Humanos têm ‘sétimo sentido’ semelhante ao de aves, segundo estudo

Pesquisa revela que os humanos conseguem detectar objetos antes mesmo do contato direto, ampliando nossa compreensão do alcance do tato
Por Bruna Barone, editado por Pedro Spadoni 12/11/2025 08h07
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É a primeira vez que o toque remoto é estudado em humanos (Imagem: Nimito/iStock)
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Seres humanos podem sentir objetos sem tocá-los, por meio de uma espécie de “sétimo sentido”. É o que revela uma pesquisa da Queen Mary University of London e do University College London, que analisou sistemas sensoriais de aves costeiras, como maçaricos e borrelhos. Os resultados fornecem evidências quantitativas de uma habilidade tátil até então desconhecida em humanos.

“É a primeira vez que o toque remoto é estudado em humanos, e isso muda nossa concepção do mundo perceptivo (o que é chamado de ‘campo receptivo’) em seres vivos”, afirmou Elisabetta Versace, professora sênior de Psicologia e líder do Laboratório Prepared Minds da Queen Mary, idealizadora dos experimentos com humanos.

As descobertas também oferecem parâmetros valiosos para o aprimoramento de tecnologias assistivas e sensores táteis em robôs. Ao utilizar a percepção humana como modelo, engenheiros podem projetar sistemas robóticos que integrem sensibilidade tátil semelhante à humana para aplicações práticas, como sondagem, escavação ou busca em ambientes com visão limitada.

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Pesquisa usou como base sistemas sensoriais de aves costeiras, como maçaricos e borrelhos (Imagem: johnemac72/iStock)

“Essas informações podem orientar o desenvolvimento de robôs avançados capazes de realizar operações delicadas, como localizar artefatos arqueológicos sem danificá-los ou explorar terrenos arenosos ou granulares, como o solo marciano ou o fundo do oceano”, disse Zhengqi Chen, estudante de doutorado do Laboratório de Robótica Avançada da Queen Mary.

O experimento

Os pesquisadores fizeram duas análises:

  • Uma com humanos para avaliar a sensibilidade da ponta dos dedos a estímulos táteis de objetos enterrados;
  • A outra um experimento utilizando um braço robótico equipado com sensores táteis e um modelo de memória de longo prazo (LSTM) para detectar a presença de objetos. 

No teste inicial, participantes moviam os dedos suavemente na areia para localizar um cubo escondido antes de tocá-lo fisicamente. Surpreendentemente, os resultados revelaram uma habilidade comparável à observada em aves costeiras, apesar de os humanos não possuírem as estruturas especializadas do bico que possibilitam esse sentido nas aves. 

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Mão humana detecta a presença de objetos enterrados ao perceber deslocamentos mínimos na areia (Imagem: krblokhin/iStock)

Os resultados mostram que as mãos humanas têm mais sensibilidade do que o esperado. Ao modelar os aspectos físicos do fenômeno, o estudo descobriu que as mãos humanas são notavelmente sensíveis, detectando a presença de objetos enterrados ao perceberem deslocamentos mínimos na areia ao redor deles. 

Essa sensibilidade se aproxima do limite físico teórico do que pode ser detectado a partir de “reflexões” mecânicas em material granular, quando há um movimento de areia que é “refletido” em uma superfície estável (o objeto escondido).

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Como se saiu o robô?

Ao comparar o desempenho humano com o de um sensor tátil robótico treinado com um algoritmo de Memória de Longo Prazo (LSTM), os humanos alcançaram uma impressionante precisão de 70,7% dentro da faixa detectável esperada. 

Curiosamente, o robô conseguiu detectar objetos a distâncias ligeiramente maiores, em média, mas frequentemente apresentou falsos positivos, resultando numa precisão geral de apenas 40%. Tanto humanos quanto robôs apresentaram desempenho muito próximo da sensibilidade máxima prevista pelos modelos físicos e pelo deslocamento. 

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Descobertas oferecem parâmetros para o aprimoramento de tecnologias assistivas e sensores táteis em robôs (Imagem: quantic69/iStock)

“O que torna esta pesquisa particularmente empolgante é a forma como os estudos com humanos e robôs se influenciaram mutuamente. É um ótimo exemplo de como a psicologia, a robótica e a inteligência artificial podem se unir, demonstrando que a colaboração multidisciplinar pode gerar tanto descobertas fundamentais quanto inovação tecnológica”, disse Lorenzo Jamone, professor associado de Robótica e IA na University College London.

Bruna Barone
Colaboração para o Olhar Digital

Bruna Barone é formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como editora, repórter e apresentadora na Rádio BandNews FM por 10 anos. Atualmente, é colaboradora no Olhar Digital.

Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.