“Satélite Zumbi” enviou sinais após quase meio século

Lançado nos anos 1960, o satélite LES-1 estava "morto" segundo cientistas, mas um astrônomo amador descobriu o contrário.
Por Samuel Amaral, editado por Lucas Soares 14/10/2025 19h03
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Engenheiros trabalhando no LES-1. Satélite falhou em sua missão, mas voltou à vida. (Imagem: Lincoln Laboratory)
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50 anos após o lançamento, a Força Aérea dos Estados Unidos não esperava receber informações do satélite LES-1. Porém, um radioastrônomo amador em Cornwall, no Reino Unido, captou sinais vindo dessa tecnologia dos anos 1960, um verdadeiro “satélite zumbi”.

Essa história começa em 1965, quando a Força Aérea dos EUA, em parceria com o Laboratório Lincoln do MIT, lançou dois Lincoln Experimental Satellites (LES) para a órbita da Terra. Chamados de LES-1 e LES-2, eles foram os primeiros satélites de super-alta frequência, capazes de operar na faixa de 3 a 30 gigahertz (GHz) para transmitir dados e sinais.

Os LES integraram as primeiras tecnologias de comunicação via satélite. (Imagem: Lincoln Laboratory)

O objetivo era que essas tecnologias servissem a fins de comunicação militar. No entanto, LES-1 não concluiu sua missão: devido a uma falha nos fios, ele nunca saiu de órbita circular e parou de transmitir em 1967. LES-2 teve um desempenho melhor e atingiu sua órbita final em maio de 1965.

Após décadas, ambos continuam ao redor da Terra. O LES-1, no entanto, era considerado mais um exemplo de lixo espacial.

Mas em 2013, o satélite “morto” deu indícios de vida. O radioastrônomo amador Phil Williams captou um sinal de satélite que oscilava em ciclos de quatro segundos. Willians concluiu que essa informação só poderia vir do LES-1, que tombava a cada quatro segundos, com os motores bloqueado os painéis solares.

Causa do renascimento do satélite é um mistério

Após a repercussão do ocorrido, uma equipe do Laboratório Lincoln investigou o caso. Os pesquisadores montaram um sistema para registrar os sinais do satélite toda vez que ele sobrevoasse o campus do MIT.

“O LES-1 é um dos satélites mais antigos no espaço e faz parte do legado do Laboratório Lincoln em SATCOM (comunicações via satélite), então vê-lo ainda transmitindo depois de todos esses anos é extraordinário”, disse Navid Yazdani, líder do Grupo de Sistemas e Operações SATCOM Avançados do Laboratório, em um comunicado.

Confira os sinais do “satélite zumbi” no vídeo abaixo:

A causa do “modo zumbi” do satélite continua um mistério. Para a equipe, é possível que o LES-1 tenha sofrido um curto-circuito devido à degradação de suas baterias ao longo do tempo, o que permitiu que a energia de suas células solares chegasse diretamente ao transmissor. Segundo os pesquisadores, mesmo sem a resposta definitiva, não há o que se preocupar.

“O LES-1 introduziu diversas tecnologias e técnicas de SATCOM inovadoras para a época, e as lições aprendidas durante o lançamento e os testes do LES-1 permitiram que os engenheiros refinassem o projeto de satélites experimentais subsequentes, que abriram caminho para futuros sistemas militares e civis”, concluiu a equipe do Laboratório Lincoln.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.