A passagem do Dia das Crianças me fez lembrar de uma história inspiradora — uma que fala de curiosidade, de encantamento e de como um simples gesto pode mudar o destino de alguém. É a história de um garoto que, como todas as crianças, vivia cercado de perguntas: por que as unhas crescem? Do que são feitas as nuvens? Como a galinha faz um ovo? Mas um dia, aos cinco anos de idade, ele fez uma pergunta que seus pais não souberam responder: “O que são as estrelas?”
Aquela simples pergunta mudaria o rumo de sua vida. O nome desse menino era Carl Sagan, e ele cresceria para se tornar um dos maiores astrônomos e divulgadores da ciência do nosso tempo. Tudo começou com a curiosidade de uma criança — e com pais que, mesmo sem saber as respostas, mostraram a ele o caminho para encontrá-las.
Carl Edward Sagan nasceu em 1934, no bairro do Brooklyn, em Nova York, em uma família simples, mas repleta de afeto. Seu pai, Samuel, era operário têxtil; sua mãe, Rachel, dona de casa — ambos judeus, filhos de imigrantes. Viviam modestamente, mas com muito amor, e com a consciência do poder transformador da educação e da curiosidade de uma criança.

Numa noite fria, olhando para o céu da janela do apartamento e, curioso com aquelas luzes distantes, o pequeno Carl perguntou: “O que são as estrelas?” Seus pais não souberam responder. Nem os vizinhos, nem os amigos da família. Nem mesmo a professora. Foi então que seus pais decidiram levá-lo à biblioteca pública de Nova York — um gesto simples, mas uma faísca que acendeu a chama que iluminaria o resto da sua vida.
De início, a bibliotecária não entendeu bem o interesse de Sagan e lhe trouxe um livro sobre estrelas do cinema. Carl riu, mas não desistiu. E logo encontrou o que procurava: livros sobre astronomia, o Sistema Solar, os planetas e o Universo.
Entre as silenciosas prateleiras, o menino aprendeu que as estrelas eram sóis, só que muito distantes e que o Sol era uma estrela, só que muito mais próxima. E aprendeu também que não é preciso saber todas as respostas, basta querer procurá-las.
Carl passou a visitar a biblioteca com frequência. As ilustrações dos planetas, os diagramas dos eclipses e as descrições das estrelas o deixavam maravilhado. Ele descobriu que a Terra era apenas um pequeno ponto azul perdido no vasto oceano cósmico, e que cada estrela do céu poderia ter seus próprios mundos e histórias. Aquelas páginas acenderam nele algo que jamais se apagaria: o espanto diante da vastidão do Universo — e a vontade de compreendê-lo.
Em 1939, ainda com cinco anos, Sagan visitou com seus pais a Feira Mundial de Nova York. Lá, conheceu a ideia de um futuro movido pela ciência — cidades modernas, viagens espaciais e viu uma cápsula do tempo ser enterrada com mensagens para as gerações futuras. Décadas mais tarde, inspirado por aquela lembrança de infância, Sagan criaria sua própria cápsula do tempo — não para ser enterrada, mas para viajar entre as estrelas.

Na adolescência, Carl construía modelos de foguetes e lia tudo o que encontrava sobre astronomia, física e química. Ele sonhava em explorar outros mundos — e, principalmente, em entendê-los. Deixou de buscar apenas “o que eram as estrelas” para se perguntar “o que somos nós” e “qual é o nosso papel nesse imenso palco cósmico”.
Carl Sagan se formou em Física e tornou-se doutor em astronomia e astrofísica. Ajudou a decifrar a atmosfera de Vênus, estudou as luas de Júpiter e Saturno e foi um dos primeiros a defender a busca por vida fora da Terra. Na NASA, trabalhou em algumas das missões mais importantes da história: a Mariner, a Viking, as Pioneer e as Voyager. Foi o responsável por incluir mensagens interestelares nas placas das Pioneer 10 e 11, e nos discos dourados nas Voyager 1 e 2. Essas foram as cápsulas do tempo de Sagan, com mensagens da humanidade, enviadas para o Cosmos. A criança que queria saber o que eram as estrelas, quando adulto, quis falar com elas.
E isso não apenas por placas e discos, mas também pelas ondas de rádio. Sagan foi um dos grandes apoiadores do projeto SETI, de busca vida inteligente fora da Terra através de radiotelescópios. Ele ajudou a modelar as mensagens enviadas para as estrelas, de forma que pudessem ser decifradas por possíveis civilizações alienígenas.

Mas talvez seu maior legado não tenha sido apenas o científico, e sim o humano. Em 1980, ele criou e apresentou a série “Cosmos: Uma Viagem Pessoal”, que encantou milhões de pessoas ao redor do mundo — incluindo a mim e muitos outros que, diante da tela, descobrimos que ciência não precisa ser séria e carrancuda, ela também pode ser bela, poética e inspiradora. Com sua voz calma e olhar sereno, Sagan transformou equações em histórias ricas e telescópios em janelas para um Universo acolhedor, cheio de beleza e mistério.
E mesmo depois de se tornar um dos cientistas mais respeitados do planeta, ele continuava a ter prazer em falar de astronomia com as crianças. Dizia que nelas residia o verdadeiro espírito da ciência: a curiosidade sem medo e a capacidade de se maravilhar. Ele reconhecia em seus olhares o mesmo fascínio que lhe arrebatara quando criança, ao descobrir o universo nos livros da Biblioteca de Nova York.

Quando Carl Sagan faleceu, em 1996, aos 62 anos, deixou muito mais que livros e descobertas: deixou uma herança de pensamento, uma cultura de admiração pelo Universo e de responsabilidade pelo pequeno mundo que habitamos. Continuava, até o fim, sendo o mesmo menino que olhava fascinado para o céu querendo aprender mais sobre as estrelas.
Sua experiência lhe ensinou que a curiosidade de uma criança pode ser a faísca que mantém acesa a chama do conhecimento, capaz de iluminar o futuro da humanidade. Talvez por isso, uma das mensagens gravadas nos discos dourados das sondas Voyager é uma saudação em nome das crianças da Terra, enviada por um garotinho de seis anos: Nick Sagan, filho de Carl. Uma bela homenagem de um pai que dedicou a vida a ensinar o Universo, a um filho cuja voz foi enviada para as estrelas.

Com sua história, Carl Sagan inspira pais, mães, professores e a todos nós a nunca deixarmos a curiosidade de uma criança sem respostas. E quando mostramos aos nossos pequenos os caminhos para buscar essas respostas, eles podem, um dia, alcançar as estrelas!