Xangai está colapsando sobre o próprio solo

Estudo mostra que Xangai afunda mais rápido do que o mar sobe, elevando riscos de enchentes e prejuízos bilionários.
Por Maurício Thomaz, editado por Lucas Soares 20/10/2025 17h15
Nível do mar sobe e Xangai cede: cidade enfrenta ameaça dupla, dizem cientistas
Nível do mar sobe e Xangai cede: cidade enfrenta ameaça dupla, dizem cientistas (Imagem: Markus Mainka / Shutterstock)
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Um novo estudo publicado na revista Nature revela que Xangai está afundando mais rápido do que se imaginava, enquanto o nível global dos oceanos cresce em um ritmo sem precedentes nos últimos quatro milênios. A combinação entre a elevação do mar e o rebaixamento do solo representa uma ameaça crescente para a maior cidade da China — e, por consequência, para o comércio global que depende de seus portos e indústrias.

Pesquisadores do Reino Unido, da China e dos Estados Unidos descobriram que o nível médio global dos mares aumentou cerca de 1,5 milímetro por ano desde 1900, impulsionado principalmente pela expansão da água dos oceanos com o aquecimento global e pelo derretimento de geleiras e calotas polares. O grupo afirma que o ritmo atual de aumento “provavelmente supera o de qualquer outro século nos últimos quatro mil anos”.

Maior cidade da China está sob ameaça (Imagem: shutterstock/Avigator Fortuner)

Xangai afunda mais rápido que o nível do mar sobe

Mesmo que o terreno permanecesse estável, Xangai enfrentaria riscos crescentes de inundações devido ao aumento do nível do mar. No entanto, a cidade foi construída sobre solo deltaico macio, na foz do rio Yangtzé, que naturalmente se comprime com o tempo.

O problema se agrava porque 94% da subsidência moderna da área é causada por atividades humanas, principalmente pela extração de água subterrânea para uso industrial e doméstico. Durante os anos 1960, período de maior bombeamento, a cidade afundava cerca de 10 centímetros por ano.

Algumas regiões da metrópole já afundaram mais de um metro no último século, o que significa que o solo desce muito mais rápido do que o nível do mar sobe. Esse fenômeno amplia os riscos de enchentes, tempestades e elevação do lençol freático, ameaçando infraestrutura, moradias e portos.

Xangai está afundando enquanto o nível do mar sobe no ritmo mais rápido em 4 mil anos
Xangai está afundando enquanto o nível do mar sobe no ritmo mais rápido em 4 mil anos (Imagem: dongfang zhao / iStock)

Outras grandes cidades chinesas, como Shenzhen e Hong Kong, também estão localizadas em deltas vulneráveis, áreas que funcionam como polos econômicos e industriais vitais. Segundo os cientistas, qualquer interrupção causada por inundações ou erosão pode impactar significativamente as cadeias de suprimentos globais.

Medidas de contenção e custos bilionários

Para tentar conter o problema, Xangai vem reforçando regulações sobre o uso de águas subterrâneas e iniciou projetos de recarregamento artificial de aquíferos, o que já reduziu parte do ritmo de afundamento.

Ainda assim, a combinação de terras que cedem e mares em ascensão mantém o risco a longo prazo. Entre 2001 e 2020, estima-se que a cidade tenha perdido mais de US$ 3 bilhões por danos relacionados à subsidência. No país inteiro, o prejuízo médio anual chega a US$ 1,5 bilhão, reflexo direto da extração excessiva de água e das mudanças climáticas.

Xangai, China. Foto: Adli Wahid/Unsplash
Xangai vem reforçando regulações sobre o uso de águas subterrâneas para tentar frear o problema (Foto: Adli Wahid/Unsplash)

Os especialistas alertam que mesmo pequenos aumentos no nível do mar podem ter consequências significativas em regiões deltáicas — áreas planas, férteis e historicamente atrativas para o desenvolvimento urbano, mas extremamente vulneráveis.

Principais pontos do estudo:

  • O nível global dos oceanos cresce 1,5 mm por ano desde 1900;
  • 94% do afundamento urbano é causado por atividades humanas;
  • Xangai já afundou mais de 1 metro em um século;
  • Danos acumulados superam US$ 3 bilhões entre 2001 e 2020;
  • Outras cidades em risco incluem Shenzhen, Hong Kong, Jacarta e Manila.

Segundo os autores do estudo, a elevação contínua dos mares e o afundamento dos deltas podem submergir rapidamente regiões costeiras densamente povoadas, comprometendo não apenas economias locais, mas também o comércio global.

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Maurício Thomaz
Colaboração para o Olhar Digital

Jornalista com mais de 13 anos de experiência, tenho faro pela audiência e verdadeira paixão em buscar alternativas mais assertivas para a entrega do conteúdo ao usuário.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.