Feito inédito: a inseminação que pode salvar raro felino da extinção

Procedimento inédito foi feito com Khala, fêmea de 15 anos, e pode representar avanço importante para programas de reprodução em cativeiro
Rodrigo Mozelli22/10/2025 21h59
Khala sedada em cimada mesa de operação
Khala foi sedada para ser inseminada artificialmente (Imagem: Reprodução)
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A inseminação artificial de um leopardo-de-amur realizada na França trouxe novas esperanças para a sobrevivência do felino mais raro do planeta.

O procedimento inédito foi feito com Khala, uma fêmea de 15 anos do Zoológico de Mulhouse, próximo à fronteira com a Alemanha, e pode representar um avanço importante para os programas de reprodução em cativeiro.

Os leopardos-de-amur são nativos das margens do rio Amur, na fronteira entre Rússia e China, e acredita-se que restem apenas algumas dezenas de exemplares em estado selvagem.

Equipe tirando esperma de Baruto
Baruto foi o primeiro a ir para a mesa de cirurgia para que seu sêmen fosse extraído (Imagem: Reprodução)

Como foi realizada a inseminação em Khala

  • A experiência com Khala foi conduzida por uma equipe de sete veterinários e coordenada por Benoit Quintard, diretor do Zoológico e Jardim Botânico de Mulhouse e coordenador do programa europeu de reprodução da espécie. “Isto é um feito inédito no mundo”, afirmou Quintard ao Phys.org;
  • Antes da cirurgia, Khala precisou ser sedada, resistindo à aproximação do rifle usado para aplicar o anestésico;
  • Minutos depois, o animal, de 35 quilos, já estava deitado na mesa de operação, cercado pelos profissionais;
  • Naquela mesma manhã, ela havia copulado novamente com Baruto, um macho de 14 anos e 15 quilos mais pesado, mas sem sucesso reprodutivo até então;
  • Diante disso, os veterinários decidiram dar uma ajuda à natureza.

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Baruto foi o primeiro a ser operado. Com um gotejamento intravenoso de anestésicos, o esperma do animal foi coletado sob supervisão do professor Thomas Hildebrandt, do Instituto Leibniz de Pesquisa em Zoológicos e Vida Selvagem, de Berlim (Alemanha), especializado em reprodução de espécies ameaçadas. Em seguida, Khala foi submetida à inseminação.

Khala sedada na mesa de operação
Animal está cada vez mais raro na natureza (Imagem: Reprodução)

Um exame de ultrassom revelou que ela havia ovulado, mas, também, apresentava cistos no útero. “Boa notícia: ela ovulou. Má notícia: há cistos”, disse Hildebrandt.

O problema poderia impedir que um óvulo fecundado se fixasse na parede uterina. Ainda assim, o procedimento seguiu. Com uma sonda inserida e um leve acionamento do gatilho, a inseminação foi concluída.

“Acredito que haja 50% de chance de ela engravidar agora”, avaliou Susanne Holtze, colega de Hildebrandt no Instituto Leibniz. Depois de uma pesagem e uma última injeção, Khala acordou e foi devolvida ao recinto, com a esperança sendo de que, em três meses, possa dar à luz a um filhote raro.

Motivos para otimismo

Enquanto isso, do lado chinês da fronteira, o Conselho Nacional de Florestas afirma ter motivos para otimismo.

Graças a um programa de conservação iniciado em 2017, Pequim estima que a população de leopardos selvagens quase dobrou, passando de 42 antes do projeto para 80 em 2025.

Khala sendo retirada de uma caixa de transporte de animais
Khala já voltou ao seu habitat; espera-se que, em três meses, ela dê a luz a filhotes de Baruto (Imagem: Reprodução)

No entanto, o esforço global de preservação enfrenta um obstáculo: o programa russo de reintrodução da espécie foi suspenso indefinidamente devido à guerra na Ucrânia.

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.