Satélites espiões dos EUA emitem sinais fora do padrão e geram alerta internacional

Falta de transparência em sinais de satélites espiões da SpaceX reacende debate sobre interferência internacional
Por Maurício Thomaz, editado por Layse Ventura 14/11/2025 19h39
Sinais de satélites espiões da SpaceX levantam dúvidas sobre coordenação e transparência
Sinais de satélites espiões da SpaceX levantam dúvidas sobre coordenação e transparência (Imagem: SpaceX / divulgação)
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Os satélites espiões construídos pela SpaceX para o Escritório Nacional de Reconhecimento dos Estados Unidos (NRO) passaram a emitir sinais na direção oposta ao previsto, segundo a descoberta do pesquisador Scott Tilley, no Canadá.

A constelação, chamada Starshield, conta com quase 200 unidades e foi projetada para ampliar significativamente as capacidades de vigilância do governo norte-americano. No entanto, a atividade inesperada reacendeu debates sobre interferência, regulamentação internacional e o uso de espectro radioelétrico por sistemas militares. As informações são do ArsTechnica.

Os sinais identificados são transmitidos da órbita para a Terra utilizando a faixa de 2025 a 2110 MHz – tradicionalmente reservada para comunicações Terra-espaço e espaço-espaço. Apesar de não haver relatos oficiais de interferência, a operação fora do padrão gerou preocupação entre especialistas, que apontam para falhas de coordenação e ausência de transparência por parte das autoridades responsáveis.

Sinais poderosos e descobertos por acaso

A detecção ocorreu no final de setembro, quando Tilley, um engenheiro tecnólogo e astrônomo amador, observou emissões inesperadas enquanto trabalhava em outro projeto. Ele identificou sinais provenientes de 170 satélites sobre Canadá, Estados Unidos e México – número que posteriormente subiu para 171. Por se tratar de uma constelação global, a emissão pode atingir outras regiões.

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Uso de satélites espiões da SpaceX reacendeu debates sobre interferência e regulamentação internacional (Imagem: dima_zel / iStock)

Segundo o pesquisador, o uso incorreto da banda pode interferir em sistemas sensíveis que operam nela, incluindo equipamentos da NASA, da NOAA e transmissões terrestres utilizadas por emissoras de TV. Os sinais dos satélites espiões apresentam largura de até 9 MHz e razão sinal-ruído entre 10 e 20 decibéis, intensidade suficiente para ser captada até mesmo por pequenas estações terrestres.

  • Tilley detectou emissões inesperadas em 171 dos 193 satélites conhecidos;
  • Os sinais utilizam a faixa 2025–2110 MHz, destinada a operações Terra-espaço;
  • Órgãos e especialistas alertam para ausência de coordenação internacional;
  • Não há queixas oficiais de interferência até o momento;
  • A finalidade dos sinais permanece desconhecida.

Além disso, algumas emissões mudam de frequência de um dia para o outro, o que sugere operações avançadas e ainda não esclarecidas. Embora as transmissões possam estar formalmente aprovadas dentro dos EUA em decisões internas da NTIA, especialistas afirmam que isso não substitui a necessidade de coordenação com outros países, especialmente considerando o porte da constelação e seu impacto global.

Questões regulatórias e o papel das agências espaciais

A preocupação central envolve o descumprimento das normas da União Internacional de Telecomunicações (UIT). Mesmo que não causem interferência imediata, satélites espiões transmitindo na direção errada violam o princípio de previsibilidade do ambiente radioelétrico.

No Canadá, autoridades confirmaram que não houve coordenação prévia e que não receberam queixas de interferência, mas reconheceram a necessidade de analisar o caso.

Satélites em órbita
Satélites espiões transmitindo na direção errada violam o princípio de previsibilidade do ambiente radioelétrico (Imagem: xnk/Shutterstock)

A ESA e outras agências também utilizam a mesma faixa para comunicação com satélites. Em tese, qualquer operação que utilize frequências alocadas para outra finalidade deve demonstrar compatibilidade e ser coordenada internacionalmente – o que não ocorreu no caso do Starshield.

Outro ponto destacado por Tilley é a falta de clareza sobre a função declarada dos satélites espiões. Os Estados têm obrigação de informar à ONU a finalidade dos objetos lançados ao espaço, mas o registro público do Starshield descreve suas funções de maneira extremamente vaga, sem citar aplicações militares, o que contraria o espírito das normas internacionais.

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Apesar do avanço das investigações, a SpaceX não comentou o caso. Especialistas sugerem que a empresa apenas cumpre o papel de fornecedora, enquanto o NRO opera a constelação e define os parâmetros de uso.

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O episódio reacende o debate global sobre grandes constelações militares, interferências não detectadas e o risco de tensões internacionais (Imagem: Wirestock Creators / Shutterstock)
Maurício Thomaz
Colaboração para o Olhar Digital

Jornalista com mais de 13 anos de experiência, tenho faro pela audiência e verdadeira paixão em buscar alternativas mais assertivas para a entrega do conteúdo ao usuário.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.