Lula irá à inauguração da fábrica da BYD na Bahia; relembre a obra

Evento marca o início da produção brasileira de veículos da montadora chinesa em terreno antes utilizado pela Ford, em Camaçari
Por Bruna Barone, editado por Bruno Capozzi 08/10/2025 05h31
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Robôs cuidam de tarefas como instalação de vidros e fixação de baterias na nova fábrica (Imagem: BYD/Divulgação)
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O presidente Lula participará da cerimônia de inauguração da fábrica da BYD Brasil em Camaçari, na Bahia, nesta quinta-feira (9). O evento marca o início da produção brasileira de veículos da montadora chinesa em uma área que faz parte do terreno antes utilizado pela Ford, com investimentos de R$ 5,5 bilhões nas obras.

Também participa do encontro o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o presidente da BYD, Wang Chuanfu, e o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues. Na avaliação do governo, a fábrica consolida o Brasil como polo estratégico da companhia na América Latina

“Essa conquista é boa para a economia, para o comércio, para o emprego, para a renda e para o desenvolvimento tecnológico do nosso estado. Ficamos tristes com a saída da Ford, mas trabalhamos duro — e hoje a Bahia abriga a principal montadora de carros elétricos e híbridos do mundo”, disse Rui Costa em uma rede social.

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Em julho deste ano, a montadora apresentou o primeiro BYD Dolphin Mini 100% brasileiro (Imagem: BYD/Divulgação)

A cerimônia ocorre na mesma semana em que a montadora ultrapassou a marca de 172 mil unidades vendidas no Brasil desde 2022. Em setembro, a BYD garantiu a sétima posição no ranking geral de vendas e 5,56% de participação de mercado, como informou o Olhar Digital, reforçando o interesse crescente do brasileiro em carros elétricos e híbridos plug-in.

Por dentro da fábrica

Com início em março de 2024, as obras se estenderam por uma área de 4,6 milhões de metros quadrados (o equivalente a 645 campos de futebol), adquirida do governo da Bahia por R$ 287,8 milhões. Nesta primeira etapa, a capacidade anual será de 150 mil veículos, com expansão planejada para 300 mil na segunda fase.

Segundo a BYD, o complexo abriga uma das linhas de montagens mais modernas do mundo, com tecnologia de última geração, automação inteligente e controle de todas as fases da produção. Robôs cuidam de tarefas como instalação de vidros e fixação de baterias, enquanto um sistema de sequenciamento inteligente prioriza a produção dos modelos com maior demanda — tudo em um ambiente de fricção silenciosa, que mantém os níveis de ruído abaixo de 70 decibéis.

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Complexo em Camaçari também vai produzir modelo nacional do Song Pro (Imagem: BYD/Divulgação)

Em julho deste ano, a montadora apresentou o primeiro BYD Dolphin Mini 100% brasileiro. “Não há nenhum veículo, elétrico ou a combustão, na categoria de compactos ou subcompactos, dentro desta faixa de preço, que apresente um pacote tão completo quando o BYD Dolphin Mini”, informou a empresa, que também produzirá modelos nacionais do Song Pro e King em Camaçari.

“A chegada da BYD ao país sacudiu o mercado automobilístico e impulsiona uma transformação: moderniza a frota, gera mais empregos, estimula a inovação e amplia a demanda por profissionais qualificados”, avalia o ministro Rui Costa. “Já são 1.500 pessoas empregadas e, até o final do próximo ano, chegaremos ao número previsto de 20 mil trabalhadores diretos e indiretos.”

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Trajetória polêmica

Neste ano, a construção da fábrica entrou na mira do Ministério do Trabalho e Emprego após uma investigação descobrir que a montadora chinesa teve responsabilidade direta na vinda irregular de 471 trabalhadores chineses ao Brasil para atuar nas obras, incluindo 163 resgatados em condições análogas à de escravidão.

Os trabalhadores foram submetidos a condições de vida e trabalho extremamente precárias. Dormiam em camas sem colchões e não dispunham de armários, sendo obrigados a manter seus pertences misturados a ferramentas de trabalho e alimentos, tanto crus quanto cozidos. Em um dos alojamentos, havia apenas um banheiro disponível para cada 31 pessoas, segundo o governo.

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163 trabalhadores foram resgatados em condições análogas à de escravidão (Imagem MPT/Divulgação)

Briga de gigantes

A expansão da BYD também incomodou marcas automotivas que há anos atuam no mercado brasileiro. A empresa chinesa tem conseguido praticar valores competitivos em parte pelo seu método de fabricação, com uso de peças pré-fabricadas na China a custos mais baixos — uma prática que coloca em risco a produção nacional, na avaliação da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), que pressionou por intervenção do governo.

Em julho, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços decidiu antecipar para janeiro de 2027 a cobrança de imposto de importação de 35% para veículos elétricos e híbridos, ante julho de 2028, atendendo um pedido da Anfavea. Na ocasião, a BYD divulgou uma carta provocando as concorrentes: “se os dinossauros estão gritando, é sinal de que o meteoro está funcionando.”

A cobrança do imposto levou a montadora chinesa a lançar uma campanha com o objetivo de alcançar mais de 50% de nacionalização de partes e peças até 2027. A fábrica tem selecionado fornecedores brasileiros para desenvolver uma cadeia local de suprimentos para o complexo em Camaçari. Até lá, a linha de montagem vai operar no sistema SKD (Semi Knocked-Down).

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Representantes da BYD, Sindipeças e Abipeças discutem nacionalização das peças da BYD (Imagem: BYD/Divulgação)

“A BYD sempre teve em seu planejamento a fabricação completa dos carros no Brasil e é natural a busca por fornecedores de peças tanto na Bahia como em outros estados. A BYD é do Brasil e nossa cadeia será formada por brasileiros”, disse Alexandre Baldy, Vice-Presidente Sênior e Head Comercial e de Marketing da BYD Auto Brasil.

Bruna Barone
Colaboração para o Olhar Digital

Bruna Barone é formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como editora, repórter e apresentadora na Rádio BandNews FM por 10 anos. Atualmente, é colaboradora no Olhar Digital.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.