O que explica o poder destrutivo do furacão Melissa?

Com ventos de até 300 km/h e ondas de quatro metros de altura, o furacão Melissa foi um dos mais fortes já registrados na história recente
Alessandro Di Lorenzo29/10/2025 11h55
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(Imagem: reprodução/NOAA)
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Após atingir a costa oeste da Jamaica como um furação de categoria 5 e deixar um rastro de destruição, o Melissa perdeu força e chegou ao território de Cuba na manhã desta quarta-feira (29). Até o momento, pelo menos sete mortes foram confirmadas.

O fenômeno climático já é considerado um dos mais fortes da história recente, tendo provocado ventos de até 300 km/h e ondas de quatro metros de altura. Mas o que está por trás de tamanha força destrutiva?

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Furacão de categoria 5 causou mortes e deixou um rastro de destruição (Imagem: Mike Mareen/Shutterstock)

Combinação de fatores favoreceu evento extremo

Reportagem do G1 explica que a combinação entre o calor recorde do mar do Caribe e o padrão atmosférico causado pelo fenômeno climático La Niña potencializou o furação. Isso possibilitou a redução do chamado cisalhamento, que consiste na mudança na direção ou na velocidade do vento em diferentes altitudes. Quando o cisalhamento vertical está baixo, como costuma acontecer em episódios de La Niña, os furacões no Atlântico têm maior facilidade para se organizar e se intensificar, já que a velocidade e a direção do vento não mudam muito. Já um alto cisalhamento dificulta o crescimento e fortalecimento dos fenômenos.

Em anos de La Niña, há um incentivo para a formação de ciclones tropicais. As circulações da América do Norte favorecem não só a formação, mas também o deslocamento desses sistemas. Na região próxima à Jamaica, o mar está até 5°C acima do normal. E os ciclones tropicais se alimentam exatamente desse calor.

César Soares, meteorologista da Climatempo
Furacão passou muito tempo se alimentando da energia liberada pelo oceano (Imagem: Triff/Shutterstock)

Ao mesmo tempo, o oceano libera calor e umidade, o que ajuda a alimentar a formação de tempestades. Com uma superfície do mar mais quente, maior foi a quantidade de energia disponível e maior o potencial de intensificação do Melissa. Para piorar a situação, a atmosfera estava extremamente úmida, favorecendo a formação de nuvens chamadas de convectivas explosivas, que crescem rapidamente em altitude e causam chuva torrencial.

Oceanos quentes são um ingrediente essencial para furacões fortes. A região do Atlântico onde o furacão Melissa está se formando parece uma caldeira que ficou acesa por tempo demais. As águas do oceano estão em torno de 30°C, de dois a três graus acima do normal, e esse calor se estende em profundidade.

Akshay Deoras, pesquisador Departamento de Meteorologia da Universidade de Reading, no Reino Unido

Outro ponto importante para explicar o que aconteceu foi o fato do furacão não seguir para o norte, como costuma acontecer. Ele permaneceu quase parado sobre águas muito quentes, absorvendo ainda mais energia. Todas essas características mantiveram o Melissa em constante fortalecimento, o que tornou esse um dos fenômenos climáticos mais intensos dos últimos anos.

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Não podemos desconsiderar a influência da crise climática nesses eventos extremos (Imagem: Bigc Studio/Shutterstock)

Mudanças climáticas tiveram papel no fortalecimento do furacão

  • Como você pôde perceber, foram necessárias várias combinações para tornar o furacão tão poderoso.
  • E todos os fatores citados têm um ponto em comum: as mudanças climáticas.
  • Os cientistas explicam que, apesar das temporadas de furacões ocorrerem anualmente no Caribe, os fenômenos estão cada vez mais intensos.
  • E isso torna ainda mais importante o combate à crise climática.
  • Um sucesso nessa difícil missão permitiria que os oceanos voltassem a registrar temperaturas normais, impedindo que futuros eventos como o Melissa se repitam.
  • Por outro lado, caso não consigamos reverter este cenário, furacões destrutivos irão ameaçar milhões de pessoas que vivem nessas regiões costeiras.
Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.