Vestígios da Terra Primitiva revelam segredo de 4,5 bilhões de anos

Geólogos descobriram sinais químicos raros que datam dos primórdios de nosso planeta, há 4,5 bilhões de anos
Por Samuel Amaral, editado por Lucas Soares 15/10/2025 15h18, atualizada em 15/10/2025 15h51
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Pesquisadores acreditavam que a composição química da Terra ancestral havia sido apagada. No entanto, um grupo de geólogos afirma ter encontrado amostras raras desse período. (Imagem: Tim Bertelink / Wikimedia Commons)
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Cientistas descobriram resquícios químicos raros da “proto-Terra” — o estágio primitivo de nosso planeta, ocorrido há 4,5 bilhões de anos. A descoberta foi publicada na revista científica Nature Geoscience na última terça-feira (14).

O evento conhecido como “Grande Impacto” marca a transição entre a Terra primitiva e o planeta que conhecemos hoje. Na colisão, um corpo celeste do tamanho de Marte, chamado Theia, colidiu com a Terra, provocando a fusão e a mistura da maior parte dos seus materiais.

Ilustração da Terra Primitiva, um estágio em que o planeta estava imerso em caos, com erupções vulcanicas e uma atmosfera densa de gases tóxicos. (Imagem: MIT News / iStock)

Pesquisadores acreditavam que esse choque teria apagado toda a química dos estágios iniciais da história geológica. Porém, o novo estudo questionou essa ideia.

“Esta é talvez a primeira evidência direta de que preservamos os materiais da proto-Terra. Vemos um pedaço da Terra muito antiga, mesmo antes do impacto. Isso é incrível, porque esperaríamos que essa assinatura tão ancestral fosse lentamente apagada ao longo da evolução de nosso planeta”, disse Nicole Nie, membro do estudo e professora de Ciências da Terra e Planetárias no MIT, em um comunicado.

Rochas antigas guardam a história dos primórdios da Terra

Os pesquisadores analisaram rochas com mais de 4 bilhões de anos encontradas na Groenlândia, Canada e em vulcões do Havaí. A equipe descobriu uma assinatura química única nessas amostras: um sútil desequilíbrio nos isótopos de potássio, marcado por um déficit de potássio-40, diferente das proporções encontradas na maioria do planeta atualmente.

A partir de simulações de computador, com impactos planetários e mistura de processos geológicos, o estudou revelou que o Grande Impacto pode ter produzido a escassez de potássio-40. Os modelos também mostraram que a mistura dos materiais geraria uma composição ligeiramente mais rica nesse isótopo, uma característica que corresponde à maioria das rochas encontradas atualmente na Terra.

Os geólogos concluíram que partes da proto-Terra permanecem intocadas nas profundezas de nosso planeta. Porém, a existência de alguns meteoritos pode questionar essa hipótese.

Fragmento de rocha com cerca de 4 bilhões de anos do complexo de Gnaisse de Acasta, no Canadá. (Imagem: Pedroalexandrade/Wikimedia Commons)

Meteoritos com potássio são uma alternativa

O grupo de cientistas conferiu se a proporção do isótopo de potássio poderia ter origem em meteoritos que atingiram a Terra há bilhões de anos. As análises revelaram que a assinatura química nas rochas estudadas não corresponde a nenhum meteorito conhecido nas coleções geológicas atuais.

No entanto, o inventário de rochas espaciais está incompleto. Para o grupo, isso indica que são necessários mais estudos de materiais ancestrais para se entender se a composição encontrada é da proto-Terra.

“Os cientistas têm tentado entender a composição química original da Terra combinando as composições de diferentes grupos de meteoritos. Mas nosso estudo mostra que o inventário atual de meteoritos não está completo e que há muito mais a aprender sobre a origem do nosso planeta”, concluiu a professora.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.