O jumento, também conhecido como jegue no Nordeste, é historicamente adaptado ao semiárido e considerado um símbolo cultural da região. No entanto, estes animais correm o risco de desaparecer do Brasil.
A causa é o aumento expressivo na demanda pelo ejiao, um produto da medicina tradicional chinesa feito a partir do colágeno extraído da pele de jumentos, que é cozida e transformada em gelatina. Neste cenário, pesquisadores brasileiros estão desenvolvendo uma alternativa.

Risco de extinção é real
- Segundo reportagem da BBC, a demanda pelo colágeno já provocou o risco de extinção dos animais na África, continente de onde são originários.
- Em 2024, no entanto, uma decisão unânime dos países que compõem a Cúpula da União Africana proibiu o comércio de pele de jumento.
- Com o fechamento deste importante mercado, a China agora mira no Brasil.
- Mas isso pode representar uma ameaça para a população de jegues, que já sofreu uma redução de 94% nas últimas décadas.
- A espécie Equus asinus chegou ao nosso país em 153, em uma expedição liderada pelo administrador colonial português Martim Afonso de Souza para a Capitania de São Vicente.
- Rapidamente, ela tronou-se predominante no Nordeste.
- Nos anos 1990, entretanto, os jumentos começaram a ser substituídos por motos, iniciando um processo de desaparecimento dos animais que foi acentuado pela demanda pelo ejiao.
- Segundo a ONG internacional The Donkey Sanctuary, de 2018 a 2024, pelo menos 248 mil jumentos foram abatidos apenas na Bahia.
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Novo produto evitaria abate de jumentos
Para tentar impedir o desaparecimento dos animais, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) estão desenvolvendo um colágeno feito em laboratório a partir da fermentação de precisão. Trata-se de uma técnica avançada de biotecnologia para o cultivo de células e produção de tecidos, também conhecida como agricultura celular. O objetivo é oferecer uma alternativa rastreável, segura e sustentável ao mercado chinês, mas principalmente tornar desnecessário o sofrimento e abate dos jumentos.
A grande inovação está na forma de produzirmos o colágeno idêntico ao do jumento, que é codificado pelo DNA do animal e que é então a mesma proteína, mas de uma forma desacoplada da matança do animal que é hoje a única forma de obtenção desse colágeno.
Carla Molento, pesquisadora do Laboratório de Zootecnia Celular da UFPR

A metodologia de produção de colágeno não é nova, mas nunca havia sido estudada nestes animais. O processo insere o DNA em microorganismos geneticamente programados. Quando eles se multiplicam, produzem também o colágeno do jumento.
Enquanto na produção atual eles precisam pegar uma pele inteira para extrair só o colágeno, na produção por fermentação de precisão, vamos pegar toda aquela biomassa que é produzida dentro do biorreator e purificar só o colágeno. A partir daí temos o colágeno do jumento e podemos atender essa demanda crescente. Continuaremos tendo um produto para exportação, mas sem dizimar nossos animais, sem causar crueldade contra eles e também com uma pegada ambiental muito menor.
Carla Molento, pesquisadora do Laboratório de Zootecnia Celular da UFPR

Apesar da urgência, o desenvolvimento do produto pode levar anos. Os pesquisadores afirmam que receberam cerca de R$ 500 mil para o projeto, valor considerado insuficiente para acelerar os processos. A equipe ainda destaca que será necessário fazer mais para salvar a espécie. Além da suspensão do abate, um censo fidedigno da população de jumentos é considerada fundamental para a criação de políticas de proteção destes animais.