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O X/Twitter começou a exibir dados de origem e histórico de contas com o recurso “Sobre esta conta” no fim de semana. E o impacto foi instantâneo e caótico. Caçadores de trolls, jornalistas e “detetives online” usaram o recurso para mapear supostas redes de influência, enquanto críticas surgiram sobre erros de localização e riscos de exposição.
A rede social chegou a remover parte dos dados, sob alegação de imprecisão, o que alimentou ainda mais as suspeitas. No fim, o lançamento reforçou o conflito entre transparência, desinformação e desconfiança sobre tecnologia que já circula em redes sociais há bastante tempo.
Novo recurso expõe redes políticas do X/Twitter que operam fora dos EUA
O “Sobre esta conta” exibe dados como local de criação, mudanças de nome de usuário e país associado ao perfil. É uma tentativa de reduzir interações inautênticas e dificultar a atuação de contas automatizadas e trolls, como o próprio X já vinha defendendo desde o anúncio inicial do recurso, em outubro.

O lançamento confirmou uma questão sobre a qual já se falava (e suspeitava) há muito tempo: parte das contas mais ativas em debates políticos americanos não está nos Estados Unidos.
Assim que a função apareceu para mais usuários, perfis que inflamavam discussões pró-MAGA (sigla de Make America Great Again, slogan sedimentado por Donald Trump) chamaram atenção por estarem ligados a países distantes dos EUA, segundo o The Verge.
Contas que se apresentavam como “patriotas” norte-americanas, como perfis com estética nacionalista, rage-bait e imagens de mulheres conservadoras “independentes”, foram rastreadas a países como Nigéria, Bangladesh e Tailândia.
Num caso relatado por usuários, até um perfil com selo de “verificado” que se passava pelo ex-oficial de imigração Tom Homan foi localizado fora dos EUA.
Para analistas que estudam campanhas de influência estrangeira, o pano de fundo não surpreende, de acordo com o Verge. Desde a era das “granjas” russas no Twitter, a estratégia segue dois caminhos:
- Operações de influência de estados buscando semear caos político;
- Contas que lucram com engajamento, especialmente graças ao modelo de monetização do X, que hoje pode ser financeiramente atrativo para usuários em países em desenvolvimento.
A diferença agora é que a própria plataforma passa a expor a localização dessas contas. Mesmo que, por enquanto, de forma desajeitada.
Falhas, imprecisões e transparência que levaram a mais desconfiança
A enxurrada de exposições rapidamente se misturou ao caos. Usuários correram para apontar contas suspeitas, enquanto outros começaram a acusar adversários políticos de serem “agentes estrangeiros”, mesmo sem evidências técnicas.

Logo surgiram relatos de dados imprecisos. E o próprio X admitiu que havia “arestas para aparar”, especialmente em contas antigas. A plataforma chegou a remover temporariamente informações como o local de criação do perfil, alegando que o dado “não estava 100% preciso”.
O X também passou a adicionar ressalvas: viagens, uso de VPN e conexões por proxies podem alterar a localização exibida. Isso já era apontado como risco desde a liberação inicial do recurso, quando a plataforma ofereceu opções de ocultar país ou mostrar apenas região em casos de possível ameaça à liberdade de expressão.
A empresa promete um sistema de alerta que avisará quando a localização parecer mascarada, mas sem previsão definida.
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No meio do tumulto, até contas oficiais se tornaram alvo de teorias. Capturas de tela supostamente mostravam que o Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) estava localizado em Tel Aviv, cidade localizada em Israel, segundo a NBC.
A conta teve de desmentir publicamente, afirmando que “nunca operou fora dos Estados Unidos”. E Nikita Bier, head de produto do X/Twitter, classificou as imagens como “mídia manipulada” e negou que localizações estivessem disponíveis para perfis governamentais.
O episódio virou um retrato do momento: um recurso criado para expor falsificação de identidade alimentou ainda mais suspeitas – e um debate político movido por prints, recortes e interpretações apressadas.
(Essa matéria também usou informações do New York Times e TechCrunch.)