Ano 536: um dos períodos mais sombrios e misteriosos da humanidade

Entenda por que o ano 536 dC foi marcado por clima extremo, fome e pandemias, sendo considerado o pior período para se viver.
Por Maurício Thomaz, editado por Bruno Capozzi 04/11/2025 06h36, atualizada em 04/11/2025 06h53
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Imagem criada com inteligência artificial: Olhar Digital/ChatGPT.
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O ano 536 d.C. é frequentemente citado por historiadores como um dos períodos mais sombrios da humanidade. Relatos históricos e evidências científicas apontam que esse foi o início de uma fase marcada por fenômenos climáticos devastadores, queda acentuada de temperaturas, colapso agrícola e crises sociais profundas em diversas regiões do planeta. Pesquisadores sugerem que tudo começou após uma enorme erupção vulcânica – ainda sem origem totalmente confirmada – que lançou poeira e partículas na atmosfera, bloqueando a luz solar e provocando um “inverno vulcânico” global.

Estudos indicam que a erupção pode ter ocorrido em El Salvador ou na Islândia, com registros geológicos que reforçam a hipótese islandesa. Também há indícios de que uma série de erupções entre 536 e 540 d.C. intensificou o cenário de caos climático.

Há registros de epidemias em 536 dC, incluindo peste bubônica no Egito
Há registros de epidemias em 536 dC, incluindo peste bubônica no Egito (Imagem: Rawpixel.com / Shutterstock)

Céu escurecido e colapso climático

Registros escritos da época evidenciam o impacto do escurecimento do céu. Em 538, o estadista romano Cassiodoro descreveu um Sol enfraquecido, com aparência azulada e incapaz de projetar sombras ao meio-dia. O historiador bizantino Procopius também relatou um efeito semelhante, apontando temor generalizado diante do fenômeno.

Historiadores trabalham com a hipótese de que um vulcão entrou em erupção e suas cinzas atingiram a atmosfera
Historiadores trabalham com a hipótese de que um vulcão entrou em erupção e suas cinzas atingiram a atmosfera (Imagem: Wirestock Creators / Shutterstock)

A ciência moderna confirma esses relatos: amostras de gelo na Groenlândia e na Antártida revelam presença de partículas vulcânicas e poeira ácida, enquanto anéis de árvores na Dinamarca demonstram crescimento extremamente reduzido nesse período — reflexo direto do frio e da baixa luminosidade.

Impactos globais do ano 536

O resfriamento abrupto atingiu principalmente o Hemisfério Norte, contribuindo para o início da chamada Pequena Idade do Gelo da Antiguidade Tardia. A agricultura colapsou, com falta de alimentos e fome generalizada, especialmente na Europa e na Ásia. A seguir, alguns eventos associados ao período:

  • quedas drásticas nas temperaturas globais
  • relatos de neve no verão na China
  • secas severas em regiões da América do Sul
  • registros de falhas nas colheitas e fome na Irlanda
  • epidemias, incluindo peste bubônica no Egito

Poucos anos depois, a situação piorou com a chegada da Peste Justiniana, que matou milhões no Império Bizantino, contribuindo para seu enfraquecimento. O impacto social e político foi profundo e duradouro, influenciando o declínio de antigas potências.

A peste matou milhões no ano de 536 dC (Imagem: illustrissima / Shutterstock.com)

Ao mesmo tempo, o clima mais seco na Ásia Central pressionou tribos nômades a deslocarem-se, provocando conflitos regionais e, curiosamente, alianças inesperadas entre povos da estepe e o Império Romano do Oriente. Em outra parte do mundo, o aumento de chuvas na Península Arábica favoreceu o florescimento de novas forças políticas, abrindo caminho para a ascensão do poder árabe no século VII.

Consequências históricas duradouras

O ano 536, portanto, não foi apenas um período de dificuldade momentânea. Ele marcou o início de transformações geopolíticas profundas, alterando rotas de poder e provocando crises que repercutiram por séculos. Para muitos especialistas, trata-se de um ponto de virada na história global, em que fenômenos naturais moldaram diretamente o destino de civilizações inteiras.

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As informações são do IFL Science.

Maurício Thomaz
Colaboração para o Olhar Digital

Jornalista com mais de 13 anos de experiência, tenho faro pela audiência e verdadeira paixão em buscar alternativas mais assertivas para a entrega do conteúdo ao usuário.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.