Disney cria robôs avançados que aprendem a cair sem sofrer danos

Nova pesquisa da Disney mostra robôs capazes de cair e pousar com segurança usando aprendizado por reforço.
Por Maurício Thomaz, editado por Lucas Soares 18/11/2025 15h06
Como a Disney treinou robôs para rolar, cair e pousar com segurança
Como a Disney treinou robôs para rolar, cair e pousar com segurança (Imagem: Youtube / Reprodução)
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A Disney, em parceria com equipes acadêmicas, apresentou um avanço importante no design de robôs bípedes ao demonstrar um sistema que ensina máquinas a cair sem sofrer danos. Pesquisa pré-publicada na arXiv aborda uma das questões mais críticas da robótica moderna: o que acontece quando robôs perdem o equilíbrio e atingem o chão. Em vez de focar apenas na prevenção de quedas, o estudo busca transformar esse momento inevitável em um processo controlado, capaz de proteger sensores, baterias e outras partes sensíveis.

O trabalho mostra que, ao compreender como e por que os robôs caem — incluindo o ponto de impacto, o nível de dano e o instante mais arriscado do movimento — é possível desenvolver mecanismos que reagirão de forma inteligente quando o colapso acontece. A proposta oferece uma alternativa para reduzir custos de reparo em laboratórios e ambientes industriais, onde quedas inesperadas são comuns e, muitas vezes, destrutivas.

É possível desenvolver mecanismos que reagirão de forma inteligente quando o colapso acontece
É possível desenvolver mecanismos que reagirão de forma inteligente quando o colapso acontece (Imagem: Youtube / Reprodução)

Por que a Disney queria robôs que caíssem melhor

Robôs que caminham sobre duas pernas conseguem navegar por terrenos irregulares e contornar obstáculos, mas continuam vulneráveis à gravidade. Modelos tradicionais costumam atingir o chão com articulações rígidas ou movimentos descontrolados, o que gera quebras e falhas estruturais. A Disney decidiu encarar o problema de outra forma: em vez de tentar impedir quedas a todo custo, a equipe passou a ensiná-los a cair melhor.

A ideia central foi criar um método capaz de absorver o impacto e proteger componentes fundamentais, como cabeça e módulos de energia. Isso exigiu mais do que ajustes na estrutura; exigiu uma estratégia que permitisse ao robô reorganizar braços e pernas durante o trajeto da queda, adotando uma postura segura antes de atingir o solo.

Para isso, os engenheiros precisaram estudar quedas reais e simulações diversas, identificando situações que representassem riscos elevados. A partir daí, o objetivo foi propor um sistema que escolhesse automaticamente, no momento do impacto, um posicionamento adequado para evitar danos.

A ideia central foi criar um método capaz de absorver o impacto e proteger componentes fundamentais, como cabeça e módulos de energia
A ideia central foi criar um método capaz de absorver o impacto e proteger componentes fundamentais, como cabeça e módulos de energia (Imagem: Youtube / Reprodução)

Como a Disney treinou robôs para cair com inteligência

O projeto utilizou aprendizado por reforço para ensinar os robôs a executar quedas controladas. Milhares de modelos virtuais passaram por simulações que variavam desde deslizamentos laterais a 2 metros por segundo até tombos frontais com rotações rápidas. A cada episódio, velocidades e forças eram aleatórias, impedindo que o sistema decorasse um único padrão fixo.

A pesquisa gerou um conjunto de 24 mil poses estáveis, testadas em quedas simuladas de altura equivalente à cintura do robô. O sistema avaliou, em cada uma, fatores como suavidade do pouso e proteção dos componentes mais sensíveis. Entre as posições escolhidas como mais eficientes havia dez criadas por artistas, incluindo agachamentos e quedas amplas que respeitavam os limites motores reais.

Durante o treinamento, 4 mil robôs virtuais caíam simultaneamente enquanto uma rede neural analisava ângulos, orientação corporal e dados de movimento. O algoritmo ajustava o comportamento quadro a quadro, enviando comandos cinquenta vezes por segundo. O método priorizava a redução de pressão de contato e configurava níveis diferentes de sensibilidade conforme a parte do corpo, mantendo as pernas mais flexíveis e a cabeça mais protegida.

O sistema final foi instalado em um robô físico de metal, com 16 quilos, pernas com molas e braços mecânicos. Um sistema de captura de movimento forneceu dados contínuos ao controlador, permitindo que a política aprendida fosse testada no mundo real.

O que o sistema de quedas inteligentes consegue fazer:

  • Permitir que robôs reajam imediatamente quando começam a cair;
  • Ajustar membros durante o trajeto para minimizar impacto;
  • Adotar poses finais projetadas para proteger áreas sensíveis;
  • Reduzir danos estruturais causados por quedas abruptas;
  • Garantir pousos mais suaves em diferentes velocidades e direções.

Testes indicam que robôs podem cair sem causar danos

Nos testes reais, o robô treinado pela Disney mostrou que quedas não precisam resultar em destruição. Em vez de se tornarem um conjunto de peças quebradas, as máquinas conseguem executar rolamentos e movimentos de autoproteção, reduzindo drasticamente o impacto. A pesquisa, publicada no repositório arXiv, indica que esse tipo de abordagem pode abrir caminho para robôs mais resistentes e funcionais em ambientes complexos.

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Maurício Thomaz
Colaboração para o Olhar Digital

Jornalista com mais de 13 anos de experiência, tenho faro pela audiência e verdadeira paixão em buscar alternativas mais assertivas para a entrega do conteúdo ao usuário.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.

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