Como a radioastronomia mudou a busca por vida extraterrestre

Avanço tecnológico permitiu a criação de um área de pesquisa que hoje engloba todos os esforços para procurar vida inteligente fora da Terra
Por Alessandro Di Lorenzo, editado por Bruno Capozzi 06/11/2025 06h30
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Imagem: zhengzaishuru/Shutterstock
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Um dos objetivos da exploração espacial sempre foi encontrar vida fora da Terra. Embora ainda não haja evidências da existência de seres extraterrestres – nem mesmo microscópicos -, essa busca possibilitou avanços científicos impressionantes.

Em artigo publicado no portal The Conversation, Gabriela Radulescu, pesquisadora do Smithsonian Institution, destaca a importância da radioastronomia neste processo. Uma tecnologia que permitiu a criação de um área de pesquisa que hoje recebe o nome de busca por inteligência extraterrestre, ou SETI.

Tecnologia para buscar vida fora da Terra evoluiu muito nos últimos anos (Imagem: divulgação/National Radio Astronomy Observatory)

A criação do SETI

  • A autora lembra que, à medida que os humanos começaram a explorar o espaço na segunda metade do século XX, as ondas de rádio provaram ser uma ferramenta poderosa.
  • Os cientistas poderiam enviar ondas de rádio para se comunicar com satélites, foguetes e outras espaçonaves, e usar radiotelescópios para captar ondas de rádio emitidas por objetos em todo o universo.
  • No entanto, às vezes os radiotelescópios captavam os sinais de rádio artificiais.
  • Essa interferência ameaçava as observações astronômicas sensíveis, causando dados imprecisos e até danificando equipamentos.
  • Durante a Guerra Fria, surgiu a ideia de que os astrônomos poderiam procurar comunicações de rádio de civilizações extraterrestres possivelmente existentes.
  • Este campo hoje é chamado de busca por inteligência extraterrestre, ou SETI. 
  • Ele engloba todos os esforços para procurar vida inteligente fora da Terra.

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Legado dessa busca continua até hoje

A pesquisadora explica que, quando a ideia por trás do SETI foi proposta, na década de 1960, apenas dois países, os EUA e a URSS, tinham capacidade técnica para isso. Após a Segunda Guerra Mundial, no entanto, os cientistas descobriram que poderiam usar as antenas de radar para detectar sinais de rádio vindos de objetos no universo.

Na antiga União Soviética, o proeminente pioneiro da radioastronomia Iosif Samuilovich Shklovsky desempenhou um papel fundamental na detecção de sinais de rádio do hidrogênio. Shklovsky descobriu como detectar hidrogênio com ondas de rádio, o que ajudou os astrônomos a mapear a distribuição e o movimento do gás hidrogênio dentro e entre as galáxias.

Gabriela Radulescu, pesquisadora do Smithsonian Institution
URSS enviou primeira mensagem de rádio para Vênus a partir de um radar instalado na Crimeia (Imagem: Arquivo do Observatório Nacional de Radioastronomia)

Shklovsky mais tarde ficou fascinado com a possibilidade de usar ondas de rádio para entrar em contato com outros seres inteligentes no universo. Em 1962, a Academia de Ciências da URSS enviou sua primeira mensagem de rádio na direção de Vênus a partir de um radar na Crimeia.

Os esforços para colaborar internacionalmente em sinais artificiais culminaram em 1971 com um simpósio em Byurakan. Lá, cerca de 50 cientistas – a maioria dos EUA e da URSS, mas também alguns da Tchecoslováquia, Hungria, Reino Unido e Canadá. Depois de quase uma semana de discussão, os dois blocos geopolíticos designaram um grupo oficial do SETI. Esse grupo ainda existe hoje e ainda conecta pesquisadores de todo o mundo que conduzem pesquisas. Dado o sigilo em torno dos sinais de rádio no espaço, este grupo internacional marcou uma conquista diplomática importante no auge da Guerra Fria.

Gabriela Radulescu, pesquisadora do Smithsonian Institution
Mesmo sem evidências de extraterrestres, buscas continuam. E nem precisamos descobrir homenzinhos verdes! A aposta está em vida microscópica. (Imagem: FOTOKITA/Shutterstock)

O SETI é o primeiro e único domínio da astronomia a estudar os próprios sinais de rádio artificiais. Ele abordou indiretamente a interferência de radiofrequência durante uma época em que elas eram altamente desreguladas. E o legado continua até hoje, com a descoberta de novos objetos e fenômenos astrofísicos.

Alessandro Di Lorenzo
Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.