A síndrome de Reye é uma doença rara, porém grave, que pode afetar principalmente crianças e adolescentes em recuperação de infecções virais, como gripe ou catapora.
Embora pouco conhecida, ela ganhou atenção médica e do público devido à sua associação com o uso de aspirina durante quadros virais. A condição provoca inflamação no fígado e no cérebro, podendo levar a complicações neurológicas severas, falência hepática e, em casos extremos, à morte.
Diagnosticar a síndrome de Reye rapidamente é crucial, já que os primeiros sintomas podem se assemelhar aos de uma gripe comum, dificultando a identificação precoce. Médicos recomendam cautela com medicamentos à base de ácido acetilsalicílico em crianças, destacando alternativas seguras como paracetamol ou ibuprofeno.
Vamos entender o que causa a síndrome de Reye, como ela se manifesta, seu vínculo com aspirina e infecções virais, além das formas de prevenção e tratamento.
O que é a síndrome de Reye?
A síndrome de Reye é uma condição médica caracterizada pela rápida deterioração do fígado e do cérebro. Ela foi descrita pela primeira vez na década de 1960 pelo Dr. R. Douglas Reye, que identificou casos de crianças que apresentavam sintomas graves após infecções virais. Embora rara, a doença pode evoluir rapidamente e requer atenção médica imediata.
O quadro clínico é marcado por vômitos persistentes, alterações de comportamento, confusão mental, convulsões e, em casos graves, coma. A síndrome interfere no metabolismo celular, levando à acumulação de ácidos orgânicos e amônia no sangue, o que provoca intoxicação do organismo e aumento da pressão intracraniana.
O fator mais preocupante é que, devido à sua semelhança com sintomas de viroses comuns, o diagnóstico precoce pode ser desafiador, tornando a educação de pais e profissionais de saúde fundamental para prevenir complicações graves.

/Shutterstock)
Como a aspirina está relacionada à síndrome de Reye?
O vínculo entre a síndrome de Reye e o uso de aspirina (ácido acetilsalicílico) é um dos aspectos mais estudados da doença. Diversos estudos mostraram que crianças que tomam aspirina durante uma infecção viral têm risco significativamente maior de desenvolver a síndrome.
O mecanismo exato ainda não é totalmente compreendido, mas acredita-se que a aspirina interfira na função mitocondrial das células do fígado, tornando-as mais vulneráveis ao estresse metabólico causado por vírus. Isso pode desencadear lesões hepáticas graves e o acúmulo de substâncias tóxicas no corpo, culminando em sintomas neurológicos graves.
Por isso, órgãos de saúde como o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) e a OMS recomendam evitar a administração de aspirina em crianças e adolescentes, especialmente em casos de gripe, catapora ou qualquer outra doença viral. Alternativas seguras, como paracetamol e ibuprofeno, são indicadas para controlar febre e dor.

Quais vírus estão associados à síndrome de Reye?
A síndrome de Reye geralmente ocorre após infecções virais. Entre os vírus mais comuns associados à doença estão:
- Varicela-zoster (catapora): estudos indicam que o risco de desenvolver a síndrome é mais alto quando a aspirina é administrada durante ou logo após a doença.
- Influenza (gripe): tanto o tipo A quanto o B podem ser gatilhos, principalmente se a criança estiver em uso de aspirina.
- Vírus respiratórios comuns: alguns relatos associam a síndrome a resfriados ou infecções respiratórias virais, embora esses casos sejam mais raros.
É importante destacar que a síndrome de Reye não é contagiosa. O risco está relacionado à interação entre o vírus e fatores químicos ou metabólicos, como a aspirina, em indivíduos suscetíveis.
Leia também:
- O que é a síndrome de Lázaro e por que ela ocorre?
- O que é a síndrome do coração partido e como diagnosticar?
- Aspirina pode impedir o avanço do câncer de colorretal
Sintomas da síndrome de Reye
Reconhecer os sinais iniciais da síndrome de Reye é crucial para a intervenção precoce. Os sintomas podem variar conforme a idade e a gravidade da doença, mas os mais comuns incluem:
- Vômitos persistentes e intensos;
- Letargia ou fadiga incomum;
- Alterações de comportamento, incluindo irritabilidade e confusão;
- Sonolência excessiva ou dificuldade para despertar;
- Convulsões;
- Alterações respiratórias;
- Coma em casos avançados.
A evolução rápida dos sintomas exige atenção imediata. Se houver suspeita, é recomendado buscar atendimento médico sem demora, pois a intervenção precoce aumenta significativamente as chances de recuperação.

Diagnóstico da síndrome de Reye
O diagnóstico da síndrome de Reye exige uma avaliação clínica detalhada acompanhada de exames laboratoriais. Normalmente, o médico solicita exames de sangue para verificar a função hepática, os níveis de amônia, glicose e eletrólitos, além de exames de imagem, como tomografia ou ressonância magnética, que ajudam a avaliar o estado do cérebro em casos mais graves.
Também é feita uma análise minuciosa do histórico médico do paciente, especialmente para identificar o uso recente de aspirina ou outros medicamentos durante infecções virais. O diagnóstico precoce é fundamental, pois o tratamento iniciado rapidamente pode reduzir significativamente o risco de complicações e de morte.
Tratamento da síndrome de Reye
Não existe cura específica para a síndrome de Reye, mas o tratamento médico de suporte é eficaz se iniciado cedo. As medidas incluem:
- Internação hospitalar: para monitoramento constante de funções vitais.
- Controle da pressão intracraniana: medicamentos ou procedimentos para reduzir o inchaço cerebral.
- Reposição de líquidos e eletrólitos: mantém o equilíbrio metabólico.
- Medicação para complicações: anticonvulsivantes e outros medicamentos podem ser administrados conforme necessário.
O tratamento precoce, combinado com suporte intensivo, aumenta as chances de recuperação completa, mas atrasos podem resultar em sequelas neurológicas permanentes ou morte.
Prevenção da síndrome de Reye
A prevenção da síndrome de Reye é bastante direta e está centrada em cuidados simples com o uso de medicamentos e na manutenção das vacinas em dia.
Segundo o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), o uso de aspirina e de outros medicamentos que contenham salicilatos deve ser evitado em crianças e adolescentes durante infecções virais, como gripe e catapora, pois há uma relação comprovada entre esses fármacos e o desenvolvimento da síndrome.
O National Health Service (NHS) também reforça essa recomendação e orienta que a aspirina não deve ser administrada a menores de 16 anos, salvo sob prescrição médica específica.
Além disso, manter as vacinas contra gripe e varicela atualizadas ajuda a reduzir o risco de infecções que podem desencadear a doença.
Pais e cuidadores devem estar atentos a sinais de alerta, como vômitos persistentes, confusão mental ou sonolência incomum, buscando atendimento médico imediato. Com essas medidas simples e baseadas em evidências, é possível minimizar de forma eficaz o risco da síndrome de Reye.

Prognóstico e complicações
O prognóstico da síndrome de Reye depende da rapidez do diagnóstico e do início do tratamento. Em casos leves, crianças podem se recuperar totalmente. No entanto, complicações graves incluem:
- Danos cerebrais permanentes;
- Alterações cognitivas ou comportamentais;
- Problemas hepáticos crônicos;
- Coma e risco de morte.
Estudos indicam que, desde que o uso de aspirina em crianças tenha sido reduzido, os casos de síndrome de Reye diminuíram significativamente, tornando a doença ainda mais rara.
Síndrome de Reye na mídia e conscientização
Apesar de rara, a síndrome de Reye recebeu atenção da mídia nas décadas de 1980 e 1990, quando vários casos graves foram associados ao uso de aspirina. Desde então, campanhas de conscientização e orientações médicas reduziram drasticamente a incidência.
Hoje, a educação de pais e cuidadores sobre o risco de aspirina em crianças é a ferramenta mais eficaz para prevenir a doença. Informações confiáveis e atualizadas ajudam a evitar pânico, mas reforçam a necessidade de cautela e atenção aos sinais de alerta.
A síndrome de Reye é uma doença rara, mas potencialmente letal, que afeta principalmente crianças e adolescentes em recuperação de infecções virais. O vínculo com o uso de aspirina é bem documentado, e a prevenção depende de evitar o medicamento durante viroses e manter a vacinação em dia.
Reconhecer os sinais precoces, como vômitos persistentes, confusão e sonolência excessiva, é crucial para a intervenção rápida. Com diagnóstico e tratamento adequados, a maioria das crianças se recupera, mas atrasos podem levar a complicações graves.
As informações presentes neste texto têm caráter informativo e não substituem a orientação de profissionais de saúde. Consulte um médico ou especialista para avaliar o seu caso.