Por que o nome do visitante interestelar é 3I/ATLAS?

Um dos nomes mais falados ultimamente nos veículos especializados em astronomia e na mídia em geral é 3I/ATLAS; mas, o que isso quer dizer?
Flavia Correia03/11/2025 13h37
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Uma imagem profunda do cometa interestelar 3I/ATLAS capturada pelo Espectrógrafo Multiobjeto Gemini (GMOS) no Telescópio Gemini Sul. Crédito: Observatório Internacional Gemini/NOIRLab/NSF/AURA. Processamento de imagens Shadow the Scientist: J. Miller e M. Rodriguez (Observatório Internacional Gemini/NSF NOIRLab), TA Rector (Universidade do Alasca Anchorage/NSF NOIRLab), M. Zamani (NSF NOIRLab)
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Desde que foi descoberto, o cometa 3I/ATLAS está na mira de diversos telescópios espaciais e terrestres. As observações são analisadas por cientistas do mundo todo, empenhados em desvendar os segredos do objeto, que é apenas o terceiro visitante interestelar já detectado no Sistema Solar

Mas, o que significa o nome dado a esse corpo celeste? Antes, vamos relembrar a história do “forasteiro”, vindo de um sistema estelar ainda desconhecido – e que, talvez, nunca seja revelado.

Animação simula trajetória do cometa interestelar 3I/ATLAS pelo Sistema Solar. Crédito: TheSkyLive.com

Em resumo:

  • Quando foi detectado, em julho, o objeto foi temporariamente chamado de A11pl3Z;
  • Ele foi identificado como um cometa interestelar logo no dia seguinte, recebendo os nomes de C/2025 N1 (ATLAS) e 3I/ATLAS;
  • Em um dos primeiros estudos sobre o cometa, astrônomos estimaram que o objeto pode ter cerca de sete bilhões de anos;
  • Isso faz dele mais velho que o Sistema Solar;
  • Não demorou para surgirem especulações sobre possível origem tecnológica alienígena;
  • Refutada pela maioria dos cientistas, a ideia foi descartada pela NASA;
  • A teoria se baseia em detalhes como a composição química “bizarra” do corpo celeste, com a presença de níquel atômico, por exemplo;
  • Missão SPHEREx, lançada pela NASA em março para mapear o céu em infravermelho a fim de investigar a origem do Universo, detectou dióxido de carbono na nuvem de gás que envolve o núcleo do cometa;
  • Essa nuvem, chamada coma, brilha em verde e tem quase 350 mil km de extensão;
  • Imagens capturadas por telescópios em solo mostram que o 3I/ATLAS desenvolveu uma cauda voltada para o Sol – chamada de anticauda;
  • O objeto atingiu o periélio (ponto mais próximo da estrela), na última quarta-feira (29);
  • Antes disso, ele passou relativamente próximo a Marte, sendo analisado por espaçonaves que orbitam o planeta;
  • Missões dedicadas a investigar Júpiter e suas luas, como a Juno e a Europa Clipper, ambas da NASA, e a JUICE, da Agência Espacial Europeia (ESA), também estão sendo aproveitadas para estudar o ilustre visitante;
  • Após dias desaparecido no brilho solar, o cometa está voltando a aparecer no céu da Terra;
  • Ele atinge o ponto de aproximação máxima com o planeta em dezembro – mas não tão próximo para oferecer risco de colisão;
  • Depois, ele segue sua trajetória para deixar o Sistema Solar.

O que significa 3I/ATLAS?

O 3I/ATLAS foi relatado pela primeira vez em 1º de julho, pelo Deep Random Survey, um grupo de astrônomos amadores no Chile. Depois, cientistas encontraram registros anteriores, mostrando que ele já havia sido captado em 14 de junho pelo Sistema de Último Alerta para Impacto de Asteroides com a Terra (ATLAS, na sigla em inglês), financiado pela NASA, que monitora objetos que possam representar risco de colisão com o nosso planeta.

O cometa 3I/ATLAS, quando visto pela primeira vez pelo projeto Deep Random Survey, no Chile, recebendo o nome provisório de A11pl3Z. Crédito: K Ly (astrafoxen) X/ Deep Random Survey

Normalmente, depois que astrônomos definem a órbita do objeto com observações adicionais em solo, o Minor Planet Center atribui uma designação inicial do tipo “P/ano letra-número”, para cometas periódicos (que retornam ao Sistema Solar) ou “C/ano letra-número”, para não-periódicos (que passam apenas uma vez pelo Sistema Solar ou tem um período muito longo).

O objeto foi então chamado de C/2025 N1 (ATLAS). A letra “N” corresponde à primeira metade de julho (dias 1 a 15) no sistema de codificação de “meio‑mês” (A – primeira quinzena de janeiro, B – segunda quinzena de janeiro, C – primeira quinzena de fevereiro, e assim por diante). Já o número 1 quer dizer que ele foi o primeiro descoberto naquele período, segundo a ESA.

Esse é o nome na classificação oficial dos cometas em geral. No entanto, como, além de cometa, esse também é um objeto interestelar, ele recebe outra designação dentro dessa categoria específica.

No caso, 3I/ATLAS, que significa:

  • 3: terceiro objeto interestelar já identificado;
  • I/: de interestelar, ou seja, que vem de fora do Sistema Solar;
  • ATLAS: descoberto pelo sistema ATLAS.
O Telescópio Espacial Hubble capturou esta imagem do cometa interestelar 3I/ATLAS em 21 de julho de 2025, quando o objeto estava a 445 milhões de quilômetros da Terra. Imagem: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA); Processamento de imagem: Joseph DePasquale (STScI)

Leia mais:

Sonda revolucionária espia visitante interestelar este mês

Lançada em abril de 2023, pela Agência Espacial Europeia (ESA), a sonda JUICE vai levar oito anos para chegar ao destino – o planeta Júpiter. Mas, antes de alcançar o gigante gasoso para estudar as luas geladas Ganimedes, Calisto e Europa, ela tem uma missão extraordinária a cumprir: uma campanha inédita de observação do cometa 3I/ATLAS.

Isso acontece entre os dias 2 e 25, de acordo com um comunicado da ESA, pouco depois que o objeto chegou ao periélio. Saiba mais aqui.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.