Incidente com astronautas “presos” no espaço altera contrato entre a NASA e a Boeing

A Boeing foi contratada pela NASA para seis missões tripuladas à ISS, mas problemas com o primeiro voo mudaram os planos
Flavia Correia25/11/2025 13h49
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Contrato entre a NASA e a Boeing é modificado após incidente com astronautas presos e outras falhas. Crédito: Imagem gerada por IA/Gemini
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Uma missão tripulada da NASA que deveria durar apenas 10 dias acabou se estendendo por cerca de nove meses – com acompanhamento intenso da mídia mundial. Entre junho de 2024 e março deste ano, os astronautas Sunita Williams e Butch Wilmore permaneceram “presos no espaço” porque a cápsula Starliner, da Boeing, apresentou falhas no sistema de propulsão, retornando sozinha à Terra e deixando os dois na Estação Espacial Internacional (ISS) até que fosse possível organizar uma nova forma de trazê-los de volta.

O episódio levou a NASA a rever o contrato firmado com a Boeing em 2014, que previa até seis voos tripulados para transportar astronautas de e para a ISS. Agora, o escopo será reduzido: a Boeing deverá realizar somente quatro missões tripuladas garantidas, enquanto as duas restantes ficarão como opcionais, dependendo da demanda operacional da estação espacial ao longo dos próximos anos.

Barry "Buch" Wilmore e Sunita "Suni" Williams, os astronautas da NASA que estão "presos" no espaço após problemas com a nave Starliner, da Boeing
Barry “Buch” Wilmore e Sunita “Suni” Williams, os astronautas da NASA que permaneceram 9 meses em missão prolongada no espaço após problemas com a nave Starliner, da Boeing. Crédito: NASA

Em resumo:

  • Falhas na cápsula Starliner, da Boeing, estendem missão da NASA muito além do programado;
  • Somado a outros problemas, o incidente levou à revisão do contrato da agência com a Boeing;
  • Próximo voo da Starliner será sem tripulação para validar atualizações críticas;
  • Os planos são ajustados considerando segurança e desativação futura da ISS.

O que mudou no acordo entre a NASA e a Boeing

Como parte dessa reestruturação, a NASA anunciou que a próxima missão da Starliner – prevista para abril de 2026 – ocorrerá sem astronautas. Chamada de Starliner-1, ela levará apenas carga e suprimentos. Segundo a agência, o objetivo é testar em voo as atualizações implementadas desde o conturbado Teste de Voo Tripulado 1, quando as falhas do sistema impediram o retorno de Wilmore e Williams à Terra.

Eles só conseguiram voltar em março de 2025, “de carona” em uma cápsula Dragon, da SpaceX – curiosamente, empresa concorrente da Boeing, que já transporta astronautas da NASA de forma regular desde 2020 e tornou-se peça essencial do programa espacial dos EUA, especialmente diante dos atrasos acumulados pela Starliner durante as fases de desenvolvimento e testes.

Esses atrasos incluem o primeiro voo não tripulado, em 2019, que falhou ao tentar alcançar a ISS, com um novo teste ocorrendo apenas em 2022. O voo tripulado de 2024 também acabou marcado por dificuldades, resultando no longo período extra de Williams e Wilmore no espaço. Desde então, engenheiros da Boeing têm trabalhado intensamente para solucionar os problemas do sistema de propulsão.

Foto mostra a cápsula da Starliner, da Boeing, atracada na Estação Espacial Internacional
Cápsula Starliner, da Boeing, atracada na ISS. Crédito: NASA

De acordo com Steve Stich, gerente do Programa de Tripulação Comercial da NASA, os testes continuam rigorosos e devem prosseguir ao longo de 2026. Ele afirma que a modificação no contrato permite que a agência priorize a certificação segura da Starliner antes de autorizar novas missões com astronautas. A primeira rotação de tripulação só ocorrerá quando a nave estiver totalmente pronta e alinhada às necessidades operacionais da ISS.

Essa reorganização também considera o calendário final da estação espacial. A NASA prevê desativar a ISS em 2030, encerrando mais de três décadas de presença humana contínua no laboratório orbital. Conforme noticiado pelo Olhar Digital, a estrutura de 450 toneladas será guiada para uma reentrada controlada, desintegrando-se sobre o Oceano Pacífico. Os fragmentos restantes devem cair na região conhecida como Ponto Nemo, o “cemitério de espaçonaves” utilizado por várias agências espaciais.

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Além de Williams e Wilmore, há outros casos de astronautas que ficaram “presos no espaço” – como aconteceu recentemente com os chineses Chen Dong, Chen Zhongrui e Wang Jie, membros da missão Shenzhou-20, que precisaram ficar na estação espacial Tiangong um pouco mais que o planejado.

O que obrigou a permanência dos taikonautas por uma semana além do previsto foi uma possível colisão com lixo espacial que danificou a cápsula de retorno do trio. Mas, não são apenas problemas técnicos nas espaçonaves que mantêm astronautas retidos. Veja outras situações aqui.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.