Autoridades argentinas descobriram uma estrutura empresarial por trás de serviços ilegais de streaming, como My Family Cinema e TV Express. A investigação revelou escritórios com mais de cem funcionários, setores administrativos e até recursos humanos – tudo operando como uma empresa formal, mas dedicada à distribuição de conteúdo pirateado.
A operação, conduzida pela Justiça da Argentina e denunciada pela Alianza Contra la Piratería Audiovisual, levou à derrubada de dezenas de plataformas hospedadas no país vizinho.
Segundo os investigadores, o esquema movimentava até R$ 1 bilhão por ano em assinaturas e tinha milhões de clientes no Brasil. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) acompanha o caso e reforça que atua em cooperação com autoridades estrangeiras e órgãos nacionais no combate a TV boxes e streamings piratas.
Denúncia internacional levou à descoberta da rede bilionária
A investigação começou em 2024, após uma denúncia apresentada pela Alianza Contra la Piratería Audiovisual, segundo o G1. A entidade, que reúne empresas e órgãos de defesa dos direitos autorais na América Latina, decidiu investigar o aplicativo MagisTV, também conhecido como UniTV e HTV, usado em TV boxes irregulares vendidas no Brasil.

Representantes da associação compraram modelos como Duosat e BTV para rastrear o funcionamento das plataformas e identificar servidores que hospedavam conteúdo pirateado.
A denúncia levou o Ministério Público Fiscal de Buenos Aires a abrir uma investigação formal, que resultou em buscas e apreensões em quatro escritórios ligados ao grupo.
As autoridades encontraram 88 notebooks, 37 HDs, 568 cartões de recarga e cerca de R$ 700 mil em dinheiro e criptomoedas. Um dos escritórios tinha 100 funcionários contratados, inclusive com um setor de Recursos Humanos – estrutura típica de empresas legítimas.
Streamings piratas tinham milhões de clientes no Brasil
De acordo com a Alianza, os serviços derrubados somavam 6,2 milhões de assinantes ativos, dos quais 4,6 milhões eram Brasil. O modelo de negócio operava como um serviço de assinatura tradicional: cada usuário pagava de US$ 3 a US$ 5 por mês (entre R$ 16 e R$ 27) para acessar filmes, séries e transmissões esportivas sem licença.
A associação estima que o esquema tenha movimentado entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões por ano – o equivalente a cerca de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão – antes de ser desmontado.

A investigação revelou que o crescimento do público coincidiu com eventos esportivos de grande audiência, como o Mundial de Clubes. Entre os principais serviços envolvidos estavam o My Family Cinema e o TV Express, ambos populares entre brasileiros por funcionarem em TV boxes piratas.
Segundo a Alianza, ao menos 28 plataformas devem ser desativadas até o fim de novembro, o que consolidaria uma das maiores operações antipirataria já feitas na América Latina.
Até a publicação desta matéria, as plataformas de streaming piratas que tinham sido derrubadas eram:
- My Family Cinema;
- TV Express;
- Eppi Cinema;
- Vela Cinema;
- Cinefly;
- Vexel Cinema;
- Humo Cinema;
- Yoom Cinema;
- Bex TV;
- Jovi TV;
- Lumo TV;
- Nava TV;
- Samba TV;
- Ritmo TV.
Anatel intensifica cooperação e alerta para riscos de TV boxes piratas
Em nota enviada ao Olhar Digital, a Anatel informou que tem cooperado com instituições públicas e privadas, além de autoridades de diversos países, para combater a pirataria nas redes de telecomunicações.
A agência atua em parceria com a ABTA, a Ancine, a Receita Federal, a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e o Ministério da Justiça para bloquear o funcionamento de TV boxes não homologadas e impedir a transmissão de conteúdo de streaming pirata. Segundo o órgão, o aplicativo My Family Cinema é um dos mais comuns nesses dispositivos ilegais.
A Anatel reforça que o processo de homologação é essencial para garantir a segurança cibernética e técnica dos equipamentos, evitando interferências em outros aparelhos e riscos de ataques hacker, como os de negação de serviço (DDoS).
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A agência também afirma que continuará a intensificar as ações de fiscalização e cooperação internacional para proteger os consumidores, o mercado legal e a integridade das redes de telecomunicações no país.