Nos últimos dois anos, bastava adicionar “IA” ao nome de uma empresa para atrair investidores e capital. Por um momento, essa euforia parecia inesgotável, como se a simples menção à tecnologia fosse uma garantia de sucesso. Hoje, sabemos que não foi bem assim.
Mas isso não quer dizer que o brilho da inteligência artificial em si diminuiu, pelo contrário, sua capacidade de inovação contínua enorme, mas a mística em torno do termo, sim. Hoje, o que era sinônimo de crescimento se transformou em motivo de cautela.
IA não é mais sinônimo de crescimento inevitável
Isso se evidencia quando olhamos para a trajetória de algumas companhias ligadas ao setor, ou mesmo apenas associadas a ele, que estão entre as mais penalizadas no mercado. Dados do portal Sherwood, com informações da Bloomberg, mostram que as ações de companhias com “AI” no nome caíram em média 8,7% em apenas dois pregões do mês de agosto. Outras, que se beneficiaram da tecnologia, registraram quedas em torno de 7%. Entre elas, estão nomes como Big Bear.ai, C3.ai, Blaize Holdings e Bullfrog Holdings.
Os números impressionam, afinal, trata-se de uma ferramenta que impactou o mundo em tempo recorde, transformando mercados e acelerando a digitalização de setores inteiros. Praticamente todo o mercado de trabalho global ganhou novos ares com a chegada da IA ao dia a dia, seja na área de tecnologia ou em outras.

Por outro lado, se refletirmos bem, essa não é uma situação exatamente inédita, e se parece muito com o ciclo clássico de qualquer outra ferramenta tecnológica nova. Lembra do boom das empresas “.com” nos anos 2000? Primeiro houve euforia, depois veio a consolidação: sobreviveram apenas os players com fundamentos sólidos, produtos que realmente entregam valor e modelos de negócio consistentes.
O mesmo ocorre com a IA. Hoje, prometer inovação não basta: é preciso comprovar impacto real, mostrar retorno financeiro e aplicabilidade prática.
Lições e oportunidades
A mudança de paradigma em relação à IA basicamente funciona como um filtro natural. Incorporar IA a produtos ou serviços que transformam processos e ajudam organizações a avançar é o caminho. Quem tangibilizar benefícios, seja em eficiência operacional, redução de custos ou aumento de receita, terá mais chances de capturar valor e manter relevância.

Um exemplo dessa nova fase é a Enter, startup brasileira que usa inteligência artificial para ajudar grandes empresas em suas defesas jurídicas. A empresa acaba de fechar uma segunda rodada de captação, levantando R$ 200 milhões a um valuation de R$ 2 bilhões, em uma rodada liderada pelo Founders Fund, fundo de Peter Thiel, e co-liderada pela Sequoia Capital. A empresa foi tema do episódio 178 do nosso podcast IA Sob Controle, com a participação de Michael Mac-Vicar, cofundador e CTO da startup.
Para as lideranças, a lição é clara: em vez de usar a IA apenas como discurso de inovação, é hora de integrá-la de maneira estratégica e responsável. Isso exige priorizar casos de uso reais, investir em times capacitados, mensurar resultados e equilibrar experimentação e execução.
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Em resumo, não se trata de desacreditar a IA, mas de amadurecer a relação com ela. A tecnologia continua transformadora, mas sua força depende menos da retórica e mais da consistência. E acredite, o mercado tech aprendeu a diferenciar hype de valor, e promessas vazias não sustentam relevância por muito tempo.
