Pantanal vive o período mais seco das últimas quatro décadas

Bioma único no mundo tem enfrentado períodos de cheias menores e secas mais severas a cada década, segundo MapBiomas 
Por Bruna Barone, editado por Pedro Spadoni 13/11/2025 09h48
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O ano de 2024 foi o mais seco de toda a série histórica; a área alagada ficou 73% abaixo da média (Imagem: Uwe-Bergwitz/iStock)
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A área anual que permanece alagada no Pantanal diminuiu 75% nos últimos 40 anos, passando de 1,6 milhão de hectares na primeira década (1985-1994) para 460 mil hectares na última (2014-2024). O levantamento foi feito pelo MapBiomas a partir da coleção de dez mapas de cobertura e uso da terra no Brasil. 

O ano de 2024 foi o mais seco de toda a série histórica – a área alagada ficou 73% abaixo da média. A última grande cheia, registrada em 2018, foi 22% mais seca do que a primeira grande cheia da série, em 1988. O bioma único no mundo tem enfrentado períodos de cheias menores e secas mais severas a cada década.

As mudanças na Planície Pantaneira se correlacionam com as transformações ocorridas no Planalto da Bacia do Alto Paraguai (BAP), onde nascem os rios que abastecem o Pantanal. Ela abrange áreas de Mato Grosso (48% da BAP, representando 19% do estado) e Mato Grosso do Sul (52% da BAP, representando 53% do estado). O bioma Pantanal corresponde à Planície, enquanto o Planalto é dividido entre o Cerrado (83%) e a Amazônia (17%).

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(Imagem: Gustavo Fonseca Eco/Shutterstock)

As alterações da cobertura vegetal foram mais intensas no Planalto, o que impacta diretamente no fluxo hídrico entre Planalto e Planície. A área natural do Planalto caiu de 72% para 46% em Mato Grosso e de 59% para 36% em Mato Grosso do Sul, o que representa uma perda total de 5,2 milhões de hectares (37%) de vegetação nativa entre 1985 e 2024. 

No mesmo período e no Planalto, a agricultura aumentou 3,8 vezes (1,4 milhão de hectares), com a soja representando 80% das áreas agrícolas. A pastagem aumentou 4,4 milhões de hectares sobre a vegetação nativa, intensificando as áreas antrópicas no Planalto. 

“As variações climáticas e precipitação na BAP determinam o pulso anual de cheias no Pantanal. A perda de Florestas e Savanas fragiliza a proteção dos solos nas cabeceiras do bioma, o que interfere no fluxo de água que chega na Planície. Em 1985, 33% do Planalto, ou sete milhões de hectares, já eram de uso antrópico. Em 2024, praticamente 60% do Planalto é antropizado”, explica Eduardo Reis Rosa, coordenador da equipe Pantanal do MapBiomas. 

Pantanal virou pasto

A condição das pastagens no Planalto também é um fator agravante que chama a atenção. Em 2024, 63% das pastagens apresentavam baixo ou médio vigor vegetativo. Nesse caso, as folhas são geralmente pequenas, menos verdes e com baixa capacidade de rebrote. Na Planície, a área natural caiu de 96% para 84% entre 1985 e 2024, com uma perda total de 1,7 milhão de hectares de vegetação nativa.

Nos últimos 40 anos, 7,5 milhões de hectares do conjunto da Bacia do Alto Paraguai foram convertidos em pasto. As áreas agropecuárias aumentaram de 21% em 1985 para 40% em 2024. Além disso, a mineração foi a atividade antrópica que mais cresceu proporcionalmente na última década no Pantanal, com um aumento de 60%.

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Nos últimos 40 anos, 7,5 milhões de hectares do conjunto da Bacia do Alto Paraguai foram convertidos em pasto (Imagem: Vladislav T. Jirousek/Shutterstock)

Leia mais:

Cronologia da crise no Pantanal

  • 1985–1994: A maior conversão de formação savânica para pastagem ocorreu nesta década. A pastagem dobrou a área existente (592 mil hectares). Foram convertidos 341 mil hectares de formação savânica, 166 mil hectares de formação florestal, 57 mil hectares de vegetação campestre e 28 mil hectares de campo alagado. O Planalto perdeu 12% de sua vegetação nativa (2,6 milhões de hectares).
  • 1995–2004: O desmatamento avançou para o interior do bioma Pantanal, com perda de 527 mil hectares de vegetação nativa, o que representa perda de 3% da vegetação nativa no bioma. No Planalto, a perda de vegetação nativa foi de 9%. 
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A área natural do Planalto caiu de 72% para 46% em Mato Grosso e de 59% para 36% em Mato Grosso do Sul (Imagem: Kelly Ventorim/Shutterstock)
  • 2005–2014: Foi observado pela primeira vez a redução da frequência de alagamentos e o adensamento lenhoso, com 350 mil hectares de formações savânicas se expandindo sobre campos e pastagens. As perdas de vegetação nativa proporcional, na Planície e no Planalto, foram de 1,5% em cada região.
  • 2015–2024: A década mais seca, com a redução de 1,2 milhão de hectares (em relação à primeira década) na área anual que permanece alagada na Planície. Nesta última década, a Planície Pantaneira perdeu mais vegetação nativa (450 mil hectares) do que o Planalto, que mantém, em 2024, 42% de áreas naturais, enquanto o Pantanal tem 84% do bioma com áreas naturais.
Bruna Barone
Colaboração para o Olhar Digital

Bruna Barone é formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como editora, repórter e apresentadora na Rádio BandNews FM por 10 anos. Atualmente, é colaboradora no Olhar Digital.

Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.

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