Drex: Real digital pode ter mudado de rumo – ou chegado ao fim; entenda

Fontes dizem ao Valor Investe que Banco Central encerrou o Drex; já a Folha fala em reestruturação e nova fase do real digital
Pedro Spadoni05/11/2025 08h31
Celular com logomarca do Drex na tela colocado em cima de teclado de notebook
(Imagem: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)
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O projeto do real digital pode ter chegado ao fim – ou apenas mudado de rumo. Enquanto o Valor Investe afirma que o Banco Central (BC) decidiu encerrar o Drex, a Folha de S. Paulo, por exemplo, fala em adiamento e reestruturação da iniciativa, que passaria a focar em serviços de garantias de crédito.

As duas reportagens em questão trazem informações obtidas por fontes próximas ao BC. E essas informações ainda não foram confirmadas oficialmente pela instituição, que não se manifestou até a publicação desta matéria.

Encerrado ou adiado? O futuro do Drex no Brasil

As matérias publicadas pelo Valor e pela Folha mostram leituras diferentes sobre a atual fase do Drex, projeto que buscava criar uma moeda digital brasileira emitida pelo Banco Central. 

Enquanto o Valor fala em encerramento definitivo e desligamento da infraestrutura tecnológica, a Folha indica que o BC vai manter parte da iniciativa, mas com foco reduzido e cronograma adiado para 2026.

Drex pode ter sido encerrado…

Segundo o Valor, o BC teria decidido encerrar o Drex após reunião com representantes dos consórcios que participavam da iniciativa. Fontes ouvidas pelo veículo afirmaram que a plataforma tecnológica será desligada na próxima semana e que a decisão marca “o fim do Drex”. 

Logomarca do Drex, conhecido como real digital
BC teria decidido encerrar o Drex após reunião com representantes dos consórcios que participavam da iniciativa (Imagem: Divulgação/Banco Central)

Ainda de acordo com essas fontes, o movimento não deve ser visto como um fracasso, mas como o encerramento de uma etapa experimental que revelou os limites da tecnologia blockchain num ambiente estatal.

A reportagem explica que o principal motivo para o desligamento seria a falta de privacidade das transações em blockchain, característica considerada incompatível com o sigilo exigido no sistema financeiro nacional. 

Em agosto, o coordenador do projeto, Fábio Araújo, já havia sinalizado que o BC estudava abandonar o uso dessa tecnologia, após não conseguir conciliar transparência e privacidade nos testes.

Apesar do encerramento da plataforma, o Valor destaca que a inovação deve continuar, agora sob liderança do mercado e com o BC atuando apenas como regulador. 

Segundo as fontes, a autoridade monetária deve concentrar esforços em discutir modelos de negócio e alternativas tecnológicas para futuros projetos de tokenização. 

Uma “fase 3”, prevista para 2026, incluiria estudos sobre novos usos de ativos digitais, mas sem a estrutura pública original do Drex.

… ou ‘desidratado’ e adiado

Já de acordo com a Folha, o BC não encerrou o Drex, mas adiou e reduziu o escopo do projeto. Araújo afirmou que a função de pagamento deixou de ser prioridade e que a nova fase deve focar num serviço para facilitar o uso de garantias de crédito

A mudança, segundo ele, ocorre diante de obstáculos tecnológicos e impasses de privacidade que impediram o avanço do sistema como moeda digital.

Fachada do Banco Central do Brasil
Banco Central não conseguiu equilibrar privacidade e integração entre os serviços operados no Drex, segundo jornal (Imagem: Leonardo Sá/Agência Senado)

A reportagem explica que, nos testes realizados, o BC não conseguiu equilibrar privacidade e integração entre os serviços operados na plataforma. As soluções experimentadas não atingiram o grau de maturidade exigido pelo sistema financeiro. E a equipe técnica ainda enfrenta limitações de segurança, escalabilidade e recursos humanos. 

Com isso, o órgão decidiu reorientar o projeto e concentrar esforços num novo piloto voltado a registros de gravames, que indicam quando um ativo está atrelado a um financiamento ou servindo de garantia.

Ainda segundo a Folha, parte da infraestrutura DLT (tecnologia de registro distribuído) usada nos testes será desligada na próxima semana – o que pode ter gerado a interpretação de “fim” relatada pelo Valor

No entanto, a publicação reforça que o BC pretende iniciar uma nova etapa do Drex em 2026, voltada a melhorar a interoperabilidade e a segurança de operações de crédito. A instituição, porém, evita prever quando esse novo serviço poderá ser oferecido ao público.

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O que se sabe até agora sobre o futuro do Drex

Até o momento, o Banco Central não se pronunciou oficialmente sobre o status do Drex. No entanto, as matérias publicadas pelo Valor Investe e pela Folha de S. Paulo indicam que o projeto passa, no mínimo, por uma reavaliação profunda diante de desafios técnicos e regulatórios que impediram sua evolução como moeda digital.

O Drex foi anunciado em 2023 como o real digital brasileiro, um projeto que buscava integrar a tecnologia blockchain ao sistema financeiro para permitir transações com ativos tokenizados e contratos inteligentes. 

Desde o início, enfrentou dificuldades com privacidade e escalabilidade, além da falta de consenso sobre o modelo tecnológico ideal. Enquanto o BC não se manifesta (o Olhar Digital pediu esclarecimento à instituição financeira), o futuro do Drex permanece incerto.

Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.