Reciclagem às avessas: EUA despejam toneladas de lixo eletrônico em países asiáticos

Relatório internacional mostra que empresas dos Estados Unidos exportam milhares de contêineres de eletrônicos usados todos os meses para países do Sudeste Asiático e Oriente Médio, driblando acordos ambientais
Por Matheus Labourdette, editado por Layse Ventura 24/10/2025 07h10
Dez empresas exportam equipamentos eletrônicos descartados para o exterior, enquanto metais pesados ameaçam solos, água e comunidades (Imagem: filipe_lopes/iStock)
Dez empresas exportam equipamentos eletrônicos descartados para o exterior, enquanto metais pesados ameaçam solos, água e comunidades (Imagem: filipe_lopes/iStock)
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Uma investigação recente aponta que milhões de toneladas de eletrônicos descartados nos Estados Unidos estão chegando a países do Sudeste Asiático e do Oriente Médio a cada mês, gerando um “tsunami oculto” de lixo eletrônico. O alerta é de um grupo ambientalista sediado em Seattle, o Basel Action Network (BAN).

O relatório do BAN, baseado em dois anos de apuração, identificou ao menos dez empresas norte-americanas que exportam equipamentos usados para países como Vietnã, Malásia, Indonésia, Tailândia, Filipinas e Emirados Árabes Unidos. Entre os resíduos estão celulares, computadores e outros eletrônicos com metais tóxicos integrados, como chumbo, cádmio e mercúrio. As informações são do portal Engadget.

Toneladas e toneladas de lixo

Segundo a investigação, cerca de 2.000 contêineres de lixo eletrônico partem dos EUA todo mês, totalizando aproximadamente 33 mil toneladas métricas.

As empresas envolvidas, chamadas de “brokers de e-waste”, não reciclam os materiais; elas simplesmente os enviam para terceiros que se encarregam do descarte. Entre elas estão Corporate eWaste Solutions, Semsotai, First America Metal Corp. e PPM Recycling.

Entre os resíduos há celulares, computadores e metais tóxicos como chumbo e mercúrio (Imagem: Pradeep Gaur/iStock)
Entre os resíduos há celulares, computadores e metais tóxicos como chumbo e mercúrio (Imagem: Pradeep Gaur/iStock)

O relatório também aponta que as exportações dessas dez companhias somaram mais de US$ 1 bilhão entre janeiro de 2023 e fevereiro de 2025. A movimentação mensal do setor pode ultrapassar US$ 200 milhões. Jim Puckett, diretor do BAN, afirma que a Malásia, em especial, se tornou um verdadeiro “santuário de lixo eletrônico” nos últimos anos.

Algumas empresas contestaram os dados. A Semsotai declarou que não exporta sucata, atuando apenas com componentes reutilizáveis, e acusou o BAN de parcialidade. A PPM Recycling afirmou que os volumes de envio foram exagerados. A maioria das outras companhias preferiu não se manifestar.

Um problema de proporções globais

O crescimento da quantidade de lixo eletrônico no mundo supera em cinco vezes a capacidade dos programas de reciclagem. Em 2022, foram produzidas 62 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos, número que deve chegar a 82 milhões até 2030, segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT) e o UNITAR, braço de pesquisa da ONU.

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Importante destacar que a maioria dos países proibiu a importação desses resíduos por meio da Convenção de Basileia, tratado internacional que regula o comércio de resíduos perigosos. Os Estados Unidos, no entanto, são a única nação industrializada que não ratificou o acordo, ficando fora das regras e permitindo o envio de lixo eletrônico sem restrições legais.

Dez empresas movimentam mais de US$ 1 bilhão exportando e-waste, sem reciclagem adequada. (Imagem: Huseyin Asliyuce/iStock)
Dez empresas movimentam mais de US$ 1 bilhão exportando e-waste, sem reciclagem adequada. (Imagem: Huseyin Asliyuce/iStock)

Especialistas alertam para os impactos ambientais e de saúde pública. A presença de metais pesados em eletrônicos descartados pode contaminar solos, águas e alimentos, afetando comunidades inteiras. Países receptores enfrentam desafios para tratar e reciclar o material de forma segura.

Redator(a)

Matheus Labourdette é redator(a) no Olhar Digital

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.