Arábia Saudita quer se tornar potência global em IA

Arábia Saudita investe trilhões em data centers e IA para substituir o petróleo e disputar liderança tecnológica com EUA e China
Por Valdir Antonelli, editado por Bruno Capozzi 28/10/2025 06h26
data center
(Imagem: Oselote/iStock)
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Quando se fala em inteligência artificial, dificilmente a Arábia Saudita aparece nas conversas — mas o país está trocando o petróleo pela IA. Como explica uma reportagem do The New York Times, a família real pretende transformar sua imensa riqueza energética em poder tecnológico, com planos ambiciosos para dominar a infraestrutura necessária à era da inteligência artificial.

Liderado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o reino está construindo megacentros de dados em diferentes regiões, projetados para atender empresas de tecnologia da América, Europa, Ásia e África.

petróleo
A Arábia Saudita dá os primeiros passos para deixar de ser lembrada apenas pelo petróleo e quer dominar a inteligência artificial. Imagem: vadimrysev/iStock

Energia barata e ambição bilionária

O projeto é liderado pela Humain, empresa criada pelo príncipe com apoio do fundo soberano saudita, que possui cerca de US$ 1 trilhão (R$ 5,38 trilhões). A meta é ousada: processar 6% de toda a carga de trabalho de IA do planeta nos próximos anos. Hoje, a Arábia Saudita detém menos de 1%.

O objetivo é criar uma entidade nacional focada em toda a cadeia de valor da IA.

Tareq Amin, CEO da Humain, ao The New York Times

Entre os projetos, Amin detalha que a construção de data centers, o desenvolvimento de chatbots e a criação de serviços baseados em IA estão nos planos da empresa.

Diversos acordos já foram firmados pela Humain, incluindo o investimento de US$ 5 bilhões (R$ 27 bilhões) da Amazon em infraestrutura de IA e contratos para a compra de chips da Nvidia, AMD e Qualcomm. A empresa também já lançou um chatbot em árabe e um notebook com recursos de inteligência artificial.

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A meta é ousada: processar 6% de toda a carga de trabalho de IA do planeta nos próximos anos. Hoje, a Arábia Saudita detém menos de 1%. Imagem: thanmano / Shutterstock

Como a Arábia Saudita quer dominar a IA

• Criação da empresa estatal Humain para centralizar projetos de IA.
• Construção de megacentros de dados nas costas do Mar Vermelho e do Golfo Pérsico.
• Parcerias com gigantes como Amazon, Nvidia, AMD e Qualcomm.
• Oferta de energia até 40% mais barata que a dos EUA.
• Implementação de zonas de “embaixada de dados”, que seguirão as leis do país de origem, para atrair empresas estrangeiras.

Além disso, a DataVolt, outra empresa ligada ao projeto, está construindo um gigantesco complexo de dados na costa do Mar Vermelho, com inauguração prevista para 2028. Juntas, as instalações devem alcançar 6,6 gigawatts de capacidade até 2034 — o equivalente a mais de seis usinas nucleares, afirma a matéria.

Donald Trump apertando mão de Mohammed bin Salman em visita à Arábia Saudita
Donald Trump apertando mão de Mohammed bin Salman em visita à Arábia Saudita. Na visita, Trump autorizou a venda de 18 mil chips da Nvidia para o país. Imagem: Governo dos EUA

Inteligência artificial entre Washington e Pequim

A empolgação dos sauditas pode ser freada por obstáculos políticos e tecnológicos. O país depende de chips de IA fabricados nos Estados Unidos, e a tensão entre Washington e Pequim pode complicar o cenário. Em maio de 2025, durante sua visita a Riad, Trump autorizou a venda de 18 mil chips da Nvidia para o país, mas até agora a liberação final não foi concluída, devido à proximidade do governo árabe com os chineses.

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Por isso, a Arábia Saudita tenta equilibrar seu relacionamento entre os Estados Unidos e a China. Ao mesmo tempo que mantém fortes laços comerciais com os EUA, também investe em empresas chinesas, como a DeepSeek, que utiliza data centers da estatal petrolífera Aramco.

É fácil subestimar o nível de ambição dos sauditas, mas eles podem alcançar mais do que muitos críticos imaginam.

Vivek Chilukuri, pesquisador sênior do Centro para uma Nova Segurança Americana, ao The New York Times.
Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.