Entenda as novas regras do Banco Central para criptomoedas no Brasil

BC criou regras para autorizar e fiscalizar empresas de criptomoedas; entenda o que muda com as normas, que entram em vigor em 2026
Pedro Spadoni11/11/2025 10h21
Pessoa segurando uma criptomoeda
(Imagem: Skorzewiak/Shutterstock)
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O Banco Central (BC) deu um passo decisivo na regulação do mercado de criptomoedas no Brasil. A instituição publicou três resoluções que definem como devem funcionar as empresas que prestam serviços com ativos virtuais.

Em suma, as resoluções exigem autorização formal para operar e impõem regras sobre transparência, segurança e combate à lavagem de dinheiro. As normas entram em vigor em 2 de fevereiro de 2026 e as companhias terão nove meses para se adequar.

Na prática, o BC quer trazer para dentro do sistema financeiro um setor que cresceu sem supervisão direta. E que, segundo a própria autarquia, ainda oferece riscos de golpes, fraudes e operações ilegais

Com a mudança, empresas de cripto passam a seguir padrões semelhantes aos dos bancos e corretoras. Isso inclui, por exemplo: prestação de informações ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e avaliação do perfil de risco dos clientes.

O que muda com as novas regras do Banco Central para criptomoedas

As novas regras do Banco Central criam uma figura inédita no sistema financeiro: as Sociedades Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais (SPSAVs)

Criptomoedas
Novas regras do Banco Central para criptomoedas criam Sociedades Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais, figura inédita no sistema financeiro (Imagem ChinnapongShutterstock)

São elas que poderão atuar oficialmente com criptomoedas no país, desde que autorizadas pelo BC. O órgão estabeleceu ainda que essas empresas devem seguir as mesmas diretrizes aplicadas a bancos e corretoras. Entre elas, estão:

  • Regras de prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo;
  • Comunicação de operações suspeitas ao Coaf;
  • Adoção de controles internos robustos.

As SPSAVs serão classificadas em três tipos: intermediárias, custodiantes e corretoras. Cada categoria terá um capital mínimo obrigatório, que varia conforme o nível de risco das operações — de R$ 10,8 milhões para as intermediárias a R$ 37,2 milhões para as corretoras, que lidam com transações mais complexas. 

O objetivo dessa exigência é garantir que apenas empresas com estrutura financeira sólida e capacidade operacional possam atuar no setor – o que, em tese, reduz o risco de colapsos ou fraudes que prejudiquem investidores.

O diretor de Regulação do BC, Gilneu Vivan, definiu a medida como “um marco relevante na segurança” do mercado de criptoativos.

“A gente traz regras explícitas para que os prestadores de serviço tenham mecanismo para identificar o mau uso, práticas espúrias desse mercado, que tentem manipular o preço, ou uso de informações privilegiadas, evitando o prejuízo para os clientes”, afirmou em entrevista coletiva, segundo o jornal O Globo.

Cripto e câmbio: o que passa a valer nas transações

Além de exigir autorização das empresas, o Banco Central integrou o mercado de criptoativos ao sistema de câmbio

O Banco Central também integrou o mercado de criptoativos ao sistema de câmbio (Imagem: Chinnapong/Shutterstock)

A partir das novas resoluções, operações como pagamentos e transferências internacionais com criptomoedas, envio de ativos virtuais para carteiras autocustodiadas e compra ou venda de moedas digitais atreladas a moedas fiduciárias passam a ser tratadas como transações cambiais formais, de acordo com a nota publicada pelo BC.

As novas regras também impõem limites para transferências internacionais: quando a contraparte não for uma instituição autorizada a operar no mercado de câmbio, o valor máximo permitido será de US$ 100 mil (cerca de R$ 560 mil) por operação. 

A medida busca coibir o uso de criptomoedas em remessas de valores expressivos para o exterior sem controle regulatório, prática que vinha preocupando autoridades financeiras. 

Além disso, as empresas terão de reportar ao BC todas as operações internacionais e informar a origem e o destino dos ativos digitais envolvidos.

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Outro ponto importante é a inclusão das stablecoins – criptomoedas com valor atrelado a moedas tradicionais, como o dólar – nesse sistema regulado. 

Elas passam a fazer parte oficialmente do mercado de câmbio, embora continuem isentas da cobrança de IOF, o Imposto sobre Operações Financeiras.

O BC afirmou que a decisão sobre eventual tributação caberá à Receita Federal. Mas reforçou que a prioridade agora é padronizar e monitorar os dados dessas transações, para reduzir brechas e dar segurança jurídica ao setor.

(Essa matéria também usou informações do G1.)

Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.