É isso mesmo que você leu no título e na linha fina desta reportagem. Pesquisadores desenvolveram uma bioimpressora, cujo formato é o de uma pílula, que contém tinta “viva” e é capaz de reparar danos internos em nosso corpo após ser engolida. Quando ela faz o que precisa fazer, é atraída para fora com um ímã.
A pílula — cujo nome correto é Sistema de Deposição Endoluminal Magnética (MEDS, na sigla em inglês) — foi concebida no Laboratório de Tecnologias Avançadas de Fabricação da École Polytechnique Féderale de Lausanne (EPFL), na França. A pequena impressora foi inspirada em outras tecnologias chamadas de “untethered” (sem amarras) que também seguem em desenvolvimento.

Nessa categoria, lembra o IFLScience, podemos citar robôs microscópicos que podem ser ajustados para limpeza de vasos sanguíneos, bem como as “câmeras em pílula“, capazes de captar imagens do intestino sem precisar estarem acopladas a um endoscópio.
Em comunicado, o chefe do laboratório francês, Vivek Subramanian, afirmou que, “ao combinar os princípios das bioimpressoras in-situ com os conceitos de liberação de medicamentos das cápsulas inteligentes, podemos imaginar uma nova classe de dispositivo: uma bioimpressora do tamanho de uma pílula, que pode ser engolida”.
Onde a bioimpressora pode ser usada e como funciona a tecnologia?
- Os pesquisadores dizem que a bioimpressora pode ser útil para reparar lesões em tecidos moles no trato gastrointestinal;
- Hoje, por exemplo, problemas, como úlceras e hemorragias, precisam ser mitigadas de forma cirúrgica. Com a pílula, isso se torna um procedimento não invasivo;
- Já a bioimpressão se assemelha à impressão 3D e à convencional, exceto por um detalhe: a “tinta” utilizada é um material biocompatível que atua como estrutura para formação de novos tecidos;
- A miniaturização dessa tecnologia a torna única e os autores do projeto afirmam que ela é mais parecida com uma caneta esferográfica do que com uma impressora, que possui um reservatório para biotinta e mecanismo de mola que a envia rumo ao local lesionado.
A biotinta pode ser injetada sobre a região-alvo como uma espécie de curativo, de modo que protege o tecido lesionado e auxilia na cicatrização. Mas isso só é possível se ela entrar em contato com as paredes do trato gastrointestinal no local correto. Contudo, isso é difícil de fazer, algo que também acontece com outros dispositivos similares.

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Acompanhando a execução da tarefa
A pílula não possui componentes eletrônicos. Assim que é ingerida, as etapas que ela segue para curar o tecido ferido podem ser acompanhadas externamente, o que permite aos cirurgiões ou cientistas usar um laser infravermelho para forçar a liberação da biotinta. Esse laser é capaz de penetrar o corpo sem causar danos.
Para direcionar a cápsula, os pesquisadores usam um ímã externo preso a um braço robótico. Dessa forma, é possível removê-la ao guiá-la no sentido inverso até que possa ser expelida oralmente.
Comprovando a eficácia
Para testar se o sistema realmente funciona, a equipe fez experimentos in vitro e obteve sucesso na reparação de úlceras gástricas simuladas e em uma hemorragia.
A etapa seguinte foi o teste em corpos de verdade, mas não humanos. Os experimentos foram realizados em coelhos e mostraram como a biotinta poderia ser expelida e, a pílula, controlada da forma esperada por seus criadores.

O primeiro autor do projeto e aluno de doutorado Sanjay Manoharan explicou as conclusões que a equipe obteve com o uso do dispositivo. “Em nossos experimentos controlados de laboratório, nossa biotinta carregada de células manteve sua integridade estrutural por mais de 16 dias, sugerindo seu potencial como um ‘microbiorreator’ que pode liberar fatores de crescimento e recrutar novas células para a cicatrização de feridas”, disse.
Apesar dos primeiros resultados serem promissores, são necessários mais estudos e a equipe de pesquisadores deseja experimentar a tecnologia em outros tecidos, tais como vasos sanguíneos e o peritôneo, que reveste nosso abdômen.
O artigo com as conclusões do processo, bem como suas etapas, foi publicado na Advanced Science.