer cabeludo”

Grávida sentindo mal-estar (azia) ao olhar para prato de comida (macarrão e molho)
A ideia de que a azia na gravidez está relacionada à quantidade de cabelo do bebê é um mito popular sem fundamento científico. (Imagem: New Africa / Shutterstock.com)

Esta é uma correlação folclórica e encantadora, mas sem mecanismo biológico que a sustente. A azia na gravidez tem duas causas fisiológicas principais, nenhuma delas relacionada aos cabelos do bebê:

  • Ação hormonal: o hormônio progesterona, vital para manter a gravidez, relaxa toda a musculatura lisa do corpo. Isso inclui o esfíncter esofágico inferior, uma “válvula” que impede o conteúdo ácido do estômago de voltar para o esôfago. Quando relaxada, essa válvula fica incompetente, permitindo o refluxo.
  • Pressão mecânica: o útero em crescimento comprime o estômago, forçando fisicamente seu conteúdo para cima. Um pequeno estudo da Universidade Johns Hopkins até encontrou uma associação estatística, mas os pesquisadores foram os primeiros a afirmar que se tratava provavelmente de uma ligação casual, sem causalidade. A azia é um sintoma gastrointestinal, não um indicador de características fetais.

8. “Grávida não pode fazer exercício físico”

Grávida praticando atividade física, sentada em bola de pilates e com halteres nas mãos
Grávidas podem e devem praticar atividade física, especialmente se já tinham o hábito antes, com a orientação de um profissional de saúde (Imagem: New Africa / Shutterstock.com)

Desde que a gestação seja de baixo risco e com autorização médica, a atividade física é benéfica e recomendada.O corpo da gestante passa por adaptações cardiovasculares e musculoesqueléticas que se beneficiam enormemente do exercício.

A prática regular de atividade física:

  • Melhora a circulação útero-placentária, garantindo um melhor aporte de oxigênio e nutrientes para o bebê.
  • Fortalece a musculatura do assoalho pélvico e abdominal, preparando o corpo para o trabalho de parto.
  • Ajuda a controlar o ganho de peso e reduz o risco de complicações como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia.
  • Promove a liberação de endorfinas, melhorando o humor e a qualidade do sono.
    The American College of Obstetricians and Gynecologists recomenda pelo menos 150 minutos de atividade aeróbica de intensidade moderada por semana para gestantes saudáveis. O corpo não é uma estrutura frágil, ele se fortalece e se adapta com o movimento.

9. “O formato da barriga indica o sexo do bebê”

Barriga de grávida com post-its de ponto de interrogação colados
Você pode até tentar adivinhar por diversão, mas o formato da barriga durante a gravidez é ditado exclusivamente por características anatômicas e individuais da mulher
(Imagem: Elizaveta Galitckaia / Shutterstock.com)

A forma da barriga é um dos palpites mais clássicos, mas não tem qualquer relação científica com o sexo do feto. O formato do abdômen na gravidez é determinado por fatores puramente anatômicos e individuais da mulher:

  • Tônus muscular: mulheres com músculos abdominais mais firmes podem ter uma barriga mais “pontuda”, enquanto aquelas com tônus mais frouxo podem ter uma barriga mais arredondada.
  • Posição do útero: um útero naturalmente antevertido (inclinado para frente) pode projetar a barriga de forma diferente de um útero retrovertido (inclinado para trás).
  • Quantidade de líquido amniótico: volumes maiores podem dar uma aparência mais arredondada e distendida.
  • Biotipo materno e posição do bebê: a altura da mulher, o formato de sua pelve e a posição que o bebê adota (pélvica, cefálica, transversal) são os verdadeiros responsáveis pela silhueta. Um estudo publicado no British Medical Journal analisou as previsões de parteiras e concluiu que a forma da barriga tinha uma taxa de acerto de cerca de 50% – o equivalente a chutar cara ou coroa.

10. “É perigoso levantar os braços acima da cabeça”

Grávida praticando yoga com os braços levantados
É possível que o cordão umbilical se enrole no pescoço do bebê, mas isso é uma ocorrência que não tem relação com os movimentos dos braços da mãe (Imagem: Prathankarnpap / Shutterstock.com)

Acredita-se que este gesto possa enroscar o cordão umbilical no pescoço do bebê, mas isso é anatomicamente impossível. O cordão umbilical é uma estrutura dinâmica e robusta. Ele é composto por três vasos sanguíneos (duas artérias e uma veia) envoltos por uma substância gelatinosa e protetora chamada Gelatina de Wharton.

Essa gelatina torna o cordão resistente à compressão e a nós, permitindo que ele se mova livremente no líquido amniótico.

O que causa o cordão umbilical ao redor do pescoço (nuca) são os movimentos ativos e aleatórios do próprio bebê dentro do útero, que são completamente independentes dos movimentos dos braços da mãe. Levantar os braços para pendurar uma roupa ou se espreguiçar não exerce qualquer tração ou influência mecânica sobre o útero ou o feto.

Em vez de se guiar por mitos, busque sempre informações embasadas na ciência e mantenha um diálogo aberto com seu médico. Conhecer o funcionamento do seu próprio corpo é a melhor forma de garantir uma gestação mais tranquila e segura.

Renata Mendes Gonçalves
Colaboração para o Olhar Digital

Renata Mendes é jornalista formada pela FIAM. Há 20 anos atua na área de Comunicação, desde os tempos da máquina de escrever até às plataformas digitais. Atualmente é colaboradora do Olhar Digital.

Wagner Edwards
Editor(a) SEO

Wagner Edwards é Bacharel em Jornalismo e atua como Analista de SEO e de Conteúdo no Olhar Digital. Possui experiência, também, na redação, edição e produção de textos para notícias e reportagens.