Astrônomos encontram um “monstro fora do lugar” devorando uma estrela 

Pela primeira vez, um evento de destruição estelar por um buraco negro foi detectado longe do centro de uma galáxia
Lucas Soares16/10/2025 14h39
buraco negro
Interpretação artística de dois buracos negros massivos (MBHs) dentro de uma galáxia (Imagem: NSF/AUI/NSF NRAO/P.Vosteen)
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Uma equipe internacional de astrônomos fez uma descoberta que está forçando a comunidade científica a repensar onde os buracos negros supermassivos residem e como se comportam. Pela primeira vez, foi observado um evento de ruptura de maré (TDE, na sigla em inglês) – o dramático processo de destruição de uma estrela por um buraco negro – ocorrendo não no centro de uma galáxia, mas em suas regiões periféricas.

Este evento, batizado de AT 2024tvd, também produziu os sinais de rádio mais fortes e de evolução mais rápida já detectados em um TDE, apontando para mecanismos físicos até então desconhecidos.

A pesquisa publicada no The Astrophysical Journal foi liderada pelo Dr. Itai Sfaradi e pela Profa. Raffaella Margutti da Universidade da Califórnia, Berkeley, e com participação de cientistas de todo o mundo, incluindo o Prof. Assaf Horesh do Instituto de Física Racah da Universidade Hebraica de Jerusalém, revela que buracos negros supermassivos podem não apenas existir, mas também permanecer ativos longe dos núcleos galácticos, onde se acreditava que eles residissem quase exclusivamente.

O Prof. Horesh explicou em comunicado que a comunidade astronômica sempre procurou por TDEs no centro das galáxias. Encontrar um evento como esse tão longe do núcleo, portanto, é uma surpresa que redefine a compreensão sobre onde esses buracos negros “monstros” podem se esconder.

Imagem: Merlin74/ Shutterstock

Um buraco negro longe de casa

Um TDE ocorre quando uma estrela desavisada se aventura muito perto de um buraco negro, sendo desintegrada pela imensa força gravitacional. O que torna o AT 2024tvd excepcional é a localização do buraco negro responsável: a aproximadamente 2.600 anos-luz do centro de sua galáxia hospedeira. Esta distância significativa oferece a primeira evidência observacional direta de que buracos negros supermassivos podem, de fato, “vagar” ou se formar em regiões inesperadas do cosmos.

“Isso é realmente extraordinário”, afirmou o Dr. Itai Sfaradi, autor principal do estudo. “Nunca antes vimos uma emissão de rádio tão brilhante de um buraco negro destruindo uma estrela, afastando-se do centro de uma galáxia e evoluindo tão rápido. Isso muda a forma como pensamos sobre buracos negros e seu comportamento.”

Primeira foto de um buraco negro na história: o centro da galáxia Messier 87, capturado em 2019 pelo Event Horizon Telescope. (Imagem: EHT Collaboration)

Sinais de rádio reveladores e ejeções tardias

A descoberta foi possível graças a uma campanha de observação que utilizou alguns dos radiotelescópios mais poderosos do mundo, como o Very Large Array (VLA) e o ALMA. As observações de rádio, em particular, foram cruciais. A equipe da Universidade Hebraica liderou as análises com o Arcminute Microkelvin Imager Large Array (AMI-LA) no Reino Unido, que capturou a evolução excepcionalmente rápida do sinal.

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Os dados revelaram duas erupções distintas de rádio que evoluíram mais rapidamente do que qualquer TDE já documentado. Esta característica única indica que o buraco negro ejetou poderosos fluxos de material não imediatamente após a destruição da estrela, mas sim meses depois.

Isso indica uma evidência clara de que buracos negros podem “despertar” de forma episódica após períodos de inatividade, ejetando material em fases.

Esta descoberta sugere que os processos que governam como um buraco negro consome e depois expele os restos de uma estrela são mais complexos e demorados do que se entendia anteriormente.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.