Criaturas bizarras, incluindo parasita “pipoca”, são descobertas nos oceanos

Lista do projeto Ocean Species Discoveries representa passo em iniciativa global para acelerar identificação e descrição de formas de vida marinha ainda desconhecidas
Rodrigo Mozelli16/10/2025 21h39
Nova espécie de verme poliqueta marinho chamado Spinther bohnorum (esquerda) e nova espécie de crustáceo, Apotectonia senckenbergae
Nova espécie de verme poliqueta marinho chamado Spinther bohnorum (esquerda) e nova espécie de crustáceo, Apotectonia senckenbergae, descoberta em banco de mexilhões nas fontes hidrotermais do Rift de Galápagos (direita) (Imagem: Senckenberg Ocean Species Alliance)
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Parasitas que lembram pipocas, crustáceos translúcidos e vermes incomuns estão entre as 14 novas espécies recentemente descobertas nos oceanos do planeta.

A lista, divulgada por pesquisadores do projeto Ocean Species Discoveries, representa mais um passo em uma iniciativa global para acelerar a identificação e descrição de formas de vida marinha ainda desconhecidas.

Laevidentalium wiesei (esquerda), Metharpinia hirsuta (canto superior direito) e Myonera aleutiana (canto inferior direito)
Laevidentalium wiesei (esquerda), Metharpinia hirsuta (canto superior direito) e Myonera aleutiana (canto inferior direito) (Imagem: Senckenberg Ocean Species Alliance)

Os cientistas estimam que existam cerca de dois milhões de espécies marinhas vivas, embora apenas uma pequena fração delas tenha sido oficialmente nomeada e descrita.

O novo projeto busca reduzir essa lacuna por meio da publicação de descrições concisas e de alta qualidade das novas espécies. “Nossa visão compartilhada é tornar a taxonomia mais rápida, eficiente, acessível e visível”, afirmam os autores do estudo, publicado no Biodiversity Data Journal.

Coleção de novas espécies que vivem nos oceanos

  • Esta é a segunda grande coleção de descobertas do grupo, que, agora, inclui duas novas gêneras entre as 14 espécies descritas. Elas foram encontradas em diferentes regiões do mundo e em profundidades impressionantes;
  • A mais profunda delas é o molusco Veleropilina gretchenae, recuperado na Fossa das Aleutas, a 6.465 metros de profundidade;
  • Outro molusco, o bivalve Myonera aleutiana, foi encontrado próximo às Ilhas Aleutas, a 5.280 metros, cerca de 800 metros mais fundo do que qualquer outro membro já conhecido de seu gênero;
  • Entre os crustáceos, o destaque é Apotectonia senckenbergae, localizado em um campo de fontes hidrotermais na Dorsal de Galápagos, a 2.602 metros de profundidade;
  • Já a espécie talvez mais curiosa é o isópode parasita Zeaione everta, cujas fêmeas apresentam saliências nas costas que lembram pipocas estouradas. O nome do novo gênero, Zeaione, faz referência ao gênero de plantas Zea (que inclui o milho) e à semelhança visual. O animal foi encontrado na zona entre marés da Austrália e também representa um novo gênero.

Visão dorsal e ventral do animal, com segmentos numerados e cirros caudais visíveis. Detalhes das cerdas com pontas bifurcadas, gancho composto e oócitos. Imagem de microscopia mostra a probóscide e estruturas internas. Barras de escala: 250–25 µm
Visão dorsal e ventral do animal, com segmentos numerados e cirros caudais visíveis. Detalhes das cerdas com pontas bifurcadas, gancho composto e oócitos. Imagem de microscopia mostra a probóscide e estruturas internas. Barras de escala: 250–25 µm (Imagem: Senckenberg Ocean Species Alliance)

Outro caso notável é o do molusco Laevidentalium wiesei, conhecido como “tusk shell” ou concha em forma de presa, encontrado a mais de cinco mil metros de profundidade. Os cientistas observaram que ele abrigava uma anêmona-do-mar presa à parte externa de sua concha – a primeira vez que esse tipo de relação simbiótica é registrada nesse gênero.

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Ainda falta muito

De acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, dos EUA (NOAA, na sigla em inglês), cerca de 91% das espécies oceânicas ainda não foram classificadas e mais de 80% do oceano permanece inexplorado. Estima-se que apenas 0,001% do assoalho marinho tenha sido diretamente observado. Mesmo diante desse vasto desconhecimento, iniciativas, como o Ocean Species Discoveries estão ajudando a revelar, pouco a pouco, o que existe nas profundezas do nosso próprio planeta.

Valvas I, II e VIII em vista geral e detalhes da superfície tegumentar da valva II. Parte central da rádula em destaque. Barras de escala: 2 mm, 500 µm e 200 µm
Valvas I, II e VIII em vista geral e detalhes da superfície tegumentar da valva II. Parte central da rádula em destaque. Barras de escala: 2 mm, 500 µm e 200 µm (Imagem: Senckenberg Ocean Species Alliance)

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.