França: Apple é investigada por gravar conversas usando a Siri

Caso foi aberto após denúncia de ex-funcionário que analisou gravações com objetivo de aprimorar respostas da assistente pessoal
Por Bruna Barone, editado por Bruno Capozzi 07/10/2025 06h51
siri
Investigação quer saber quantas pessoas teriam sido afetadas por supostas gravações (Imagem: Koshiro K/Shutterstock)
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A Apple será investigada pelo Ministério Público de Paris por supostamente coletar gravações indevidamente por meio da assistente de voz Siri. O caso foi aberto após uma denúncia feita pela ONG francesa Ligue des droits de l’Homme, que se baseou no depoimento de um  ex-funcionário de um subcontratado da Apple, Thomas Le Bonniec. As informações são do jornal POLITICO.

Le Bonniec trabalhou na Globe Technical Services, na Irlanda, em 2019. Ele ouviu milhares de gravações de voz feitas pela Siri, incluindo momentos íntimos e informações confidenciais. O objetivo, segundo o denunciante, era melhorar a qualidade de resposta da assistente da Apple.

Liderada pela agência de crimes cibernéticos do país, OFAC, a investigação vai buscar respostas para “questões urgentes”, disse Le Bonniec, incluindo informações sobre o total de gravações realizadas desde 2014, quantas pessoas foram afetadas e onde os dados são armazenados.

Logo da Apple em uma fachada
Caso semelhante foi encerrado nos EUA após acordo em ação coletiva (Imagem: Paolo Bona/Shutterstock)

Queixa antiga

No passado, o ex-funcionário levou o caso a outras autoridades de proteção de dados, incluindo a Comissão Nacional de Tecnologia da Informação e Liberdades Civis da França e a Comissão de Proteção de Dados (DPC) sediada na Irlanda argumentando que a prática violava o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) da União Europeia. No entanto, a DPC encerrou o caso em 2022 sem nem mesmo abrir uma investigação.

Le Bonniec decidiu recorrer aos promotores franceses com ajuda da ONG em fevereiro deste ano. “Após a investigação judicial, os usuários da Siri desde 2019 que desejarem poderão se juntar a este julgamento para fazer valer seus direitos, não apenas em termos de proteção de dados pessoais, mas também no que diz respeito a violações de privacidade”, diz um comunicado da entidade publicado em maio.

A ação tem como base um caso semelhante nos Estados Unidos, onde a Apple foi acusada de gravar conversas privadas sem o conhecimento dos consumidores também através da Siri. Em 2024, a empresa aceitou encerrar a ação coletiva mediante o pagamento de US$ 95 milhões para clientes que adquiriram produtos da marca entre 17 de setembro de 2014 e 31 de dezembro de 2024 (cerca de US$ 20 por dispositivo), mas negou qualquer irregularidade. 

Logo da Siri em um smartphone
Denunciante acusa Apple de violar Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) da União Europeia (Imagem: T. Schneider/Shutterstock)

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O que diz a Apple

Ao POLITICO, um representante da Apple na França disse que a gigante da tecnologia “nunca usou dados da Siri para criar perfis de marketing, nunca os disponibilizou para publicidade e nunca os vendeu a ninguém por qualquer motivo”.

Em um post publicado em janeiro, a big tech explicou que a Siri foi projetada para realizar o máximo de processamento possível diretamente no dispositivo do usuário, permitindo experiências personalizadas sem a necessidade de transferir e analisar informações pessoais nos servidores da Apple.

“Por exemplo, quando um usuário solicita à Siri que leia mensagens não lidas ou quando a Siri fornece sugestões por meio de widgets e da busca Siri, o processamento é feito no dispositivo do usuário. O conteúdo das mensagens não é transmitido aos servidores da Apple, pois isso não é necessário para atender à solicitação.”

apple siri
Apple diz que Siri foi projetada para atender usuários sem depender de transferência de arquivos para servidores da empresa (Imagem: Kaspars Grinvalds/Shutterstock)

No entanto, a empresa ponderou que não armazenaria “gravações de áudio das interações com a Siri, a menos que os usuários optem explicitamente por ajudar a melhorar a Siri e, mesmo assim, as gravações são usadas exclusivamente para esse fim”. 

Bruna Barone
Colaboração para o Olhar Digital

Bruna Barone é formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como editora, repórter e apresentadora na Rádio BandNews FM por 10 anos. Atualmente, é colaboradora no Olhar Digital.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.