Cometa interestelar 3I/ATLAS ficará visível no Brasil?

Após semanas oculto pelo Sol, o cometa 3I/ATLAS volta a aparecer no céu – descubra se o Brasil conseguirá ver o visitante interestelar
Flavia Correia31/10/2025 17h24
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Representação artística do cometa 3I/ATLAS atravessando o Sistema Solar com visibilidade a partir do Brasil. Crédito: Imagem gerada por IA/Gemini
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Entre as muitas dúvidas sobre o cometa 3I/ATLAS, uma das principais é se ele poderá ser visto do Brasil. Esse visitante interestelar, o terceiro objeto vindo de fora do Sistema Solar já registrado, acaba de passar pelo ponto mais próximo do Sol, ganhando brilho e se preparando para voltar a ser observado pelos telescópios na Terra.

Dias antes de atingir o periélio (distância mais curta do Sol) na quarta-feira (29), o cometa passou por trás da estrela, ficando inacessível para o nosso planeta.  Segundo a NASA, ele só começará a reaparecer no céu antes do amanhecer nas próximas semanas, quando se afastar do Sol e ganhar elongação suficiente para ser observado.

Sequência de imagens do cometa 3I/ATLAS capturadas pelo satélite ExoMars TGO, da ESA, a partir da órbita de Marte. Crédito: ESA/TGO/CaSSIS

Quando será possível ver o cometa 3I/ATLAS

De acordo com o guia de observação TheSkyLive, o cometa 3I/ATLAS será visível principalmente do hemisfério norte nas primeiras semanas após o periélio. Nesse período, sua posição no céu ainda favorece observadores em latitudes mais baixas, próximas ao à linha do equador.

Entretanto, sua visibilidade será limitada e possível somente em horários muito próximos do amanhecer, com horizonte livre, já que o cometa estará baixo no céu e próximo ao Sol.

A partir do início de dezembro, quando sua elongação aumentar, ou seja, quando ele estiver aparentemente mais distante do Sol, a observação ficará mais favorável, embora continue desafiadora. Para observadores brasileiros, isso significa que a melhor chance de vê-lo com telescópios será nas primeiras semanas de dezembro, quando estará em posição mais adequada e menos comprometida pela luz do Sol.

Animação simula trajetória do cometa interestelar 3I/ATLAS pelo Sistema Solar. Crédito: TheSkyLive.com

De qualquer forma, o brilho do 3I/ATLAS não passará de 11.5 de magnitude – insuficiente para a observação a olho nu ou com binóculos comuns. Será necessário um telescópio de médio porte (aproximadamente 20 cm de abertura ou maior) e um local com céu escuro e horizonte desobstruído. 

Segundo a plataforma SkyAndTelescope, o cometa aparecerá no céu no fim das madrugadas, na direção leste, pouco antes do amanhecer, tornando os horários críticos para observação limitados a cerca de uma hora antes do nascer do Sol. Mapas estelares ou aplicativos de astronomia são essenciais para localizar sua posição.

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Não será fácil ver o visitante interestelar

Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) e colunista do Olhar Digital, acredita que por volta do dia 10 de novembro talvez já seja possível observá-lo com telescópios.

Ele reforça, no entanto, que mesmo com telescópios amadores de qualidade, observar o cometa não será fácil. Com uma magnitude de 11,5, seu brilho é bastante fraco e pode se confundir com várias estrelas próximas que têm luminosidade semelhante.

Uma imagem profunda do cometa interestelar 3I/ATLAS capturada pelo Espectrógrafo Multiobjeto Gemini (GMOS) no Telescópio Gemini Sul. Crédito: Observatório Internacional Gemini/NOIRLab/NSF/AURA. Processamento de imagens Shadow the Scientist: J. Miller e M. Rodriguez (Observatório Internacional Gemini/NSF NOIRLab), TA Rector (Universidade do Alasca Anchorage/NSF NOIRLab), M. Zamani (NSF NOIRLab)

“Mesmo sendo um objeto, provavelmente, com alguns quilômetros, o 3I/ATLAS ainda estará a 270 milhões de quilômetros da Terra no momento de máxima aproximação, em 19 de dezembro”, explica Zurita. “Além disso, o cometa passa muito longe do Sol e, dessa forma, não estará exposto a um calor mais intenso, o que poderia aumentar sua atividade. Tudo isso contribui para uma passagem muito discreta no céu, apesar de toda a repercussão que o terceiro objeto interestelar detectado provoca”.

Ainda que não seja um espetáculo visível a olho nu, astrônomos de todo o mundo se preparam para estudar ao máximo o visitante interestelar antes que ele se afaste. Nesse sentido, a International Asteroid Warning Network (IAWN) escolheu o objeto como alvo de uma campanha global de observação entre 27 de novembro de 2025 e 27 de janeiro de 2026.

O objetivo é acompanhar com precisão a trajetória do forasteiro e investigar sua composição. Como o cometa possui uma nuvem difusa ao redor do núcleo e uma cauda, essas características atrapalham observá-lo diretamente, dificultando a medição exata de sua posição e tamanho. Por isso, telescópios de diferentes regiões do planeta vão coletar dados de forma coordenada, garantindo um acompanhamento detalhado e permitindo à comunidade científica testar protocolos globais de observação. 

Técnicas mais apuradas e precisas serão essenciais para a proteção da Terra no futuro, caso um cometa seja de fato detectado em rota de colisão.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.