Pane na AWS: especialistas destacam os perigos de um apagão de internet

Falha na AWS deixou centenas de serviços fora do ar
Vitoria Lopes Gomez20/10/2025 15h04
Vários cabos de internet conectados a um roteador
(Imagem: Angelus_Svetlana/Shutterstock)
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Conforme reportado pelo Olhar Digital, uma falha global na Amazon Web Services (AWS), divisão de computação em nuvem da Amazon, provocou instabilidades em centenas de plataformas e serviços nesta segunda-feira (20). A pane afetou grandes empresas e aplicativos populares, incluindo Alexa, Zoom, Duolingo, Snapchat, Fortnite, Mercado Livre e Prime Video.

Essa não é a primeira vez que um provedor de tecnologia apresenta falhas e deixa vários outros serviços fora do ar. Especialistas destacaram como o mundo online se tornou dependente e que recorrer a poucos provedores pode colocar em risco o funcionamento da internet.

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Falhas na AWS deixaram centenas de serviços fora do ar (Imagem: IB Photography / Shutterstock.com)

Pane na AWS deixou centenas de serviços fora do ar

No caso da AWS, o problema começou a ser identificado por volta das 4h11 (horário de Brasília) e atingiu pelo menos mil empresas, segundo dados compilados pelo site DownDetector. No pico do incidente, foram mais de 6,5 milhões de registros de falhas, em vários países.

Segundo a própria empresa, o problema se concentrou na região US-EAST-1, onde fica um de seus principais data centers, localizado no norte da Virgínia, nos Estados Unidos. Essa área é considerada estratégica, pois abriga parte essencial da infraestrutura que sustenta operações globais da AWS.

Em comunicado, a empresa informou que a interrupção envolveu “taxas de erro significativas” no DynamoDB, sistema de banco de dados voltado para aplicações de alta demanda. O problema acabou se espalhando para outros serviços hospedados na mesma região, totalizando mais de 60 produtos impactados.

crowdstrike e microsoft
AWS não foi a única: no ano passado, CrowdStrike também teve um problema com impacto global (Imagem: Ascannio/Shutterstock)

AWS não foi a única

A falha na AWS não foi a única que deixou a internet instável globalmente nos últimos tempos:

  • No ano passado, uma falha no software da CrowdStrike derrubou grandes partes da internet;
  • Na ocasião, o problema travou computadores no mundo todo, o que provocou interrupção de serviços essenciais, como hospitais, e provocou o cancelamento de voos;
  • O prejuízo foi de US$ 5 bilhões. Relembre o caso aqui;
  • Também no ano passado, a empresa de telecomunicações AT&T passou por um colapso de 11 horas que cortou a conexão dos clientes.
Especialsitas chamam atenção para concentração da infraestrutura em poucos servidores (Imagem: Yu Chun Christopher Wong/Shutterstock)

Internet é robusta, mas está sujeita a erros

Especialistas consultados pela CNN alertaram que apagões de internet podem acontecer por vários motivos. Atualizações que deram errado ou inserção de códigos incorretos são as mais comuns, mas problemas na infraestrutura, como cortes de cabos de internet, ou ataques cibernéticos também podem afetar o funcionamento.

No entanto, a frequência desses eventos tem se tornado preocupante e demonstra que serviços online estão recorrendo a poucos provedores de tecnologia para garantir suas operações. E quando esses provedores caem… tudo cai.

A internet foi originalmente projetada para ser descentralizada e resiliente, mas hoje grande parte do nosso ecossistema online está concentrado em um pequeno número de regiões de nuvem. Quando uma dessas regiões sofre uma falha, o impacto é imediato e generalizado.

Rob Jardin, diretor digital da empresa de segurança cibernética NymVPN, em nota à CNN

Para Mike Chapple, especialista em segurança cibernética e professor de TI na Faculdade de Administração Mendoza da Universidade de Notre Dame, provedores em nuvem, como a AWS, operam sem interrupções frequentes. Porém, como empresas dependem fortemente desses serviços, quando algum problema acontece, o impacto é muito grande e chama atenção.

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Big techs como Amazon, Microsoft e Google têm dominado o setor de nuvem (Imagem: IR Stone/Shutterstock)

Especialistas defendem descentralização da tecnologia

Especialistas consultados pelo The New York Times também acreditam que as empresas não podem depender de poucos provedores. Antes, as companhias tinham suas próprias ferramentas de computação e nuvem. Hoje, dependem de outras empresas que vendem esses serviços, como Amazon (com a AWS), Microsoft (com o Azure) e Google (com o Google Cloud) – algo que concentra

Harry Halpin, diretor-executivo da NymVPN, chamou a situação de “perigosa”:

Se toda a infraestrutura do seu país depende de alguns provedores, todos nos Estados Unidos, e qualquer coisa pode cair a qualquer momento, seja por motivos maliciosos ou apenas por erros técnicos, essa é uma situação extremamente perigosa. Todo mundo acha que é normal. Mas não é normal.

Harry Halpin, diretor-executivo da NymVPN, ao The New Tork Times

Corinne Cath-Speth, chefe digital do Article 19, um grupo de defesa da liberdade de expressão, também chamou atenção para essa concentração. Ela escreveu em comunicado que “a infraestrutura que sustenta o discurso democrático, o jornalismo independente e as comunicações seguras não pode depender de um punhado de empresas”.

Alexandra Geese, membro do Parlamento Europeu pela Alemanha, defendeu a descentralização. Para ela, a interrupção da AWS nesta segunda-feira mostrou que a base da infraestrutura digital europeia deve ser hospedada na própria Europa, sob as leis europeias. Segundo Gesse, trata-se de uma “questão de segurança e resiliência”.

Pessoa segurando celular com logotipo do Amazon Web Services, braço da Amazon voltado para computação em nuvem
Amazon está corrigindo problemas na AWS (Imagem: Photo For Everything/Shutterstock)

Como está a AWS?

Às 14h03 (horário de Brasília), a Amazon Web Services escreveu que estava aplicando medidas para mitigar os problemas e recuperar a conectividade para a maioria dos serviços.

Leia mais:

Às 14h38 (horário de Brasília), a empresa disse que as medidas de mitigação estão progredindo. Veja a atualização mais recente até a publicação desta nota:

Nossas medidas de mitigação para resolver falhas de inicialização de novas instâncias do EC2 estão progredindo e os subsistemas internos do EC2 já estão mostrando sinais iniciais de recuperação em algumas Zonas de Disponibilidade (AZs) na Região US-EAST-1. Estamos aplicando medidas de mitigação às AZs restantes, momento em que esperamos que os erros de inicialização e os problemas de conectividade de rede diminuam.

Amazon Web Services

Vitória Lopes Gomez é jornalista formada pela UNESP e redatora no Olhar Digital.