Graças a um implante cerebral pioneiro, um homem tetraplégico voltou a ser capaz de sentir e usar objetos – com as mãos de outra pessoa. Keith Thomas, que ficou paralisado em 2020, recebeu o implante de inteligência artificial em 2023, e os resultados do dispositivo foram descritos recentemente em um estudo pré-publicado no medRxiv.
Entenda:
- Um implante cerebral pioneiro permite controlar as mãos de outra pessoa;
- O experimento envolveu um homem tetraplégico e uma mulher com medula espinhal parcialmente danificada;
- O homem havia recebido o implante – que combina IA e eletrodos não-invasivos – em 2023, e já havia recuperado parcialmente o movimento e a sensibilidade das mãos e braços um ano depois;
- No novo experimento, os dois pacientes foram conectados com eletrodos e sensores de força, e o homem conseguiu pegar e sentir a textura de objetos pelas mãos da mulher.

Thomas lesionou a medula ao mergulhar em uma piscina, ficando incapacitado de se mover ou sentir qualquer coisa do peito para baixo. O implante cerebral, desenvolvido por pesquisadores do Feinstein Institutes for Medical Research, nos EUA, o conecta a uma espécie de “avatar humano” que pode ser controlado remotamente.
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Implante cerebral usa IA para reconectar cérebro à medula

Em um comunicado de julho de 2023, após a cirurgia de 15 horas de Keith, a equipe do Feinstein Institutes explicou que o implante combina eletrodos não-invasivos e algoritmos de IA para formar uma “ponte eletrônica” que reconecta o cérebro ao corpo e à medula espinhal. Um ano depois, o paciente já podia usar o braço e as mãos para pegar objetos e sentir texturas, como o pelo de seu cachorro.
“Quando o participante do estudo pensa em mover o braço ou a mão, nós ‘turbinamos’ sua medula espinhal e estimulamos seu cérebro e músculos para ajudar a reconstruir conexões, fornecer feedback sensorial e promover a recuperação”, disse Chad Bouton, pesquisador principal do ensaio. “Esse tipo de terapia orientada pelo pensamento é um divisor de águas”, completou.
Paciente conseguiu controlar as mãos de outra pessoa
Agora, no novo estudo, a equipe conta que o implante cerebral de Thomas também permitiu que ele controlasse o movimento das mãos de uma mulher de 60 anos com uma medula espinhal parcialmente danificada.

Os dois foram vendados e, usando eletrodos e sensores de força conectados à mulher, Keith não só conseguiu pegar garrafas de água e latas, mas também beber dos recipientes e diferenciá-los com base na textura.
A expectativa é de que o experimento ajude a motivar pacientes com lesões na medula em reabilitação. “Ambos os participantes valorizaram a natureza colaborativa da interação e o senso compartilhado de realização”, escrevem os pesquisadores, com Thomas afirmando que o experimento “lhe deu um senso de propósito: ‘Fiquei mais satisfeito [porque] estava ajudando alguém na vida real… em vez de apenas um computador’.”