Conforme reportado pelo Olhar Digital, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) alertou o governo federal sobre os riscos da concentração de data centers em grandes cidades brasileiras, como São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Fortaleza (CE).
O presidente do conselho diretor da autarquia, Carlos Baigorri, defendeu que a dispersão dessas instalações pelo território é essencial para garantir mais segurança ao sistema de dados do país e minimizar vulnerabilidades em casos de incidentes.
Baigorri afirmou que a Anatel tem dialogado com o Ministério das Comunicações em busca de estratégias para desconcentrar os data centers das grandes cidades.

A concentração dos data centers em poucas cidades no Brasil
Baigorri explicou, à Reuters, que a concentração da infraestrutura em poucas cidades, como em São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, aumenta a vulnerabilidade do sistema. Ele fez uma analogia:
Quando você coloca todos os ovos numa mesma cesta e tem um problema, isso tem uma repercussão muito grande para todo o país.
Carlos Baigorri, presidente do conselho diretor da Anatel
No caso de incidentes, como terremotos ou apagões, isso se torna preocupante na gestão de riscos e coloca em xeque a infraestrutura digital do país.
Baigorri ainda explicou que a localização atual dos data centers está ligada à infraestrutura de cabos submarinos, o que acaba concentrando atividades em algumas regiões. Nesse caso, Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro se destacam. Fatores econômicos, como concentração de poder econômico, e infraestrutura, como a rede de cabos submarinos que chegam à Fortaleza, também interferem nessa decisão.

Em busca da desconcentração
Baigorri também defendeu que a desconcentração das instalações de dados pode contribuir para ampliar a conectividade nacional e fortalecer a soberania digital.
Segundo ele, a Anatel está em contato com o Ministério das Comunicações para traçar estratégias que promovam a diversificação e a desconcentração.
Ao Olhar Digital, a agência deu mais detalhes sobre esse planejamento:
Considerando a importância estratégica de infraestruturas digitais como cabos submarinos e data centers, a Anatel tem dialogado junto com o Ministério das Comunicações e o Governo Federal no sentido de, numa perspectiva de gestão de riscos, diversificar a disposição geográfica dessas infraestruturas, hoje bastante concentradas nas grandes cidades brasileiras, especialmente Rio de Janeiro, São Paulo e Fortaleza. E essa diversificação geográfica tem justamente o objetivo de reduzir riscos. A Anatel entende que esse deve ser um elemento a ser considerado na política nacional de data centers e na política nacional de cabos submarinos.
Anatel, em nota ao Olhar Digital

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A reportagem entrou em contato com o Ministério das Comunicações – segue declaração na íntegra:
O Ministério das Comunicações está atuando ativamente no fortalecimento da infraestrutura digital do país. Para tanto, o MCom está elaborando a Fase 2 da Política Nacional de Data Centers, voltada ao eixo de Conectividade e Infraestrutura, da qual um dos principais objetivos é justamente o incentivo à dispersão geográfica dos Data Centers no Brasil. Nesse sentido, o MCom lançou uma Tomada de Subsidios Pública em 19/08, que finalizou nesta quarta-feira (15). Seu objetivo foi reunir contribuições da sociedade sobre aspectos técnicos e regulatórios, incluindo a localização geográfica e a regionalização dos empreendimentos, tema abordado em seção específica da consulta. Ao todo, foram registradas 43 contribuições institucionais, de diferentes setores, como indústria e academia, e a expectativa é de que o total de respostas chegue a cerca de 700 a 1.000. Além disso, o MCom promoveu, em 9 de outubro, o Workshop Internacional de Cabos Submarinos e Data Centers, que reuniu representantes nacionais e estrangeiros para discutir desafios e oportunidades do setor. A adequada distribuição dos data centers é considerada estratégica para o MCom, por fortalecer a segurança, a resiliência e a eficiência da economia digital. O Ministério mantém diálogo permanente com órgãos de governo, setor privado e sociedade civil, com o objetivo de construir políticas públicas robustas e alinhadas às melhores práticas internacionais. No mês passado, foi lançada a Fase 1 da Política Nacional de Data Centers, denominada Redata, com foco no desenvolvimento econômico do ecossistema de data centers no Brasil.
Ministério das Comunicações, em nota ao Olhar Digital
Debate sobre data centers já existe
O debate sobre a distribuição dos data centers ocorre em meio a medidas do governo federal para estimular o setor. No mês passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou uma medida provisória que cria o Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center (Redata). O programa visa impulsionar o desenvolvimento de segmentos ligados à computação em nuvem e à inteligência artificial (IA).
Segundo o governo, a medida provisória também busca promover a desconcentração regional, oferecendo contrapartidas reduzidas para investimentos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O Projeto de Lei Orçamentário Anual (PLOA) de 2026 reserva R$ 5,2 bilhões para o Redata, que, a partir de 2027, passará a contar também com os benefícios da reforma tributária.