Sistema binário próximo sem planetas gigantes pode conter mundos habitáveis

Com região interna mais estável, o sistema estelar binário Eta Cassiopeiae se apresenta como bom alvo para a busca por vida em outros planetas
Flavia Correia24/11/2025 16h04
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A estrela Achird (Eta Cassipeiae). Crédito: Observatório Palomar / STScI / WikiSky
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Um artigo publicado no periódico científico The Astronomical Journal sugere que o sistema estelar binário Eta Cassiopeiae, que fica a apenas 19 anos-luz da Terra, pode ser mais promissor do que se pensava na busca por mundos parecidos com o nosso. Sem sinais de planetas gigantes, o local pode abrigar pequenos mundos rochosos em regiões estáveis o bastante para sustentar a vida.

Eta Cassiopeiae é formado por duas estrelas que orbitam um mesmo centro de gravidade em um ciclo de 472 anos. A maior delas é uma estrela do tipo G, semelhante ao nosso Sol, e a menor é uma estrela do tipo K, com pouco mais da metade da massa solar. Vistas da Terra, parecem um só ponto brilhante no céu.

Em resumo:

  • O sistema estelar binário Eta Cassiopeiae surge como forte candidato para busca por vida;
  • Medições do satélite Gaia revelaram massas precisas das duas estrelas companheiras;
  • Simulações testaram estabilidade orbital ao redor da estrela maior A;
  • Regiões externas instáveis teriam expulsado planetas além de oito UA;
  • Regiões internas permitem órbitas estáveis, inclusive na zona habitável;
  • Ausência de gigantes favorece futuras buscas por pequenos mundos rochosos.
Eta Cassiopeiae é um sistema estelar binário. Eta Cassiopeiae A é a grande estrela brilhante no centro da imagem. Sua estrela companheira, Eta Cassiopeiae B, está quase perdida no brilho. (Crédito da imagem: David Ritter/Wikimedia Commons)

Parte externa do sistema estelar binário é instável

Com dados da missão Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), cientistas obtiveram medições mais precisas das massas e órbitas dessas duas estrelas. O astrônomo Stephen Kane, da Universidade da Califórnia em Riverside, e sua equipe combinaram essas informações com observações feitas por um espectrômetro instalado no alto de uma montanha no Havaí, criando simulações detalhadas do comportamento de possíveis planetas ao redor da estrela maior, Eta Cassiopeiae A.

As simulações mostraram que a parte externa do sistema é instável. Qualquer planeta orbitando além de oito unidades astronômicas (UA) – ou seja, oito vezes a distância da Terra ao Sol – seria facilmente perturbado pela influência gravitacional da estrela menor. Esses mundos hipotéticos acabariam expulsos do sistema, tornando essa região praticamente vazia.

Dentro desse limite de 8 UA (cerca de 1,2 bilhão de km), a situação muda. A gravidade da estrela menor ainda interfere, mas não o suficiente para expulsar todos os planetas. Alguns objetos simulados foram empurrados para órbitas mais alongadas, porém muitos acabaram mantendo trajetórias estáveis, inclusive dentro da zona habitável da estrela maior.

Pequenos planetas rochosos podem orbitar na zona habitável

A zona habitável é a faixa em que a temperatura permite a existência de água líquida. Segundo os resultados, pequenos planetas rochosos poderiam sobreviver nessa região mesmo com algumas variações sazonais causadas por órbitas mais excêntricas. Isso mantém viva a possibilidade de que Eta Cassiopeiae A possa ter planetas similares à Terra.

Os pesquisadores destacam que sistemas assim são candidatos interessantes para futuros telescópios, como o Telescópio Extremamente Grande (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile. A comunidade científica tenta identificar quais estrelas merecem prioridade em buscas diretas por exoplanetas potencialmente habitáveis. Eta Cassiopeiae pode ser uma delas.

Um fator que reforça o interesse é a ausência de planetas gigantes. Em suas simulações, Kane e sua equipe analisaram se instrumentos atuais conseguiriam detectar gigantes gasosos pelo método da velocidade radial, que mede pequenas oscilações na luz da estrela causadas pela gravidade de um planeta. Não encontraram nenhum sinal desse tipo.

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Falta de mundos gigantes pode ser ponto positivo

Se existisse um planeta gigante em torno de Eta Cassiopeiae A, especialmente perto do limite de 8 UA, sua presença seria perceptível nos dados. Como nenhum sinal foi detectado e como regiões externas são instáveis demais para sustentar esses planetas, os cientistas concluíram que o sistema deve ser realmente desprovido de gigantes.

A ausência desses mundos enormes pode ser um ponto positivo. Em sistemas onde planetas gigantes têm órbitas excêntricas, eles podem atravessar a região interna e desestabilizar planetas menores. Isso dificultaria a existência de mundos rochosos estáveis, reduzindo as chances de vida. Sem gigantes perturbando o ambiente, Eta Cassiopeiae A pode oferecer condições mais tranquilas para pequenos planetas.

Localização da estrela binária Achird (Eta Cassiopeiae). Crédito: Stellarium

Mesmo assim, nada garante que planetas habitáveis realmente existam ali. O estudo indica apenas que o sistema tem condições favoráveis para abrigá-los. Para saber a verdade, será necessário observar Eta Cassiopeiae com equipamentos mais potentes e sensíveis.

Para Kane e seus colegas, essa investigação vale a pena. Em um universo cheio de possibilidades, encontrar sistemas estáveis e próximos como Eta Cassiopeiae é uma oportunidade rara. Se houver mundos parecidos com o nosso ali, eles podem finalmente ser revelados pelas próximas gerações de telescópios.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.