A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) fez um alerta ao governo federal: a produção automotiva no Brasil corre risco de parar devido à escassez de semicondutores. Isso pode acontecer dentro de semanas.
A associação, que representa as montadoras, pede que o governo tome medidas para impedir o desabastecimento dos componentes eletrônicos.

Anfavea fez um alerta para a paralisação na produção
A Anfavea demonstrou preocupação com o risco de escassez de semicondutores, um cenário de crise semelhante ao que aconteceu na pandemia. Na época, montadoras tiveram que paralisar a produção por falta dos componentes.
Isso porque, conforme explicou a associação, um único veículo moderno usa, em média, de 1 mil a 3 mil chips. As tecnologias são essenciais em várias partes dos modelos, desde os freios ABS e airbags até injeção eletrônica, controle de motor e sensores. Sem eles, as fabricantes não conseguem manter a linha de produção.
Em nota, a associação alertou que está “atenta e preocupada” com o risco de paralisação, que “pode afetar operações fabris em questão de semanas”. Ainda, pediu que o governo federal adote medidas “rápidas e decisivas” para impedir o desabastecimento.
Com 1,3 milhão de empregos em jogo em toda a cadeia automotiva, é fundamental que se busque uma solução em um momento já desafiador, marcado por altos juros e desaquecimento da demanda. A urgência é evidente, e a mobilização se faz necessária para evitar um colapso na indústria.
Igor Calvet, presidente da Anfavea, em nota
O Olhar Digital também entrou em contato com o Ministério da Indústria para mais detalhes sobre a situação. Em resposta, a assessoria de imprensa da pasta disse que o governo “está acompanhando os eventuais efeitos de interrupções da cadeia global de suprimento de semicondutores e está em diálogo com a indústria brasileira para buscar soluções que evitem danos às empresas e aos empregos”.
A Abipeças (Associação Brasileira da Indústria de Autopeças) e o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) também manifestaram preocupação. Em carta enviada ao vice-presidente e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, as associações escreveram que observaram uma “redução significativa na disponibilidade de componentes eletrônicos essenciais para módulos de controle, sistemas de injeção e produtos de alta tecnologia aplicados em veículos leves, comerciais e industriais”.
As instituições ainda destacaram que não há alternativas de fornecimento local ou regional de semicondutores a curto prazo, o que poderia afetar montadoras como Volkswagen, Stellantis, GM, Toyota, Hyundai, BYD e outras. Ambas pediram apoio do governo federal para garantir o abastecimento.
O Olhar Digital entrou em contato com as montadoras citadas para entender se há algum mapeamento da situação.
Em resposta, a BYD reforçou que, “por sua forte estratégia de integração vertical, produzindo internamente a maior parte dos componentes essenciais, o abastecimento de semicondutores não será afetado”.

Escassez de semicondutores devido a disputas políticas
A crise deste ano tem a ver com disputas políticas envolvendo a Nexperia, fabricante de semicondutores holandesa que era subsidiária da chinesa Wingtech Technology. Inclusive, parte da cadeia de produção fica na China.
O trabalho da fabricante é essencial para manter o funcionamento das cadeias de suprimentos em toda a zona do euro, incluindo no setor de carros.
Conforme reportado pelo Olhar Digital, há pouco mais de uma semana, o governo holandês assumiu o controle da empresa para “garantir que um suprimento suficiente de seus chips permaneça disponível na Europa”. O objetivo é evitar que os semicondutores da Nexperia ficassem indisponíveis para os europeus em caso de uma emergência.
Em comunicado, o Ministério da Economia holandês explicou que a medida foi “altamente excepcional” e tomada devido aos “sinais recentes e agudos de graves deficiências e ações de governança” por parte da empresa chinesa.
A China reagiu. Pequim bloqueou a comunicação entre a Nexperia e a fábrica chinesa, restringindo a exportação dos componentes eletrônicos. Este cenário minou o acesso das montadoras europeias aos semicondutores e corre risco de paralisar a produção por lá. Volkswagen e Stellantis podem ser algumas das afetadas caso a situação não se resolve rapidamente.

Unidade chinesa da Nexperia retomou vendas
- De acordo com a agência de notícias Reuters, a unidade chinesa da Nexperia retomou a produção e distribuição para fornecedores locais;
- No entanto, agora todas as vendas serão na moeda chinesa, o yuan, em vez de moedas estrangeiras, como acontecia antes;
- A unidade chinesa também instruiu as compradoras a vender os semicondutores apenas em yuans, de forma a estabelecer uma operação independente da unidade da Nexperia na Holanda;
- Por outro lado, a unidade holandesa estaria procurando parcerias fora da China e alertou os consumidores de que não garante a qualidade da produção na subsidiária chinesa.