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Um centro regional que produzia bronze em larga escala há mais de 3.500 anos faz parte do assentamento da Idade do Bronze recém-escavado acima do rio Irtysh, no nordeste do Cazaquistão. As descobertas detalhadas em um artigo na revista Antiquity Project Gallery lançam luz sobre uma fase fundamental da pré-história da Ásia Central.
Pela primeira vez, pesquisadores realizaram uma investigação aprofundada no sítio arqueológico Semiyarka, após a sua descoberta inicial no início dos anos 2000 por investigadores da Universidade de Toraighyrov, que também trabalharam na escavação mais recente ao lado de cientistas da Universidade de Durham e do University College London.
O nome do sítio significa ‘Sete Ravinas’, em referência à rede de vales que contempla. Sua localização próxima aos depósitos de cobre e estanho nas montanhas Altai, perto das fronteiras entre o Cazaquistão, a Rússia, a Mongólia e a China, a tornava ideal para a produção de bronze e para o comércio através da estepe. O tamanho e a localização do assentamento teriam permitido que ele funcionasse como um importante centro de comércio e poder regional, segundo os pesquisadores.

“Os conjuntos retilíneos e a construção potencialmente monumental demonstram que as comunidades da Idade do Bronze nesta região estavam desenvolvendo assentamentos sofisticados e planejados, semelhantes aos de seus contemporâneos em partes mais tradicionalmente ‘urbanas’ do mundo antigo”, afirmou o professor Dan Lawrence, da Universidade de Durham. “A escala e a estrutura de Semiyarka são diferentes de tudo o que já vimos na zona das estepes.”
Reescrevendo a história
Semiyarka é um vasto assentamento planejado de 140 hectares que data de cerca de 1.600 a.C., e o maior sítio arqueológico conhecido desse tipo na região. Escavações revelaram fileiras de montes de terra retangulares que outrora formavam as fundações de casas com vários cômodos.
No centro do sítio arqueológico havia um edifício muito maior, que pode ter servido como espaço comunitário ou cerimonial. Na extremidade sudeste do assentamento, a equipe descobriu uma provável zona industrial contendo uma concentração maior de cadinhos, escória e artefatos de bronze.
Essas descobertas representam a primeira evidência concreta de produção em larga escala de bronze estanífero na estepe eurasiática. E sugerem uma indústria metalúrgica altamente organizada e possivelmente centralizada. Nessa época, comunidades nômades eram comuns nas estepes (planícies sem árvores), mas evidências de assentamentos permanentes e organizados são extremamente raras.

“Semiyarka muda a forma como pensamos sobre as sociedades das estepes”, disse a autora principal da pesquisa, Dra. Miljana Radivojević, em referência a ocupação de grandes planícies. “Isso demonstra que comunidades nômades poderiam construir e manter assentamentos permanentes e organizados, centrados em uma provável indústria de grande escala – um verdadeiro ‘polo urbano’ da estepe.”
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Mais pesquisa
Atualmente, pouco se sabe sobre a produção de bronze de estanho na Idade do Bronze das estepes da Eurásia, apesar das centenas de milhares de artefatos preservados em coleções de museus. Apenas um outro assentamento no leste do Cazaquistão, um sítio de mineração da Idade do Bronze Final em Askaraly, foi associado à produção de bronze de estanho.
Em Semiyarka, artefatos metálicos acabados e fragmentos de cerâmica escavados indicam que o povo Alekseevka-Sargary habitava predominantemente o sítio arqueológico, um grupo que esteve entre os primeiros a construir moradias permanentes em assentamentos da região. Outros itens remetem ao povo Cherkaskul, outro grupo que habitava toda a região, mas que se acredita ser mais nômade, indicando que os habitantes de Semiyarka provavelmente comercializavam com esses e outros povos locais.

Os pesquisadores esperam examinar no futuro como as comunidades de Semiyarka organizavam a produção e o comércio com seus vizinhos, bem como o impacto ambiental dessas atividades. Além disso, a equipe também identificou diversos sítios funerários e assentamentos temporários próximos, da mesma época, que podem fornecer informações adicionais sobre a cultura antiga da região.
“Venho pesquisando Semiyarka há muitos anos com o apoio de financiamento nacional de pesquisa do Cazaquistão, mas esta colaboração realmente elevou nossa compreensão do sítio. Trabalhar com colegas da UCL e de Durham trouxe novos métodos e perspectivas, e estou ansioso para ver o que a próxima fase de escavação revelará agora que podemos contar com sua experiência especializada em arqueometalurgia e arqueologia da paisagem”, disse o coautor Dr. Viktor Merz, da Universidade Toraighyrov.