Meta teria lucrado bilhões com anúncios ilegais, diz agência

Até 10% da receita anual da Meta teria vindo de ads ligados a golpes, cassinos e produtos proibidos, segundo documentos obtidos pela Reuters
Pedro Spadoni06/11/2025 11h50, atualizada em 06/11/2025 15h14
Ilustração de rosto de Mark Zuckerberg ao lado do logotipo da sua empresa, a Meta
(Imagem: Kemarrravv13/Shutterstock)
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A Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, teria lucrado bilhões de dólares com anúncios fraudulentos e ilegais, segundo documentos internos obtidos pela Reuters e revelados nesta quinta-feira (06).

De acordo com a investigação, a empresa estimou que até 10% de toda a sua receita anual – cerca de US$ 16 bilhões (aproximadamente R$ 92 bilhões) – teriam vindo de campanhas ligadas a golpes, produtos proibidos e cassinos online.

Durante anos, a gigante das redes sociais sabia da escala do problema e hesitou em agir, temendo prejuízos ao seu modelo de negócios, segundo a agência de notícias. 

A Meta exibia diariamente até 15 bilhões de anúncios de “alto risco” e, em vez de bani-los, chegou a cobrar valores mais altos de anunciantes suspeitos, lucrando ainda mais com o esquema. 

A reportagem da Reuters reacende o debate sobre a responsabilidade das plataformas digitais em conter fraudes e proteger usuários.

Meta sabia dos golpes, mas preferiu lucrar com eles, diz agência

Documentos internos obtidos pela Reuters revelam que a Meta identificava e classificava milhares de anunciantes suspeitos, mas só bloqueava campanhas quando seus sistemas automáticos apontavam 95% de chance de fraude

Fachada de um prédio da Meta
Meta só bloqueava campanhas quando seus sistemas automáticos apontavam 95% de chance de fraude, segundo documentos obtidos pela Reuters (Imagem: Tada Images/Shutterstock)

Quando a probabilidade era menor – mesmo com fortes indícios de golpe – a empresa optava por cobrar mais caro desses anunciantes. O mecanismo, chamado de penalty bids, transformava suspeitos de fraude em fonte extra de receita.

Segundo os registros, a Meta exibia cerca de 15 bilhões de anúncios de alto risco por dia, ligados a esquemas de e-commerce falso, investimentos fraudulentos, cassinos ilegais e produtos médicos proibidos. 

Só essa categoria gerava US$ 7 bilhões (cerca de R$ 40 bilhões) por ano em publicidade. Em vez de cortar o problema pela raiz, a empresa buscava equilibrar as perdas com multas regulatórias e a manutenção de uma parte lucrativa, ainda que ilícita, do seu negócio.

Os documentos mostram também que usuários que clicavam em anúncios fraudulentos passavam a ver ainda mais golpes, por causa do sistema de personalização de anúncios da própria Meta. 

A lógica era: quanto mais alguém interagia com esse tipo de conteúdo, mais o algoritmo o entregava (lembra do “algoritmo P” mostrado pelo Felca no vídeo sobre adultização?). 

Internamente, a companhia reconhecia que suas plataformas haviam se tornado um pilar da economia global de fraudes online, segundo a Reuters.

Meta entra na mira de reguladores nos EUA e na Europa

A investigação da Reuters mostra que a Meta está sob pressão de órgãos reguladores nos Estados Unidos e no Reino Unido por permitir a veiculação de anúncios fraudulentos em larga escala. 

meta europa
Autoridades da Europa apontam que plataformas da Meta estiveram ligadas a 54% das perdas por fraudes online em 2023 (Imagem: rarrarorro/Shutterstock)

A SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) investiga a empresa por veicular golpes financeiros, enquanto autoridades britânicas apontam que plataformas da big tech estiveram ligadas a 54% das perdas por fraudes online em 2023. Isso é mais do que todas as concorrentes somadas, diga-se.

Mesmo com o risco de punições, a Meta calculava que as multas seriam menores do que o lucro obtido com os golpes. Um documento interno estimava até US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,7 bilhões) em sanções – bem abaixo dos bilhões faturados com anúncios ilegais. 

Em vez de uma mudança brusca, a empresa traçou uma meta gradual: reduzir o percentual de receita proveniente de fraudes de 10,1% em 2024 para 5,8% em 2027, agindo com mais firmeza apenas nos países onde temia ações imediatas de governo.

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O que diz a Meta

Em resposta à reportagem, o porta-voz da Meta, Andy Stone, afirmou que os documentos “apresentam uma visão distorcida” e que a estimativa de 10% da receita proveniente de golpes era “grosseira e superinclusiva”. 

Segundo ele, o levantamento interno serviu apenas para planejar investimentos em segurança.Ee a empresa teria concluído que a fatia real é menor. 

Stone acrescentou que a Meta removeu 134 milhões de anúncios fraudulentos em 2025 e reduziu em 58% o número de denúncias de golpes nos últimos 18 meses.

A companhia também diz investir cada vez mais em inteligência artificial (IA) para detectar fraudes. Seja como for, a big tech segue sob escrutínio de reguladores e de especialistas. A suspeita? Lucro e omissão andando lado a lado.

Em nota ao Olhar Digital, a Meta compartilhou a fala do porta-voz Andy Stone. Confira abaixo:

“Combatemos fraudes e golpes de forma agressiva porque nem as pessoas que usam nossas plataformas, nem os anunciantes legítimos e nem nós queremos isso. Os golpistas são criminosos persistentes, cujos esforços – muitas vezes em redes criminosas transnacionais que operam em escala global – crescem em sofisticação e complexidade. À medida que a atividade de golpes se torna mais persistente e sofisticada, nossos esforços também evoluem. Infelizmente, os documentos vazados apresentam uma visão seletiva que distorce a abordagem da Meta em relação a fraudes e golpes, ao focar apenas em nossos esforços para avaliar a dimensão do desafio, e não no conjunto de ações práticas que tomamos para enfrentar o problema.”

A empresa também informou novidades sobre os requisitos de verificação de anunciantes da Meta no Brasil. Leia abaixo o texto na íntegra enviado ao Olhar Digital:

“A Meta iniciará a partir de dezembro a expansão da sua verificação para anunciantes cujos anúncios atingem públicos no Brasil. A iniciativa faz parte do compromisso contínuo da Meta em manter altos padrões de segurança na plataforma e um ecossistema publicitário saudável para usuários e anunciantes.

A partir de dezembro, começaremos a exigir gradualmente que anunciantes cujos anúncios tenham como alvo usuários no Brasil verifiquem e indiquem quem se beneficia e quem paga por seus anúncios. Os anunciantes elegíveis serão notificados por e-mail e também por meio de ferramentas como o Gerenciador de Anúncios da Meta.”

Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.

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