Terapia de R$ 3 milhões mostra potencial e pode reduzir custos no tratamento do câncer

Estudo aponta que terapia CAR-T, mesmo custando milhões, pode ser mais econômica e eficaz no tratamento do câncer quando usada mais cedo.
Por Maurício Thomaz, editado por Lucas Soares 02/11/2025 06h00
CAR-T pode ser mais eficiente e econômica contra o câncer quando usada cedo, aponta pesquisa
CAR-T pode ser mais eficiente e econômica contra o câncer quando usada cedo, aponta pesquisa (Imagem: Mohammed Haneefa Nizamudeen / iStock)
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

A terapia celular CAR-T, cujo custo pode chegar a R$ 3 milhões por paciente, vem ganhando destaque na comunidade médica ao demonstrar potencial para oferecer melhores resultados clínicos e economia no tratamento do câncer a longo prazo. Um estudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) indica que utilizar essa tecnologia mais cedo no tratamento do linfoma difuso de grandes células B pode reduzir recidivas e diminuir despesas totais, mesmo com o alto investimento inicial. As informações são do G1.

O trabalho foi apresentado durante o Congresso Brasileiro de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular e publicado no Journal of Medical Economics. Ele analisou dados de pacientes e avaliou tanto os desfechos clínicos quanto o impacto financeiro da terapia em comparação com métodos tradicionais e outras opções modernas de tratamento.

Começar o tratamento com CAR-T já na segunda ou terceira linha aumenta as chances de cura e diminui os gastos ligados a recaídas (Imagem: Design Cells/Shutterstock)

Uso antecipado da CAR-T no tratamento do câncer

A pesquisa, liderada pelo médico Samir Nabhan, concluiu que iniciar a CAR-T na segunda ou terceira linha terapêutica aumenta as chances de cura e reduz os custos associados a recidivas. Atualmente, a tecnologia é aprovada no Brasil para pacientes com linfomas e leucemias refratárias a terapias anteriores, mas sua aplicação permanece restrita à rede privada.

Na oncologia, o tratamento contra o câncer é organizado por linhas de terapia. Primeiro, pacientes com linfoma difuso de grandes células B recebem quimioterapia combinada a imunoterapia (R-CHOP). Se o tumor retorna, uma segunda linha mais agressiva é aplicada, geralmente com quimioterapia intensificada ou transplante autólogo de medula. Em caso de nova recaída, terapias avançadas como a CAR-T entram em cena.

O estudo sugere inverter essa lógica: quanto mais cedo a CAR-T é aplicada, maior a economia e o potencial de cura.

Custos, impacto clínico e economia gerada

A CAR-T consiste na coleta e modificação genética de linfócitos T do próprio paciente para reconhecer e destruir células cancerígenas. Após alteradas em laboratório fora do país, essas células são reinfundidas no organismo, aumentando a capacidade de combate ao tumor.

As células Car-T, quando reinfundidas no organismo, aumentam as chances de combater o câncer (Imagem: Assessoria do Hemocentro do HC-FMRP)

Entre os principais resultados observados:

  • economia média de R$ 194 mil por paciente quando aplicada antes do epcoritamab;
  • redução estimada de até R$ 1,3 milhão por paciente quando utilizada ainda na segunda linha;
  • menor necessidade de novas internações e terapias adicionais;
  • aumento nas taxas de cura para 50% a 60% em dois anos, frente aos cerca de 20% anteriores à CAR-T.

Segundo Nabhan, investir cedo traz retorno clínico e financeiro, reduzindo o número de recidivas e ampliando as chances de longa sobrevida.

Desafios e perspectivas no Brasil

Apesar do potencial, a CAR-T ainda não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e depende de infraestrutura complexa e centros especializados. Hoje, o acesso ocorre apenas em instituições privadas e depende de planos de saúde ou recursos próprios.

A terapia de células Car-T ainda não está disponível no SUS (Imagem: Léo Ramos Chaves/Revista Pesquisa FAPESP)

Pesquisadores de instituições como Fiocruz e Instituto Butantan trabalham no desenvolvimento de versões nacionais da terapia, o que poderia diminuir custos e ampliar sua oferta. Especialistas ressaltam que produzir parte da tecnologia no Brasil reduziria a dependência internacional e contribuiria para tornar o tratamento mais acessível.

Leia mais:

Para Nabhan, o futuro da terapia contra o câncer envolve ampliar a visão sobre custos e benefícios: embora cara, a CAR-T se mostra custo-efetiva ao garantir mais cura, menos recaídas e maior qualidade de vida para os pacientes.

Maurício Thomaz
Colaboração para o Olhar Digital

Jornalista com mais de 13 anos de experiência, tenho faro pela audiência e verdadeira paixão em buscar alternativas mais assertivas para a entrega do conteúdo ao usuário.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.