“Arroto” do oceano Antártico pode gerar aquecimento mesmo com resfriamento

O Oceano Antártico absorve grandes quantidades de dióxido de carbono, que podem explodir em um "arroto" com o resfriamento do globo
Flavia Correia20/10/2025 17h50
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Representação artística do Oceano Antártico liberando gases acumulados. Crédito: Imagem gerada por IA/Gemini
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Um artigo publicado este mês na revista AGU Advances alerta para um possível efeito colateral natural da recuperação climática: o Oceano Antártico deve liberar parte do calor acumulado ao longo do último século caso as temperaturas globais comecem a cair. Segundo o estudo, esse processo – apelidado de “arroto oceânico” – poderia gerar um novo período temporário de aquecimento, mesmo após a redução das emissões de dióxido de carbono (CO₂).

Em resumo:

  • Estudo alerta para um possível “arroto oceânico”;
  • Segundo a pesquisa, o Oceano Antártico pode liberar calor acumulado durante o século;
  • Esse processo geraria aquecimento temporário mesmo após reduzir as emissões globais;
  • Simulações mostraram que o aquecimento duraria de décadas a séculos;
  • Pesquisadores recomendam monitorar o oceano por seu impacto climático.
O Oceano Antártico absorve grandes quantidades de emissões de dióxido de carbono e excesso de calor. Se as emissões humanas de CO2 se tornarem negativas e as temperaturas globais baixarem, a modelagem sugere que, em algumas centenas de anos, o oceano liberará calor retido por muito tempo em um “arroto” repentino. Crédito: Ivy Frenger

Oceanos retêm CO2 e calor

Os oceanos têm sido aliados importantes no combate ao aquecimento global. Eles absorvem cerca de 25% do CO₂ emitido pelas atividades humanas e mais de 90% do calor gerado por essas emissões. Essa capacidade tem ajudado a conter o aumento das temperaturas. No entanto, ainda se sabe pouco sobre como as águas oceânicas reagirão quando o planeta começar, de fato, a esfriar.

O estudo concentrou-se no Oceano Antártico, uma das regiões mais dinâmicas e essenciais do sistema climático. Para investigar seu comportamento em um cenário de emissões líquidas negativas, os cientistas usaram o modelo climático UVic v.2.9 da Universidade de Victoria, Canadá, que combina simulações de atmosfera, oceanos, gelo marinho e biosfera terrestre.

No experimento, as emissões de CO₂ aumentaram até dobrar a concentração atual na atmosfera em 70 anos. Depois disso, o modelo simulou uma redução acentuada nas emissões e um longo período de remoção de carbono. Essa mudança permitiu observar como o oceano responderia ao resfriamento global gradual.

Representação artística do oceano liberando gases acumulados. Crédito: Imagem gerada por IA/Gemini

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Mudanças no Oceano Antártico podem afetar o clima global

Os resultados mostraram que, após séculos de emissões negativas, o Oceano Antártico liberou parte do calor acumulado nas camadas profundas. Esse “arroto” gerou aquecimento temporário por décadas a séculos, enquanto a liberação de CO₂ permaneceu pequena.

Isso indica que o oceano pode reagir de forma inesperada mesmo diante do resfriamento global. Compreender como calor e carbono se acumulam e se dispersam é essencial para melhorar previsões climáticas. 

Embora  o estudo seja idealizado e baseado em modelo intermediário, os resultados se mostraram consistentes em outras simulações, reforçando o papel central do Oceano Antártico na regulação do clima global.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.