Mini cérebros humanos podem substituir chips de computador como “processadores biológicos”

Mini cérebros humanos são usados como processadores em laboratório, abrindo caminho para computadores biológicos e IA mais eficiente.
Por Maurício Thomaz, editado por Lucas Soares 20/10/2025 14h03
Biocomputação: como mini cérebros estão impulsionando a próxima era da IA
Biocomputação: como mini cérebros estão impulsionando a próxima era da IA (Imagem: Sergey Nivens / Shutterstock)
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Em Vevey, na Suíça, pesquisadores da start-up FinalSpark estão desenvolvendo uma tecnologia que pode mudar o futuro da computação: mini cérebros humanos que funcionam como processadores. Mantidos vivos em fluidos ricos em nutrientes, esses pequenos aglomerados de células cerebrais têm o potencial de substituir, no futuro, os chips de silício que alimentam supercomputadores e a inteligência artificial. As informações são do portal TechXplore.

Fred Jordan, cofundador da FinalSpark, explica que a ideia por trás da tecnologia chamada biocomputação ou “wetware” é usar diretamente a capacidade de processamento do cérebro humano, em vez de apenas simulá-la com hardware artificial. “Ao invés de tentar imitar, vamos usar o real”, afirma. Entre os benefícios esperados, a biocomputação pode reduzir drasticamente o consumo de energia da IA, já que neurônios biológicos são um milhão de vezes mais eficientes que neurônios artificiais.

Inovação pode, no futuro, substituir os chips de silício usados em supercomputadores e sistemas de inteligência artificial (Imagem: PeopleImages.com – Yuri A/Shutterstock)

Como funcionam os mini cérebros

Para criar os chamados organoides cerebrais, a FinalSpark segue um processo complexo:

  • Compra células-tronco derivadas de pele humana de doadores anônimos;
  • Transforma essas células em neurônios;
  • Agrupa os neurônios em pequenos aglomerados de cerca de 1 milímetro, comparáveis ao cérebro de larvas de mosca;
  • Conecta eletrodos aos organoides para monitorar e estimular sua atividade elétrica.

Esses organoides podem ser estimulados com pequenas correntes elétricas, e suas respostas — ou a ausência delas — funcionam de maneira semelhante aos uns e zeros da computação tradicional. Atualmente, dez universidades ao redor do mundo usam organoides da FinalSpark em pesquisas que vão desde aprendizado de robôs até estudo de doenças cerebrais como autismo e Alzheimer.

inteligência artificial
A biocomputação pode reduzir drasticamente o consumo de energia da IA (Crédito: tadamichi / Shutterstock)

Benjamin Ward-Cherrier, da Universidade de Bristol, utilizou um organoide para controlar um robô capaz de distinguir diferentes letras em braile. Ele ressalta, porém, que trabalhar com células vivas apresenta desafios: os organoides podem morrer, interrompendo experimentos e exigindo recomeço. Segundo a FinalSpark, esses mini cérebros têm vida útil de até seis meses.

Aplicações e desafios futuros

Embora o uso de mini cérebros como processadores de computadores ainda esteja distante, a biocomputação oferece vantagens potenciais: maior eficiência energética em relação a chips de silício, reprodução ilimitada de neurônios em laboratório, possibilidade de estudar o funcionamento real do cérebro humano, desenvolvimento de tratamentos inovadores para doenças neurológicas e potencial de criar robôs e sistemas de IA mais sofisticados.

Wafer de silício com chips
Inovação deve possibilitar maior eficiência energética em relação a chips de silício (Imagem: fotografos / Shutterstock)

Especialistas descartam a possibilidade de os organoides desenvolverem consciência, já que possuem apenas cerca de 10 mil neurônios, enquanto um cérebro humano tem aproximadamente 100 bilhões. Jordan admite que a questão toca a filosofia e que, por isso, a FinalSpark trabalha com especialistas em ética.

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Apesar das incertezas, os pesquisadores acreditam que a biocomputação pode revolucionar a forma como entendemos o cérebro humano e como construímos computadores, trazendo tanto avanços científicos quanto aplicações práticas para a tecnologia e a medicina.

Maurício Thomaz
Colaboração para o Olhar Digital

Jornalista com mais de 13 anos de experiência, tenho faro pela audiência e verdadeira paixão em buscar alternativas mais assertivas para a entrega do conteúdo ao usuário.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.