Famoso remédio para pressão alta surpreende ao impedir avanço de tumor cerebral

Pesquisadores descobrem que um remédio antigo para pressão alta também pode interromper o crescimento de tumores cerebrais agressivos.
Maurício Thomaz17/11/2025 20h08
Hidralazina, usada há 70 anos contra pressão alta, revela mecanismo que pode ajudar no combate a câncer cerebral
Hidralazina, usada há 70 anos contra pressão alta, revela mecanismo que pode ajudar no combate a câncer cerebral (Imagem: Triff / Shutterstock)
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Pesquisadores liderados pela Universidade da Pensilvânia descobriram que a hidralazina — um dos remédios mais antigos usados no tratamento de pressão alta — pode ter um segundo efeito significativo: interromper o crescimento de tumores cerebrais agressivos. A equipe publicou os resultados na Science Advances, revelando pela primeira vez o mecanismo molecular de ação do medicamento e sugerindo novas possibilidades terapêuticas.

Como um remédio para pressão alta atua no corpo

A hidralazina é usada há cerca de 70 anos e continua sendo um dos principais tratamentos contra hipertensão grave, especialmente em casos de pré-eclâmpsia. Apesar de amplamente utilizada, seu mecanismo de ação sempre foi um mistério. Agora, os pesquisadores identificaram que o remédio bloqueia uma enzima sensora de oxigênio chamada ADO (2-aminoethanethiol dioxygenase), responsável por indicar quando os vasos sanguíneos devem se contrair.

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A hidralazina é usada há cerca de 70 anos e continua sendo um dos principais tratamentos contra hipertensão grave (Imagem: Kwangmoozaa / Shutterstock)

O medicamento se liga ao centro metálico da ADO e impede que ela ative o “alarme” de baixa oxigenação. Com o bloqueio, proteínas reguladoras chamadas RGS deixam de ser degradadas, enviando aos vasos o sinal de interromper a contração. O resultado é a redução dos níveis de cálcio — considerado o principal regulador da tensão vascular — e, consequentemente, a dilatação dos vasos, o que diminui a pressão arterial.

Segundo os cientistas, essa descoberta abre caminho para aprimorar a segurança e a eficácia de tratamentos voltados à pressão alta, especialmente em gestantes com pré-eclâmpsia, condição responsável por até 15% das mortes maternas no mundo.

Do controle da pressão alta ao combate ao glioblastoma

O estudo também revelou uma ligação biológica inesperada entre distúrbios hipertensivos e câncer cerebral. Pesquisas anteriores já indicavam que tumores como o glioblastoma dependem da enzima ADO para sobreviver em regiões com pouco oxigênio. Entretanto, faltava um inibidor confiável para explorar essa via.

Médico segurando chapa de ressonâncias cerebrais
Pesquisa também revelou uma ligação biológica inesperada entre distúrbios hipertensivos e câncer cerebral (Imagem: sfam_photo/Shutterstock)

Com apoio de bioquímicos e neurocientistas de universidades dos EUA, os cientistas testaram a hidralazina diretamente em células de glioblastoma. As descobertas mostram que:

  • o mesmo caminho bioquímico que regula a contração dos vasos ajuda as células tumorais a sobreviver em baixa oxigenação;
  • ao bloquear a ADO, o remédio induz um estado de “senescência”, no qual as células param de se multiplicar sem gerar inflamação adicional;
  • o medicamento não age como quimioterapia tradicional, mas sim interrompe o ciclo de crescimento tumoral.

Esse comportamento sugere que o remédio para pressão alta pode atuar como um modulador biológico, abrindo uma janela para novos tratamentos contra tumores cerebrais altamente agressivos.

Próximos passos e novas possibilidades terapêuticas

Com a identificação da ADO como alvo principal, os pesquisadores planejam desenvolver novas versões do fármaco capazes de atravessar com mais eficiência a barreira hematoencefálica e agir de forma mais seletiva no tecido tumoral.

Diversas cartelas de comprimidos
Entender mecanismos antigos de medicamentos amplamente utilizados pode revelar conexões inesperadas (Imagem: DedMityay/Shutterstock)

A equipe também acredita que entender mecanismos antigos de medicamentos amplamente utilizados pode revelar conexões inesperadas entre doenças e inspirar terapias mais seguras.

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Como ressalta Megan Matthews, uma das cientistas envolvidas, é raro que um remédio cardiovascular antigo ensine algo novo sobre o cérebro — mas esses achados podem abrir portas para soluções inovadoras tanto para o câncer quanto para problemas graves de pressão alta.

Maurício Thomaz
Colaboração para o Olhar Digital

Jornalista com mais de 13 anos de experiência, tenho faro pela audiência e verdadeira paixão em buscar alternativas mais assertivas para a entrega do conteúdo ao usuário.