Você tomaria? Café mais caro do mundo é feito do cocô de um mamífero

O Kopi Luwak é o café mais caro do mundo, considerado uma iguaria ao ser produzido a partir de grãos de café defecados por um mamífero
Por Bruno Ignacio de Lima, editado por Layse Ventura 07/11/2025 03h00
Uma xícara de Kopi Luwak, o café mais caro do mundo, originário de Bali, Indonésia
Uma xícara de Kopi Luwak, o café mais caro do mundo, originário de Bali, Indonésia (Imagem: Kenishirotie/Shutterstock)
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Se você é um entusiasta de café, talvez já tenha ouvido falar do “Kopi Luwak“, uma das bebidas mais raras, controversas e caras do mundo. Uma única xícara pode custar dezenas de dólares em cafeterias de luxo. Mas o que torna esse café tão especial não é a planta, e sim o processo: ele é feito a partir de grãos de café que foram comidos, digeridos e defecados por um pequeno mamífero.

O “chef” por trás dessa iguaria é a civeta-de-palma-asiática (Paradoxurus hermaphroditus), um animal selvagem nativo das florestas do Sudeste Asiático, especialmente da Indonésia.

Conheça o café mais caro do mundo e por que as pessoas gostam tanto dele

A civeta, um animal onívoro que se parece com um cruzamento entre um gambá e um gato, naturalmente inclui em sua dieta os frutos do cafeeiro. Acredita-se que, em estado selvagem, ela seleciona instintivamente os melhores e mais maduros frutos para comer.

Aqui é onde a “mágica” acontece. A polpa do fruto é digerida, mas o grão (a semente) passa quase intacto pelo sistema digestivo do animal. Durante esse trânsito intestinal, as enzimas digestivas da civeta penetram no grão.

Mão segurando grãos de Kopi luwak, ou café de civeta
Mão segurando grãos de Kopi luwak, ou café de civeta (Imagem: Thaninee Chuensomchit/Shutterstock)

Estudos sobre a composição química do grão indicam que esse processo quebra as proteínas responsáveis por grande parte do amargor do café. Além disso, a fermentação que ocorre no trato digestivo altera a composição química, resultando em uma bebida que os apreciadores descrevem como notavelmente mais suave, menos ácida e com notas complexas, terrosas ou achocolatadas.

Após a civeta defecar os grãos, eles são coletados pelos agricultores. Em seguida, passam por um rigoroso processo de limpeza, lavagem, secagem ao sol e, finalmente, a torra em alta temperatura. Os produtores garantem que esse processo elimina quaisquer bactérias, tornando o produto seguro para o consumo.

Leia mais

O segredo sombrio do café mais caro do mundo

O que começou como um processo “artesanal”, onde os grãos eram coletados de fezes de civetas selvagens na floresta, transformou-se em uma indústria intensiva e, muitas vezes, cruel.

A crescente demanda global e os altos preços transformaram o Kopi Luwak em um negócio lucrativo, levando ao aprisionamento generalizado de civetas para a produção em massa.

Investigadores e organizações de bem-estar animal têm denunciado as condições terríveis em muitas dessas fazendas. As civetas são frequentemente mantidas em gaiolas pequenas, sujas e apertadas. Pior: em vez de sua dieta natural onívora, muitas são alimentadas forçadamente apenas com frutos de café.

Civeta sentado no topo de um templo
Civeta sentado no topo de um templo (Imagem: Denis Moskvinov/Shutterstock)

Essa dieta restrita e o estresse do cativeiro causam uma série de problemas de saúde nos animais, incluindo desnutrição, doenças, automutilação e uma alta taxa de mortalidade.

Embora existam certificações de café “selvagem” (coletado sem cativeiro), especialistas apontam que é extremamente difícil verificar a autenticidade dessas alegações, já que a fiscalização é complexa.

Bruno Ignacio de Lima
Colaboração para o Olhar Digital

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Com 10 anos de experiência, é especialista na cobertura de tecnologia e conteúdo perene. Atualmente, é colaborador no Olhar Digital.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.